As coisas comuns

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As coisas comuns

Ailton Alves 07/07/2008

Por mais que gostemos de Juiz de Fora (e gostamos muito), temos que admitir que o local que escolhemos para viver ? uma cidade absolutamente comum. Os mesmos amadores nos botecos nos finais de semana e os profissionais durante os demais dias. Os mesmos papos no Cal?ad?o, nos s?bados de manh?. Os postes sujos de an?ncios de caravanas para o Maracan? e a correria desenfreada, no domingo ? tarde, para casa ou para os bares, a fim de ver, pela televis?o, os jogos de Vasco Flamengo, Fluminense e Botafogo (exatamente como em qualquer cidade do interior do Piau?).

E ? justamente no futebol - que ? o assunto que a minha insignific?ncia me permite retratar - que fica mais claro a caracter?stica comum de Juiz de Fora, com o in?cio da S?rie C do campeonato brasileiro, n?o por acaso chamado de "o torneio dos jogos perdidos".

Por mais que amemos o Tupi (e amamos muito), temos que admitir que aquele que escolhemos para torcer ? um time absolutamente comum. Paix?o ? parte, come?amos a disputar a Terceirona nacional com outros 62 clubes sem nenhuma garantia - a menor que seja - de sucesso.

No ano passado, por exemplo, fomos eliminados na primeira fase ap?s um empate com um tal Jaguar?, do Esp?rito Santo. E quando fomos mais longe, em 1997, a vaga foi perdida para o Sampaio Corr?a, do Maranh?o.

Esse vi?s ordin?rio, no entanto, ? o que transforma a S?rie C no melhor campeonato de futebol do planeta. Cidades e times comuns na depend?ncia de uma bola para viver momentos extraordin?rios.

Ser t?o comum, qualquer um, portanto, ? ter um destino ainda n?o tra?ado, em aberto. Por ora, Juiz de Fora e o Tupi t?m as mesmas chances que Bauru e o Noroeste, Rio Preto da Eva e o Holanda, Lucas do Rio Verde e o Luverdense. Ser?o todos tratados, pelos de cima, os da S?rie A e B, com indiferen?a e, na maioria das vezes, desprezo. At? que no dia 23 de novembro, quatro desses times comuns, de cidades relegadas a terceiro plano, subam um degrau, sejam promovidos com louvor, por m?ritos pr?prios.

Antes disso, os adeptos dos times das cidades comuns v?o torcer por etapas, de acordo com a ambi??o, a racionalidade e a paix?o de cada um. Primeiro ? preciso passar pela primeira fase, justificar a presen?a na Terceirona. Depois se qualificar, na segunda fase, para a S?rie C de 2009 e ao mesmo tempo fugir da S?rie D - que ser? disputada pela primeira vez no ano que vem e j? nasce com a alcunha de algo parecido com fundo de po?o. Em seguida, na terceira etapa, vir? o per?odo de distens?o, em que aos perdedores ser? reservado apenas o limbo. Por fim, aos vencedores, o almejado octogonal final, onde nada ser? imposs?vel, tudo permitido - inclusive sonhar.

Durante todo esse tempo, ? bem prov?vel que a imprensa nacional registre, num canto de p?gina, com uma ponta de deboche, que apenas oito pessoas assistiram ?guia de Marab? x Bacabal ou que toda a popula??o de Santa Cruz do Capibaribe compareceu ao est?dio para ver o time local, o glorioso Ypiranga, enfrentar o ASA de Arapiraca.

Em Juiz de Fora, ficaremos no meio termo. N?s, os carij?s, somos obstinados, mas alternamos momentos de euforia com des?nimo. Tudo bem apropriado para quem sabe que a vit?ria n?o vem com gritos ou apenas torcida. ? prerrogativa ?nica dos incomuns deuses da bola.

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N?o h? nada mais comum do que uma contagem regressiva, essa tentativa de fazer o tempo passar. Ent?o, apesar da derrota para o Noroeste, faltam presumidamente 11 jogos e provavelmente 49 dias para o Tupi garantir vaga na super S?rie C de 2009.

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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