O passado vive em mim
Meus escassos leitores andam a reclamar de mim. Dizem, abertamente, que, via de regra, n?o sou muito afeito ao presente e ao futuro (do futebol). Que, invariavelmente, s? me interesso pelo passado (do esporte). Em suma: que sou um decadente ranzinza doido para (querer) decretar que o velho morreu e o novo ainda n?o nasceu. Assumo a decad?ncia, mas n?o o conceito.
Mas... pensava nisso, no que alguns pensam
de mim, por essas mal tra?adas cr?nicas semanais para o Acessa.com,
quando ouvi Paulinho da Viola (vasca?no como eu) dizer no bel?ssimo document?rio
sobre a sua vida e obra: "Eu n?o vivo de passado. O passado vive em mim"
.
Por sina, outras incr?veis coincid?ncias foram se acumulando nestes dias angustiantes do per?odo entre o Noite Feliz, Noite de Paz e o Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo:
- Estreou num grande jornal brasileiro um genial personagem de quadrinhos chamado Stanislau, um velho que vive a invocar e exortar seus fantasmas do passado;
- Um canal de televis?o come?ou uma s?rie de programas, chamados Jogos para Sempre, sobre as grandes partidas de futebol do passado;
- Passou, tamb?m na tela pequena, o filme Sonhos do Passado, que deu a Jack Lennon um merecido Oscar por sua atua??o como algu?m que assusta seus contempor?neos com lembran?as de coisas que nunca mais voltar?o;
- A Prefeitura de Juiz de Fora inaugurou, nesta segunda-feira, dia 29 de dezembro, no Est?dio Municipal Radialista M?rio Hel?nio, uma mini-galeria de fotos com os esquadr?es do passado, de Tupi, Sport e Tupynamb?s ? ocasi?o na qual Geraldo Magela Tavares, do alto de seus 82 anos, fez um discurso carregado no mais alto grau de nostalgia (s? permitido aos grandes homens como ele), citando, inclusive, a escala??o do Galo de 1966, o time conhecido como o Fantasma do Mineir?o.
E ? coincid?ncia das coincid?ncias ? n?o foi outro o assunto na reuni?o familiar em torno da mesa de Natal que esse: passado e presente (do futebol). ?ramos um bando
de vasca?nos (pai, m?e, duas irm?s, dois sobrinhos, uma sobrinha e este vos fala) num lamento sem fim pela queda do Vasco para a segunda divis?o. Para cada relato
dram?tico ("Quando vi Edmundo sair de campo com a cabe?a encoberta pela camisa desabei.
Chorei tr?s horas seguidas"
) vinha uma constata??o baseada na hist?ria ("Nunca vi um craque jogar tanta bola ? nem Pel? ? como Edmundo no tricampeonato de 1997"
). E todo exagero passional ("se meu pai fosse vivo, morreria de desgosto"
) era contrastado
por um absurdo ficcional (quase morri quando Sorato fez aquele gol no Morumbi, contra
o poderoso S?o Paulo, no bicampeonato de 1989).
Cruzeirenses, flamenguistas e torcedores do Internacional (os ?nicos que disputaram todas as edi?es da Primeira Divis?o), podem acreditar: est?vamos felizes com as
lembran?as. At? que dois irm?os ? atleticanos desde sempre, implicantes por natureza
e cru?is como nunca ?, cansados daquilo tudo, resolveram interferir. "Quem vive de
passado ? museu"
, disse um. "Se o Vasco n?o subir de novo imediatamente, como fizeram Atl?tico, Palmeiras, Botafogo e Gr?mio esses quatro t?tulos nacionais v?o ficar cada
vez mais apenas na mem?ria"
, completou o outro.
Tratamos, n?s os vasca?nos, rapidinho de mudar de assunto. Afinal, a crise mundial, os novos ataques de Israel aos palestinos e as maldades da Patr?cia Pilar na novela das oito s?o muito mais importantes que futebol.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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