O torcedor que n?o estava l?

Ailton Alves Ailton Alves 14/07/2008

Pela primeira vez, em anos e anos (que nessa altura da vida parecem s?culos e s?culos) n?o vi um jogo do Tupi disputado em Juiz de Fora. Tinha, at? ent?o, por h?bito, esperar a divulga??o da tabela do campeonato (qualquer campeonato) e marcar na agenda as partidas do Galo. Fazia quest?o de riscar, na p?gina reservada ao dia do jogo, de ponta a ponta, do minuto em que o dia come?ava ao badalo da meia-noite.

Era algo neur?tico, eu admito, mas n?o podia, n?o queria e n?o arriscava comprometer a ida ao est?dio por qualquer outra atividade. Mas, neste domingo n?o deu. N?o que a passagem do tempo me afrouxe, nunca por des?nimo depois daquela p?ssima apresenta??o carij? de quarta-feira (no empate com o Ituiutaba). Nada disso. Compromissos profissionais realmente inadi?veis me fizeram sentir como o personagem de Billy Bob Thornton naquele filme dos irm?os Coen: "O homem que n?o estava l?".

Imagem ilustrativa do escudo do Tupi N?o foi poss?vel acompanhar em tempo real pela Internet, nem ligar para celulares de amigos que, sabia, tinha certeza, estavam no est?dio e muito menos ouvir muita coisa pelo r?dio. O min?sculo aparelho Kchibo - velho de guerra e de outras jornadas - estava no bolso direito da cal?a, queimando como uma esp?cie de azia e sem entender o por qu? de ter sido relegado dessa forma.

S? foi poss?vel lan?ar m?o desse maravilhoso invento de Marconi em quatro oportunidades. Em todas elas fingindo que o aparelho era um celular, e com cara de quem estava recebendo uma informa??o t?o surpreendente que n?o havia como responder.

No primeiro contato com as ondas do r?dio, o locutor informou, sem d? ou piedade, que o Mirassol vencia por 1 a 0. Assumi a culpa. "Obviamente, se eu estivesse l? o placar n?o seria esse. O Tupi nunca sofre gols t?o r?pidos assim quando estou no est?dio - se a bola chega ?s nossas redes tem outra explica??o, sobrenatural, ou ent?o por responsabilidade ?nica e exclusiva dos ?rbitros mal intencionados que n?o marcaram um impedimento ou uma falta do advers?rio".

Na segunda vez que apertei o bot?o que faz o r?dio falar, o locutor narrava, acho que em tempo real, que Allan chutou a bola por entre as pernas do goleiro para empatar a partida. Assumi a culpa. "N?o ver ao vivo um gol desses, com o nosso atacante humilhando o arqueiro advers?rio, ? perder uma chance de ouro, ? como ir a Roma e n?o ver o Papa".

Na terceira oportunidade que usei o aparelho de r?dio como se celular fosse, estava no intervalo da partida e o comentarista - v? se pode? - demorou uma eternidade para dizer o ?bvio: que o Tupi foi para o vesti?rio em vantagem no placar. Sim, a informa??o, quase sonegada aos torcedores aflitos que n?o estavam l?, era simples e cristalina como a ?gua da nascente do Rio Doce: o Galo havia virado o jogo com outro gol de Allan. Assumi a culpa. "Allan n?o anda jogando bem e v?-lo fazer dois gols num jogo s? me faria voltar aos velhos tempos quando o considerava o ?nico salvador".

Na derradeira chance de ouvir o que o Est?dio M?rio Hel?nio via, estava para acontecer uma cobran?a de falta, dessas perigosas, de gelar a alma, na entrada da ?rea, a favor do Mirassol. Esqueci a culpa. Esperei o chute do atacante advers?rio e tenho certeza: mesmo a quil?metros de dist?ncia, ajudei o nosso goleiro a segurar a bola com firmeza.

Agora s? faltam presumidamente nove jogos e provavelmente 42 dias para o Tupi garantir vaga na super S?rie C de 2009.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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