As ondas que atingem os craques
Salvo engano (n?o vi toda a partida de ontem, entre a sele??o brasileira e a Venezuela) a tarde foi de Kak?. Vejo agora, ? noite, no indefect?vel "Gols do Fant?stico", que ele marcou um belo gol e, segundo amigos nos quais confio, fez belas jogadas diante dos - diga-se de passagem - inexpressivos venezuelanos, e finalmente reencontrou o seu belo futebol.
Digo isso e j? me arrependo. S? reencontra algo quem perdeu alguma coisa. E n?o ? o caso de Kak?. Essa onda toda, que come?ou h? cerca de seis meses, de que ele estava em m? fase n?o passou disso: uma onda. Ele pode n?o ter "acabado" com os jogos, como era mais ou menos comum, mas nesse per?odo, sinceramente, n?o vi Kak? jogar efetivamente mal.
S?o estranhas, essas ondas, e na maioria das vezes n?o refletem a realidade das coisas. E s?o localizadas, n?o surgem em todos os mares.
Na sele??o brasileira, esse tipo de onda ganha aspecto de um tsunami e atinge muitos jogadores medianos e at? alguns craques.
Edmundo, o eterno vasca?no, j? foi v?tima, j? foi injusti?ado. N?o jogou a Copa de 1994 (per?odo em que deu ao Palmeiras o bicampeonato brasileiro) e teve poucas chances em 1998 (ap?s a temporada de ouro de 1997). Os inimigos dizem, com a maior cara de pau, que ele n?o ? jogador de sele??o. E citam uma partida perdida no tempo contra a Col?mbia, quando o animal n?o jogou nem metade do que joga normalmente contra qualquer advers?rio. E escancaram relembrando aquele jogo contra Marrocos, na Copa da Fran?a, quando ele, na oportunidade que teve, literalmente trope?ou na bola. Esquecem, ? claro, que ele era a ?nica op??o poss?vel na decis?o, quando Ronaldinho teve aquela coisa inexplic?vel at? hoje.
Os c?ticos, pelo menos, concedem que Edmundo atuou bem uma ?nica vez vestindo a camisa amarela. Foi em Wembley, quando o Brasil ganhou um daqueles torneios que os ingleses adoram promover.
Se eles, os inimigos e os c?ticos, conseguirem provar, com o tempo, a tese de que Edmundo nunca foi feliz com a amarelinha, resta o consolo de saber que ele n?o ser? o primeiro craque brasileiro a sofrer com isso.
Certa vez, G?rson, o Canhotinha de Ouro, no tempo em que gostava de levar vantagem em tudo, cismou que Zico tamb?m n?o era jogador de sele??o. Muita gente boa concordou com ele e o tempo, que ? o senhor da raz?o, acabou por desmenti-lo. N?o sei de onde G?rson, uma pessoa que entende muito de futebol, tirou isso, pois o maior craque da hist?ria do Flamengo nunca lhe deu chances de pensar dessa maneira.
Enquanto esse revisionismo futuro n?o chega, pensamos no presente, em Kak?. Talvez a explica??o para a onda que atingiu o craque do Milan esteja na raiz de quem "faz a cabe?a" da torcida.
Em S?o Paulo, onde se tem a an?lise futebol?stica mais s?ria do pa?s, decretou-se que Kak? poderia jogar mais do que vinha jogando e todo mundo "embarcou", achando que o ele n?o era merecedor do t?tulo de melhor jogador do mundo.
Mas, n?o deixa de ser interessante essa onda, o que ela produz e o que poderia provocar se mudasse de praia. Imagine alguns analistas do Rio de Janeiro, aqueles que acham que todo mundo que joga no futebol carioca ? craque, se deparando com uma "boa fase" de Kak?. E imagine tamb?m alguns paulistas, que foram rigorosos com Kak?, passando uma temporada dando notas para Jorge Henrique, Ronaldo Angelin, Arouca e Leandro Bonfim.
A? eles iam ver o que ? bom para tosse - e ruim para os olhos.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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