Ailton Alves Ailton Alves 22/6/2009

A segunda chance

uma bola no espaçoNo futebol e na vida todo mundo tem direito a uma segunda chance. Digo isso não porque o homem está de novo pensando em ir à Lua, exatamente 40 anos depois da vez pioneira, para, quem sabe, consertar ou dar uma nova conotação à frase dita naquela oportunidade (“Esse é um grande passo para a humanidade...”). Nada disso. Reafirmo o dito mais ou menos popular porque o personagem da rodada do Campeonato Brasileiro teve isso: uma segunda chance, aproveitada, depois de ter feito uma grande bobagem na primeira vez.

Jogavam, em Florianópolis, Avaí e Fluminense. E o time catarinense abriu logo dois gols de vantagem. Não foi a primeira vez. Em três das seis rodadas anteriores, o clube azul e branco já havia dado à torcida falsas esperanças de uma vitória fácil. Mas, assim como Atlético mineiro, Coritiba e Barueri, o tricolor carioca frustrou os torcedores do Avaí.

Então, partida empatada, varreu a ilha uma nova perspectiva de calamidade, talvez de intensidade idêntica a das chuvas recentes: a de que o simpático Avaí, time do não menos simpático tenista Gustavo Kuerten, não fosse capaz de vencer ninguém e diante disso só restaria a seus adeptos esperar o campeonato acabar para voltar à Segunda Divisão – de onde tinha saído no ano passado, depois de 30 anos sem figurar na elite do futebol nacional.

Não era outro, senão esse, o sentimento geral aos 43 minutos do segundo tempo, quando o meio-campista Léo Gago avançou com a bola dominada, intermediária adiante. A defesa do Fluminense estava surpreendentemente desorganizada e dois jogadores de azul e branco passaram correndo ao largo, um à direita e o outro à esquerda, pedindo desesperadamente o passe. Era o melhor a ser feito e, se concretizado, poderia dar ao Avaí a chance de vitória.

Não foi isso o que aconteceu. Não se sabe o que passou na cabeça de Léo Gago. O fato é que ele preferiu chutar a gol, de longe, muito longe e desperdiçar a oportunidade de ouro que se oferecia naquele lance.

Mais resignados que irritados, os torcedores do Avaí começaram a deixar o estádio. Foram trazidos de volta quatro minutos depois quando o mesmo Léo Gago avançou com a bola dominada, intermediária adiante. Desta vez a defesa do Fluminense estava muito bem postada e nenhum de seus companheiros passou ao largo, pedindo a pelota.

Não se sabe ao certo o que passou na cabeça de Léo Gago, mas é fácil imaginar. Naqueles segundos fatais, aos 47 minutos do segundo tempo, ele teve que pensar nas duas opções possíveis: ou passava a bola e se redimia da bobagem inicial ou arriscava de novo o chute e corria o grande risco de perder uma segunda chance de ouro. Preferiu a segunda alternativa. A bola estufou as redes e o Avaí ganhou o jogo.

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Antes dos chutes de Léo Gago, li nas folhas um diálogo interessante, num quadrinho do personagem Chico Bacon, de Caco Galhardo:

- Já fiz muita bobagem na vida. Perdi todas as chances.
- Espero que ao menos tenha aprendido alguma coisa.
– Aprendi sim, que a vida é assim mesmo.



Ailton Alves é jornalista e cronista esportivo
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