As coisas comuns
As coisas comuns
Por mais que gostemos de Juiz de Fora (e gostamos muito), temos que admitir que o local que escolhemos para viver ? uma cidade absolutamente comum. Os mesmos amadores nos botecos nos finais de semana e os profissionais durante os demais dias. Os mesmos papos no Cal?ad?o, nos s?bados de manh?. Os postes sujos de an?ncios de caravanas para o Maracan? e a correria desenfreada, no domingo ? tarde, para casa ou para os bares, a fim de ver, pela televis?o, os jogos de Vasco Flamengo, Fluminense e Botafogo (exatamente como em qualquer cidade do interior do Piau?).
E ? justamente no futebol - que ? o assunto que a minha insignific?ncia me permite retratar - que fica mais claro a caracter?stica comum de Juiz de Fora, com o in?cio da S?rie C do campeonato brasileiro, n?o por acaso chamado de "o torneio dos jogos perdidos".
No ano passado, por exemplo, fomos eliminados na primeira fase ap?s um empate com um tal Jaguar?, do Esp?rito Santo. E quando fomos mais longe, em 1997, a vaga foi perdida para o Sampaio Corr?a, do Maranh?o.
Esse vi?s ordin?rio, no entanto, ? o que transforma a S?rie C no melhor campeonato de futebol do planeta. Cidades e times comuns na depend?ncia de uma bola para viver momentos extraordin?rios.
Ser t?o comum, qualquer um, portanto, ? ter um destino ainda n?o tra?ado, em aberto. Por ora, Juiz de Fora e o Tupi t?m as mesmas chances que Bauru e o Noroeste, Rio Preto da Eva e o Holanda, Lucas do Rio Verde e o Luverdense. Ser?o todos tratados, pelos de cima, os da S?rie A e B, com indiferen?a e, na maioria das vezes, desprezo. At? que no dia 23 de novembro, quatro desses times comuns, de cidades relegadas a terceiro plano, subam um degrau, sejam promovidos com louvor, por m?ritos pr?prios.
Antes disso, os adeptos dos times das cidades comuns v?o torcer por etapas, de acordo com a ambi??o, a racionalidade e a paix?o de cada um. Primeiro ? preciso passar pela primeira fase, justificar a presen?a na Terceirona. Depois se qualificar, na segunda fase, para a S?rie C de 2009 e ao mesmo tempo fugir da S?rie D - que ser? disputada pela primeira vez no ano que vem e j? nasce com a alcunha de algo parecido com fundo de po?o. Em seguida, na terceira etapa, vir? o per?odo de distens?o, em que aos perdedores ser? reservado apenas o limbo. Por fim, aos vencedores, o almejado octogonal final, onde nada ser? imposs?vel, tudo permitido - inclusive sonhar.
Durante todo esse tempo, ? bem prov?vel que a imprensa nacional registre, num canto de p?gina, com uma ponta de deboche, que apenas oito pessoas assistiram ?guia de Marab? x Bacabal ou que toda a popula??o de Santa Cruz do Capibaribe compareceu ao est?dio para ver o time local, o glorioso Ypiranga, enfrentar o ASA de Arapiraca.
Em Juiz de Fora, ficaremos no meio termo. N?s, os carij?s, somos obstinados, mas alternamos momentos de euforia com des?nimo. Tudo bem apropriado para quem sabe que a vit?ria n?o vem com gritos ou apenas torcida. ? prerrogativa ?nica dos incomuns deuses da bola.
***N?o h? nada mais comum do que uma contagem regressiva, essa tentativa de fazer o tempo passar. Ent?o, apesar da derrota para o Noroeste, faltam presumidamente 11 jogos e provavelmente 49 dias para o Tupi garantir vaga na super S?rie C de 2009.
Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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