Torre de Babel
Talvez os sobrinhos estejam certos, ao pedir de presente de Natal camisas do Manchester United, Werder Bremen ou Panathinakos. Talvez os afilhados estejam certos, ao monopolizar o controle remoto da TV, invariavelmente centrado nos canais de esporte que transmitem Portsmouth x Aston Villa ou Getafe x Villarreal. Segundo eles - esses adolescentes, quase crian?as - a? est? o mapa da mina, onde se v?, hoje em dia, um bom futebol. Citam, na defesa de suas manias, a organiza??o, a tradi??o, os uniformes bonitos e os craques.
N?o se deve duvidar da juventude, at? porque eles n?o aceitam que se duvide de suas certezas absolutas, mas como sou da Galil?ia (a terra de S?o Tom?) sempre ? bom ver para crer.
Neste ano, por falta de tempo ou de interesse, n?o tinha ainda efetivamente parado para ver futebol internacional, muito menos o da Europa, com aqueles times com muita tradi??o, mas nenhuma raiz, nenhum craque formado em casa, que parecem a vers?o futebol?stica da Torre de Babel. ? cada vez mais escasso, de uns dez anos para c?, ver jogadores italianos nos grandes times da It?lia, espanh?is no Real Madrid ou Barcelona e principalmente atletas brit?nicos nos clubes ingleses.
"? como ver uma sele??o mundial, vestida com a camisa de um clube", dizem os jovens. "? como matar um clube, enxertando-o com n?mades da bola e relegando os jogadores locais", rebatem os velhos.
Mas, como ia escrevendo, no domingo parei efetivamente para ver uma partida internacional. "E j? que ? para ser 'internacional' que seja do campeonato ingl?s, de longe o mais globalizado", pensei. Arsenal x Liverpool passava em dois canais.
Com cinco minutos de jogo, foi preciso recorrer ?s revistas especializadas. Quem s?o esses quatro defensores do Arsenal, todos negros com aspecto e vigor de africanos? Os dois laterais s?o franceses, de ?ltima gera??o, e os dois zagueiros vem da Costa do Marfim - descubro na publica??o. No meio-de-campo tem um espanhol e um brasileiro, mas quem se destaca, l? na frente, ? um togol?s alto e forte, que, no melhor estilo do futebol ingl?s, atua como uma torre, aparando as bolas para os companheiros.
No Liverpool, time da terra dos Beatles, s?o apenas dois os ingleses: o zagueiro Carragher e o meio-campista Gerrard. O brasileiro Lucas est? por l?, assim como o argentino Ins?a e um bando de jogadores da Espanha (pa?s que, at? onde sabia, n?o exportava tanto assim).
Mas... Confesso, o jogo muito bom - onde h? craques h? bom futebol, embora a quest?o n?o seja definitivamente essa - e teve dois gols espetaculares.
O do Arsenal surgiu de um lan?amento genial de uns 40 metros, de um jovem franc?s, Samir Nasri. A bola encontrou o peito do holand?s Van Persie, que dominou a pelota de forma magistral, enganou o zagueiro e estufou as redes do Liverpool - guardadas por um espanhol.
Gostei mais, no entanto, do gol de empate do Liverpool. Nasceu de um chut?o da defesa que encontrou o irland?s Robbie Keane sozinho na linha intermedi?ria. Ele empreendeu uma correria, deixou que a bola quicasse duas vezes e fuzilou o goleiro advers?rio - tamb?m um espanhol.
"Claro que o gol do Arsenal foi mais bonito", dir?o os jovens e os torcedores de bom senso. "Mas o tento do Liverpool foi mais aut?ntico, um t?pico gol brit?nico em um campeonato que, afinal, ainda ? ingl?s", dir?o os preocupados com a originalidade das coisas.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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