Ele voltou
Depois de exatos tr?s meses, 29 dias, quatro horas e 22 minutos voltei ao Est?dio Municipal Radialista M?rio Hel?nio, para ver um jogo do Tupi. Mas isso n?o tem import?ncia alguma, n?o muda em nada o rumo da humanidade. O que conta, o que interessa mesmo, ? um outro retorno, de algu?m que j? fez hist?ria naquele est?dio e que estava (e ainda est?) sem balan?ar as redes daquele peda?o de ch?o h? quase quatro meses, um ter?o de ano.
E ele voltou de forma abrupta, n?o foi nada planejado. "Esquentava o banco de reservas" (como se diz l? na Galil?ia), "comia o jil? amargo da exist?ncia" (como escreve, vez por outra, o meu bom amigo Xico S?), remoia a ingratid?o caracter?stica dos torcedores mais injustos que insatisfeitos (como todo freq?entador de arquibancada faz quest?o de ser), quando foi requisitado pelo t?cnico Welington Fajardo.
N?o havia transcorrido nem mesmo a primeira meia-hora de jogo, quando Allan (falo de Allan, ? claro, que desde janeiro de 2006 ? o principal personagem do Est?dio M?rio Hel?nio) jogou fora, talvez para sempre, o colete que identifica os reservas e, junto com Marquinhos Alagoano, nem precisou aquecer para entrar em campo.
N?o foi, entretanto, uma entrada triunfal. O Tupi perdia o jogo para o Villa Nova e identifiquei, aqui e ali, alguns focos de irrita??o entre os torcedores. Allan entrou no lugar de Rafael Toledo. Logo no lugar de Toledo que, como todos sabemos, ? filho e neto de carij?s ilustres. N?s, os adeptos do Galo - como de resto boa parte da humanidade - temos essa queda por fam?lia, tradi??o, e queremos porque queremos que Toledo d? certo em Santa Terezinha.
Mas, quando Allan adentrou o gramado est?vamos, os carij?s presentes ao est?dio, como personagens de um filme de Fassbinder: um grupo de pessoas em sil?ncio profundo. O Tupi jogava muito mal, perdia - repito - a partida e estava prestes a levar o segundo gol, que nos eliminaria da decis?o da Ta?a Minas.
Eu (o personagem insignificante citado no in?cio dessas mal tra?adas), confesso, pensei em ir embora, para nunca mais voltar. S? n?o tomei tal atitude extremada porque descobri ali, quando a chuva se preparava para cair, que a ang?stia n?o era s? minha. Se tem uma coisa que os jogos do Galo me ensinou foi isso: n?s, carij?s - como de resto boa parte da humanidade - estamos acostumados a uma ang?stia coletiva.
A chuva, ent?o, caiu, por um quarto de hora. S? quando cessou, e S?o Pedro enviou aquele trov?o (o mais forte que j? ouvi), ? que percebemos que a ?gua havia lavado o medo da elimina??o.
N?o tardou nada e Allan recebeu a bola diante do goleiro advers?rio. Ele (como sempre faz) abdicou da possibilidade de marcar o gol para cair e de forma espalhafatosa (como sempre) pedir o p?nalti. Menos mal que, falta n?o marcada, ele (como sempre) foi esperto o bastante para, mesmo no ch?o, tocar a pelota para Marquinhos Alagoano empatar a partida.
O lance seguinte demorou menos ainda. Ademilson cruzou a bola em dire??o ? intermedi?ria. Allan (como sempre faz) se antecipou ao zagueiro, dominou a pelota, e, ato cont?nuo, tocou com precis?o para Robson marcar o segundo gol.
Vit?ria e classifica??o asseguradas, Allan ainda deu dois ou tr?s passes preciosos para os companheiros e Henrique fez um gola?o. Mas, sinceramente, n?o precisava mais. Tudo j? estava bom demais para um retorno.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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