SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O Conselho Deliberativo do Corinthians abriu uma nova investigação para apurar suspeitas de desvio e revenda irregular de ingressos ligados ao programa Fiel Torcedor.
A apuração envolve possíveis irregularidades ocorridas durante a gestão do presidente Osmar Stabile.
A decisão de instaurar o procedimento partiu de Romeu Tuma Júnior, presidente do Conselho Deliberativo do Timão, após receber uma série de denúncias e informações que apontam uso indevido de acessos e movimentações fora do padrão no sistema de controle de ingressos do clube.
De acordo com os relatos analisados, os desvios envolveriam tanto as cortesias quanto ingressos destinados a associados do Fiel Torcedor, que teriam sido direcionados para revenda ilegal.
DENÚNCIAS INCLUEM O CAMAROTE FIELZONE
Uma das denúncias envolve o camarote FielZone. Prints de conversas, que circularam nas redes sociais, apontam a suposta venda irregular de ingressos através de uma pessoa chamada Guilherme Feitosa.
A reportagem entrou em contato com a assessoria do FielZone, que afirmou que o suposto funcionário apresentado nos prints não tinha autorização para comercializar ingressos, nem estava cadastrado na operação oficial do camarote.
A Soccer Hospitality informa que o sr. Guilherme Feitosa não é nem nunca foi colaborador, direto ou indireto, do Fiel Zone e que o proprietário Leo Rizzo nunca ouviu falar desta pessoa.Diz a nota
CARGA DE INGRESSOS ACIMA DO CONTRATO
A reportagem também teve acesso ao controle de ingressos referentes ao jogo da semifinal da Copa do Brasil contra o Cruzeiro e à partida de ida da final, diante do Vasco. Contra a Raposa foram destinados 700 ingressos ao FielZone, no setor Oeste Inferior Corner da Neo Química Arena.
O número é 200 ingressos acima do previsto em contrato, que estabelece uma carga padrão de 500 entradas para o camarote e a quantidade excedente foi autorizada para comercialização frente a um histórico de baixa procura e dificuldade de venda no espaço destinado.
Procurado, Léo Rizzo, proprietário da Soccer Hospitality, empresa responsável pela gestão do espaço, afirmou que solicitou formalmente a carga adicional por e-mail aos responsáveis pela gestão da arena. Segundo ele, o pedido foi autorizado.
Durante a apuração, o UOL teve acesso a autorização dada institucionalmente pela administração da Neo Química Arena em resposta ao e-mail enviado pela equipe do FielZone
Já para o jogo contra o Vasco, pela final da Copa do Brasil, Rizzo afirmou que optou por trabalhar apenas com os 500 ingressos previstos em contrato, citando o curto prazo disponível para a comercialização.
A reportagem apurou que o valor no qual os bilhetes do camarote foram vendidos por R$ 390 mais 10% do valor da hospitalidade, com o preço total do acesso girando em torno de R$ 500.
A operação final do FielZone no jogo contra o Cruzeiro rendeu um lucro de pouco mais de R$ 100 mil ao Timão.
Em resposta enviada à reportagem, o Corinthians informou que "recebeu formalmente o pedido de 200 ingressos do camarote FielZone e comercializou a quantidade a preço de face".
Já a Soccer Hospitality afirmou que "não há nenhuma vedação contratual à aquisição de mais entradas pela empresa, se o clube e o FielZone entenderem que é um bom acordo para ambas as partes".
APURAÇÃO INTERNA E RESPONSÁVEIS
Internamente, a investigação do Conselho Deliberativo atinge diferentes setores do clube, com atenção especial à cadeia de responsabilidade pela destinação dos ingressos em jogos dentro e fora de casa.
Nesse contexto, o nome de Ricardo Okabe aparece como o responsável pela definição da distribuição dos ingressos.
Relatos internos ouvidos pela reportagem indicam que Okabe é visto por funcionários e conselheiros como uma figura central nas decisões operacionais, atuando como representante direto do presidente Osmar Stabile em diferentes áreas do clube.
PREOCUPAÇÃO COM O FIEL TORCEDOR
Em contato com a reportagem, Romeu Tuma Júnior disse ver as denúncias com preocupação, mas afirmou confiar no esclarecimento dos fatos.
Há uma grande preocupação com as denúncias, mas também a convicção de que, com a cooperação da diretoria executiva, a verdade vai aparecer. Caso irregularidades sejam confirmadas, os responsáveis precisarão ser punidos.Tuma, ao UOL
O presidente do Conselho destacou que o momento é sensível, já que o órgão deverá decidir se o programa Fiel Torcedor terá direito a voto na reforma do Estatuto do clube.
Segundo Tuma, a existência de fraudes poderia impactar discussões como a possibilidade de considerar o tempo de cadastro dos associados para as próximas eleições.
É fundamental ter segurança sobre a integridade do sistema e sobre a gestão do programa.Tuma