Na v?rzea, o solo ? sempre sagrado
Em "Cavaleiro Solit?rio" (Pale Rider - o inesquec?vel filme de Clint Eastwood), a mocinha, com sensibilidade ? flor da pele, diz para o cavaleiro - um morto, um fantasma, que volta ? vida para fazer triunfar a verdade e a justi?a - que seu cachorro est? enterrado em determinado local. Ele, com uma voz cavernosa, do passado, decreta: "Ent?o ? solo sagrado".
Lembrei-me da cena (minha cultura ? essencialmente cinematogr?fica) no domingo, quando passei pelas imedia?es do Esporte Clube S?o Carlos, no Bairro de Lourdes. Foi l?, h? exatos oito anos - quando o clube completava 50 anos de gl?rias -, que percebi, pela primeira vez, um fato extremamente curioso: todos os campos de v?rzea s?o carecas, sem grama.
O S?o Carlos ? assim. Do alto do varand?o do clube, ?s voltas com o 58? anivers?rio, a vista do campo ? essa, magn?fica. Parece uma pista de gelo, com apenas alguns tufos de grama verde, na ponta direita de quem ataca para o gol da cidade.
Nunca entendi porque falta grama nos campos de v?rzea.
Talvez por que o solo seja sagrado. E guarda em suas entranhas n?o um cachorro, ou um sapo - animal mais "?ntimo" dos campos de futebol e raz?o concreta de fracassos renitentes - mas sonhos. Em alguns casos, est?o enterradas ali e em qualquer campo de v?rzea da cidade, para sempre, a esperan?a de ser algu?m no mundo da bola e todas as expectativas de grandeza.
Mas, independente dessa ang?stia, s? percebida por quem procura mundo onde s? existe uma bola, o futebol de v?rzea ? cheio de surpresas. E a cada domingo, novos personagens surgem, dando bons e maus exemplos de amor ao esporte.
? um mundo ? parte, de jogos an?nimos mas espetaculares, presenciados por uma torcida n?o menos fant?stica. Quem j? observou, sabe como ela se comporta. O juiz ? bom, mas, claro, que ? praxe xing?-lo o tempo todo. Cerveja na m?o, alguns b?bados querem contar fatos que nunca existiram. Outros escondem pequenas fa?anhas, por mod?stia ou por medo do descr?dito.
Os campos, al?m da falta de grama, ostentam redes furadas e, em sua maioria, n?o possuem alambrados. E os jogadores t?m momentos de triunfo ou de constrangimento, mas raramente perdem a esportiva. Quando acontece, o atleta que destoa do clima reinante fica marcado para todo o sempre.
Certa vez, no campo do Grot?o, vi uma cena dessas, de quem n?o sabe jogar bola. Perdendo por 3 a 0 o tal jogador simplesmente isolou a pelota para longe, muito longe, do campo. Diante da rea??o negativa dos demais atletas, disse que errou o chute mas todos perceberam que ele, da forma mais antip?tica poss?vel, tentou "melar" a partida, estragar a brincadeira.
Vi certa vez, no Mineir?o, o grande lateral-direito Nelinho "avacalhar" um jogo. Ele simplesmente pegou a bola no seu setor de campo e deu um chut?o para fora. A torcida do Cruzeiro, o t?cnico e a imprensa ficaram furiosos. E acredito, at? hoje, que este lance provocou a sa?da do craque da Toca da Raposa, indo brilhar no rival Atl?tico.
Menos mal que naquele dia, l? no Grot?o, um jogador do time que vencia o jogo tomou uma atitude magn?nima. Ele n?o reclamou, n?o recriminou o advers?rio, n?o quis briga. Apenas desembestou morro abaixo atr?s da bola. Voltou em minutos, triunfante, com a pelota debaixo do bra?o, entregou-a ao juiz e gritou: "Vamos recome?ar a partida".
Um gesto sagrado, de grande valor esportivo.
O Tupi perdeu feio, muito feio, do Mirassol. Apesar disso, faltam presumidamente oito jogos e provavelmente 35 dias para o Tupi garantir vaga na super S?rie C de 2009.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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