Meu reino por uma rivalidade

Ailton Alves Ailton Alves 03/12/2007

foto de um campo de futebol Como no samba-can??o de Carlos Roberto Pimenta e Adilson Tavares, t?o bem interpretado nas noites e no CD por Giuliana Giudice, o Baeta voltou a jogar ("...O dia ? sagrado, levanta mais cedo, me faz um agrado..."). E de forma profissional.

No distante ano de 1999, quando o s?culo estava acabando, depois de longa e sentida aus?ncia no cen?rio esportivo local, o Tupynamb?s j? havia tentado voltar, timidamente, a campo. Montou um time com ex-jogadores do Tupi, de v?rzea e desempregados e ganhou, com relativa dificuldade mas de forma incontest?vel, o Torneio Regional. Por?m, torneio vencido, a ta?a foi guardada e o time, desmontado. N?o era a hora, ainda, de dar tratos ? bola e seguir adiante. Culpa, em parte, dos pr?prios torcedores, que n?o prestigiaram o esfor?o da diretoria. Na verdade, a torcida baeta, catalogada como a maior, ? tamb?m a mais acomodada. ? aguerrida, orgulhosa, aquela que bate no peito e diz "perde mas ? bronca", mas agiu, naquela oportunidade, como se o time fosse, definitivamente, uma coisa do passado.

Agora, neste segundo semestre de 2007, come?o de s?culo, eles, os torcedores do baeta, s?o todos muito jovens, mal sa?dos da casa de duas d?cadas de exist?ncia. Percebe-se. No ?nibus, a caminho do est?dio, fazem algazarra demais, na ?nsia de demostrar apre?o por um time que, sim, agora existe, n?o ? mais apenas o espectro daquilo que pais e av?s contavam.

Este carij?, que a tudo presencia, evoca reminisc?ncias pr?prias. J? se vai pouco menos de um quarto de s?culo que de nada vi e de muito fiquei f?.

Louvo aquela tarde que me deu o Galo, no terreiro inimigo.

No dia seguinte ao da minha chegada a Juiz de Fora, em 1983, cl?ssico no est?dio Jos? Pais Soares: Tupynamb?s x Tupi. O jogo foi, dos muitos que j? assisti, um dos piores. Um horror de zero a zero, que faria qualquer crist?o praguejar na sexta-feira santa. Por?m ali estava, em estado bruto, o que nunca vou entender completamente: os mist?rios de uma paix?o - consolidada, pelo Galo - e o fasc?nio de uma rivalidade.

Da paix?o nunca quis manter dist?ncia. Mesmo quando o Tupi parecia fugir de mim, mantive essa estranha forma de sobreviv?ncia, tentando provar que valeria a pena reaproximar, de novo, de novo, de novo... Mesmo quando o rio decidiu correr em sentido contr?rio, os caminhos j? estavam tra?ados, assim como perpetuadas as lembran?as. Os carij?s nunca se abalaram com a minha insist?ncia - eles ? que me fizeram tremer, em outras circunst?ncias. Hoje, o terreno pavimentado pela inconseq??ncia ? o campo satisfeito da mem?ria.

A rivalidade, essa foi se afastando de n?s, com o seguido desaparecimento de Tupynamb?s e Sport. Reinamos absolutos nos campos da cidade.

Agora dou meu reino por uma rivalidade. Em nome disso, arrisco um bom conselho, de gra?a, embora ningu?m tenha me pedido: insistam, baetas, nesse sonho. N?o s?o f?ceis as coisas, carecem de seguir a sua ordem natural, mas o Tupynamb?s est?, enfim, apto a seguir sua sina. Se experi?ncia em competi?es lhe falta, basta primar pela persist?ncia, para adquirir sincronia com o rival. N?o acreditem nas teses, erradas, de que Juiz de Fora ? pequena demais para dois times, que a fus?o dos clubes ? a sa?da para o futebol local, que o mais importante ? o fortalecimento do esporte da cidade e coisas do g?nero. Tudo bobagem. O que vai contar, doravante, ?, a cada rodada, uma vit?ria nossa, combinada com um derrota de voc?s, e vice-versa.

O empate de domingo, com o Passense, foi s? um percal?o. ? assim o jogo da bola. Tudo o que acontecer dentro das quatro linhas ficar? aqu?m da beleza vinda das arquibancadas. Uma beleza rara de quem n?o tem e nem ter? mais nenhum receio de se mostrar despreparado para a festa do futebol e para um time que s? agora voltou a existir. N?o falo dos estandartes, pequenos e m?dios, e nem da enorme bandeira que os jovens se encarregaram de fazer ocupar todos os espa?os. Falo do torpor interno e dos movimentos externos, mais conhecidos como orgulho.

Mas isso n?o se percebe ? primeira vista. S? com o passar do tempo, aos assistentes neutros chega a percep??o ?nica do momento: o Le?o voltou a rugir.

Que sejam bem-vindos, sempre, mas nunca esperem qualquer triunfo sobre o Tupi. V?o ficar no desejo, que afinal ? o sentimento que move o mundo - tamb?m o da bola.


Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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