N?o existe mais camisa 10
? mais ou menos comum, de uma rotina de dar d?, perder as coisas, para sempre, no futebol e na vida. E s? depois que se v?o, as coisas, damos conta do valor delas e ficamos nesse absurdo saudosismo, como quem vive num mundo de sonhos do passado, de um dia, tarde ou noite do ver?o, inverno, outono ou primavera.
Pel? est? completando 68 anos de idade, nesta quinta-feira, dia 23. Maradona chega aos 48 anos no dia 30, na quinta-feira da outra semana. S?o os dois representantes m?ximos da camisa 10, aquela que n?o existe mais no futebol.
Ainda ontem, cutucado por uma reportagem que li n?o sei mais onde e vendo lances espa?ados de S?o Paulo x Palmeiras me lembrei disso. Pedro Rocha, pelo tricolor paulista, e Ademir da Guia, dos lados do Parque Antarctica, eram, em um tempo que parece desgra?adamente longe demais, ?os? donos da camisa dez. Zico (n?o por acaso eternizado numa m?sica ?bvia, sobre um tal ?camisa 10 da G?vea?), Dirceu Lopes, Rivelino e tanto outros tamb?m s?o exemplares desse status, que cham?vamos, ao meu tempo, de meia-esquerda. Roberto Dinamite tamb?m vestia a dez, a jaqueta que "tinha cheiro de gol", mas era centroavante.
Mas, como ia dizendo, Pedro Rocha e Ademir da Guia ? n?o por acaso chamado de Divino, al?m de filho de outro da Guia, o Domingos ?, eram os maestros. Zico executava, tinha uma precis?o absoluta em passes e cobran?a de faltas, e Rivelino era dono de uma explos?o e de um chute inigual?vel. O uruguaio Pedro Rocha armava, conduzia a bola como se a pelota fizesse parte de seus p?s. Ademir era a eleg?ncia em pessoa, tinha tanta leveza que, parecia, n?o precisava de redes, as traves, j? que os seus chutes a gol eram na medida o bastante apenas para cruzar a linha fatal.
Eram, Rocha e Da Guia, herdeiros do mais famoso camisa 10, o Pel?, e foram sucedidos, ? altura, por o segundo melhor 10 da hist?ria: Maradona.
Pel? eternizou o n?mero por acaso. Na Copa de 1958, ningu?m na delega??o brasileira pensou em fazer essa distin??o e algu?m da FIFA distribuiu aleatoriamente as camisas e impingiu o 10 ?quele que seria o maior jogador do mundo.
Maradona foi 10 por causa de Pel? e talvez de Rocha ? n?o certamente em homenagem a Kempes, que era o 10 anterior argentino, mais afeito, no entanto, ao estilo Dinamite, embora tenha sido decisivo na conquista da Copa de 1978.
Por destino, acaso, sorte ou por mania de copiar, a verdade, no entanto, ? que Pel? e Maradona (e seus dignos representantes na terra do futebol, Pedro Rocha, Ademir Da Guia, Zico, Dirceu Lopes e Rivelino) s?o os grandes culpados da situa??o. Transformaram um n?mero que n?o era nada, representava apenas a primeira dezena, depois dos nove fora, em algo m?tico. Pena que seja passado. Hoje n?o existe mais camisa 10.
Joguei certa vez, l? pelas bandas da Galil?ia, num clube muito estranho. Por conta, ?nica e exclusivamente, das idiossincrasias do treinador os n?meros nas camisas eram grafados em algarismo romano. Como zagueiro, atuava com III ?s costas. Ningu?m, por raz?es ?bvias de sermos adolescentes, queria vestir a camisa 5, com medo de que o V fosse mal interpretado. O meia-esquerda, aquele que deveria ser o maestro do time, o suposto camisa 10 jogava com um enigm?tico X a lhe acompanhar. N?o tinha nenhuma gra?a ou romantismo.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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