SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O 2025 sem títulos do Palmeiras, justamente no ano de maior investimento no futebol, fez ecoarem vozes de oposição à atual diretoria, abafadas nas temporadas anteriores com o sucesso esportivo da equipe.
Dispersos e sem grande capacidade de articulação nos últimos anos, os grupos de oposição à presidente Leila Pereira viram na falta de retorno aos cerca de R$ 700 milhões investidos a chance de se unir para contestar o projeto da dirigente de buscar um terceiro mandato no clube.
O desejo de Leila depende de uma mudança estatutária, alvo de críticas mesmo entre alguns apoiadores. Atualmente, é possível apenas uma reeleição no time alviverde. O segundo mandato da atual presidente vai até o fim de 2027.
A ambição da dirigente, que a manteria na cadeira até 2030, ganhou o rótulo de "golpe" pela oposição.
"Nosso estatuto prevê a possibilidade de alteração. Não existe golpe quando o Conselho decide e os associados ratificam isso", defendeu a dirigente.
Ela citou o poderoso clube espanhol Real Madrid, de forma irônica, para rebater as críticas de quem defende a alternância na presidência. "Essa questão de alternância de poder não acontece no Real Madrid. O presidente está lá há 20 anos. O Real Madrid é um clube pequeno, sabe? E nem um pouco vitorioso..."
Não foi vitorioso o 2025 do Palmeiras, com duras derrotas para o Corinthians, tradicional arquirrival, e para o Flamengo, principal oponente nas disputas dos últimos anos.
Desde que Leila assumiu a presidência, em dezembro de 2021, este foi o primeiro ano sem a adição de troféus à galeria alviverde. A última chance desperdiçada foi na final da Copa Libertadores, em novembro, 1 a 0 para o Flamengo.
O fracasso na tentativa de buscar o tetra na competição continental se somou ao vice no Campeonato Brasileiro -também com Flamengo campeão- e a duas pancadas do Corinthians: na decisão do Campeonato Paulista e nas oitavas de final da Copa do Brasil, cujo título ficaria com o alvinegro. Na Copa do Mundo de Clubes, uma campanha irregular foi interrompida nas quartas de final, pelo Chelsea.
Na ocasião da perda do troféu estadual para o rival preto e branco, torcedores criticaram o comportamento de Leila na entrega da taça de vice-campeão aos atletas. "Pelo sorriso, ganharam o Mundial que estava faltando", ironizaram, nas redes sociais.
As frustrações levaram Leila a fazer um longo desabafo, de pouco mais de dez minutos, aos conselheiros do clube presentes na reunião para aprovação do orçamento para 2026, realizada neste mês.
A presidente admitiu que ficou com um "gosto amargo" após a derrota para o Flamengo na Libertadores e não poupou críticas ao próprio elenco. A maior bronca foi com o fato de o time comandado por Abel Ferreira, que teve seu vínculo estendido recentemente até 2027, não ter acertado um chute na direção do gol durante a decisão.
"Como que eu posso querer ganhar a Libertadores se meus jogadores não deram um chute a gol? Vocês conhecem alguma forma de ganhar um jogo sem gol? Eu não conheço. Agora, não posso falar isso fora, senão vou chatear meus atletas? Não. Tem que falar, sim. A responsabilidade é deles, não é minha. Eu fiz o que eu pude", afirmou Leila.
"Investi o que eu pude, mas eles não tiveram a capacidade de dar um chute a gol", acrescentou a dirigente, que destacou ainda tropeços nas rodadas finais do Campeonato Brasileiro -contra Mirassol (derrota), Vitória e Fluminense (empates em casa)- que custaram o título nacional.
"Como que pode, dentro da minha casa, no Allianz Parque, eu não vencer o Vitória? Foi por causa do meu elenco? Óbvio que não. Meu sub-20 tinha que ganhar do Vitória. Como que eu não ganho na minha casa do Fluminense? Não foi incapacidade nossa? Claro que foi", reclamou.
O último título conquistado pelo Palmeiras foi o Paulista de 2024. Depois, naquele ano, em temporada em que investiu R$ 193 milhões em reforços, também amargou fracassos em competições nacionais e internacionais.
O desabafo de Leila se tornou arma para seus opositores dentro do Palmeiras. Para evitar que seus rivais consigam se unir a ponto de prejudicar suas ambições, ela buscou apoio de velhos conhecidos da política palmeirense.
Dois ex-presidentes do clube têm atuado pela viabilizar a mudança no estatuto, Mustafá Contursi (1993 a 2005) e Arnaldo Tirone (2011 a 2013). Ambos ainda são bastante influentes entre conselheiros do Palmeiras.
A alteração no estatuto requer maioria em votação do Conselho Deliberativo e maioria também em votação com todos os associados do clube. Na eleição presidencial mais recente, no ano passado, Leila venceu com facilidade seu único opositor, Savério Orlandi, no filtro do Conselho (168 a 85) e na Assembleia Geral (2.295 a 858).
Agora, a oposição tenta se unir para frear a nova investida da empresária.