Os zagueiros est?o sempre errados

Ailton Alves Ailton Alves 19/05/2008

Escudos dos times de futebol Flamengo, Internacional, Ipatinga e Vasco da Gama Sou do tempo em que a Vale n?o visava apenas o lucro. Era ainda a Vale do Rio Doce e patrocinava dois clubes de futebol profissional: a Desportiva de Vit?ria (hoje com outro nome) e o Valeriodoce de Itabira (atualmente amargando a Segunda Divis?o de Minas). E apoiava dezenas de equipes amadoras das Gerais e do Esp?rito Santo. T?nhamos, os moradores de localidades servidas pela Estrada de Ferro Vit?ria-Minas, no m?nimo, renovados jogos de camisa para ostentarmos nos gramados.

Para n?s, os filhos de ferrovi?rios, a vida era mais tranq?ila ainda. A Vale do Rio Doce disponibilizava, em cada cidade que cheg?vamos, quadras esportivas e, a cada Natal, ganh?vamos lindas bolas de futebol. Al?m disso, t?nhamos passe-livre no Expresso que nos levava ?s praias capixabas ou ? capital de todos os mineiros.

Nossa exist?ncia foi forjada, desde sempre, em todos os tipos de viagens. A primeira e mais forte era essa, a de trem. A estrada de ferro tinha seus dormentes firmes, presos por vincos igualmente fortes, e um rumo inalterado. ?ramos treinados e dominados por essa certeza inabal?vel. Brinc?vamos de fechar os olhos por 20, 25 minutos e adivinhar em que parte do trecho est?vamos: reta que vai dar na Galil?ia, pontilh?o sobre o Rio Guatituba, t?nel pr?ximo ao campo do Itueta, o apito antes da perigosa curva de Resplendor...

Todo esse exerc?cio de mem?ria, a despeito de hoje n?o me servir para absolutamente nada, deixou-me marca indel?vel: a cria??o de um mundo ?nico, acima do mal e dos "estranhos", representados pelas fam?lias dos comerci?rios e dos banc?rios - em tudo o contraponto dos ferrovi?rios.

E isso se refletia no futebol. Essa nossa quase soberba fazia com que jog?ssemos soltos e as vit?rias vinham com facilidade espantosa.

Por?m, como na vida, no futebol ? quase certo que as coisas um dia d?em errado.

Certa vez, em Aimor?s, divisa de Minas com o Esp?rito Santo, jogavam Ferrovi?rio e Comercial, chamados pelos torcedores rivais de "beira de linha" e "turma do balc?o" por motivos ?bvios. L? pelas tantas, bola jogada na ?rea, o zagueiro do Ferrovi?rio (alto, mas de poucos recursos futebol?sticos) pressentiu a presen?a do centroavante do Comercial (bom de bola, mas baixinho). O beque, ent?o, vendo a estatura dos dois, chutou a pelota para o alto na esperan?a de que seu goleiro viesse peg?-la - naquela ?poca isso era permitido pelas regras. Mas nada.

O zagueiro repetiu a cena duas vezes e... nada: nem o goleiro recolheu a bola e nem o atacante desistiu. A?, aconteceu o inusitado. O baixinho, cansado daquilo, subiu como um jogador de basquete pronto para fazer uma cesta, agarrou a bola, p?s no ch?o, chutou para as redes e saiu comemorando. O juiz, inexplicavelmente, talvez para punir o zagueiro e o antijogo praticado, validou o tento.

O zagueiro - que por acaso ? este que vos fala - ficou com cara de bobo. Preparou-se para reclamar com o juiz, quando ouviu a reprimenda de seu pr?prio t?cnico: "Bem feito! Quem mandou ficar brincando com a bola dentro da ?rea?".

Ficou provado, nesse lance, que a inoc?ncia um dia se perde e que os zagueiros sempre erram - muito menos, ? claro, do que um presidente da Rep?blica (Fernando Henrique Cardoso, vulgo FHC) que nunca jogou bola mas que vendeu a Vale do Rio Doce como se a mem?ria afetiva da gente fosse t?o somente um cacho de banana.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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