A volta do filho pr?digo

Ailton Alves Ailton Alves 04/08/2008

Depois de quase cinco anos, Welington Fajardo est? de volta ao Tupi. Vi, como rep?rter, seus primeiros passos em Santa Terezinha, no incrivelmente distante janeiro de 2001 e suas muitas vit?rias no M?rio Hel?nio. E vi tamb?m, ent?o como torcedor, a ?ltima vez em que ele tentou nos guiar ? Gl?ria. Foi em 5 de novembro de 2003, o dia em que esquecemos o que aprendemos com Otto Lara Rezende, via Nelson Rodrigues: "O mineiro s? ? solid?rio no c?ncer". Naquela data - Dia Nacional do Cinema e anivers?rio de morte de Humberto Mauro, o mais mineiro dos artistas - um outro (nascido em qualquer parte dessas Minas Gerais, que s?o v?rias) nos ensinou que n?s, dessa terra sem mar e sem sal, n?o somos solid?rios nem na dor.

Naquele jogo contra o Bragantino, pela fase decisiva do Campeonato Brasileiro da Terceira Divis?o, quando aquela bola sobrou na entrada da ?rea para o meio-campista Jairo, duvidei que ele fosse acertar o chute - o jogador estava com os dois p?s fora do ch?o, sem equil?brio, e nem era um voleio. Mas ele acertou. Depois acreditei que a bola fosse tocar em algu?m: zagueiros desesperados ou atacantes afoitos. Mas n?o esbarrou em ningu?m. Por fim, temi que o goleiro segurasse a pelota - ele j? estava na trajet?ria e preparado para a tarefa. Enganei-me de novo: a bola estufou as redes.

E nesse momento, como sou escaldado no assunto e propenso a nunca acreditar na felicidade, olhei para o bandeirinha antes de come?ar a comemorar. Fiz o certo. Ele estava l?, est?tico, com o bast?o levantado, pronto para acabar com a "repentina explos?o dos carij?s", apontando um (Justo? Injusto? N?o importa...) impedimento. Era naquele momento o mineiro mais paulista, mais Bragan?a, mais nobre, mais detest?vel que j? conheci.

Esses caras vivem para produzir tristezas, pensei. T?m prazer nisso, exagerei. O que lhe custava validar o gol, indaguei, esquecendo minha responsabilidade com supostas verdades. Qual seria o problema? Se o gol fosse contabilizado a favor do Tupi, os jogadores do Bragantino talvez reclamassem, mas por pouco tempo. E transferir?amos toda essa frustra??o para Bragan?a Paulista, cidade que n?o conhe?o e nem quero conhecer, da qual s? sei que produz ling?i?a. Grande coisa!!!

Mas n?o. A tristeza que aquele mineiro produziu ficou em Minas, como se a gente precisasse de mais. O protagonista foi embora, umas tr?s horas depois do fato consumado e acredito que tenha dormido bem naquela noite. N?s n?o. Ficamos com as chagas daquela trag?dia e vira e mexe vamos nos lembrar daquele lance como se ele fosse capital para o bom prosseguimento das nossas vidas.

E pior que isso. Aqueles que produzem tristezas tamb?m plantam injusti?as. N?o demorou muito e come?amos a duvidar e esquecer de outras certezas que, antes do jogo, eram t?o cristalinas como dogmas. Mas se desmancharam no ar em apenas 90 minutos.

Aquele jogo e suas conseq??ncias fizeram com que Welington Fajardo fosse embora.

Agora, como um filho pr?digo, est? de volta. Para apagar da mem?ria partidas como aquela e nos levar a um destino aparentemente improv?vel: o de sermos grandes.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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