Rodolfito, o chimpanz? com saudades

22/10/04

Ol?, crian?ada!

O meu nome ? Rodolfito e eu trabalho no circo. Vivo viajando por a?. Eu gosto muito quando as crian?as riem das minhas travessuras, porque eu adoro crian?as. Mas n?o gosto nada de circo.

Na verdade eu detesto circos.

Eu mesmo ainda sou um macaco-crian?a, ou melhor, um Chimpanz?-crian?a e n?o tenho nem quatro anos. Sou ainda uma crian?a porque, n?s chimpanz?s, vivemos mais ou menos 27 aninhos. Agora eu queria que voc?s prestassem bastante aten??o, porque eu vou contar a hist?ria de como vim parar nesse circo.

Antes de trabalhar aqui eu vivia na floresta com o papai Antonito, a mam?e Rozanita, os meus titios, minha vov?, e dois irm?os mais velhos que eu e claro com todo o resto da macacada.

L? em casa era sempre uma festa, uma alegria, com a bicharada toda se divertindo muito, pulando de galho em galho, comendo folhinhas, frutas e fazendo o maior alvoro?o, vivendo em total liberdade. O que eu mais gostava de fazer, al?m de ficar no colinho da mam?e, era catar piolhos no meu mano Xandrito, que sempre foi muito piolhento. Ele deitava de barriga pra cima num galho e me deixava catar os bichinhos na sua pelagem macia, mas sempre lotada de piolhos. J? o meu irm?o mais velho Rodriguito gostava mesmo era de me catar porque as pulgas gostavam muito da minha companhia.

A mam?e Rozanita sempre estava por perto, porque ?ramos muito pequeninos ainda para podermos ficar sozinhos. O papai Antonito, do topo das ?rvores com aquela sua cara muito s?ria, sempre parecia estar de mau humor, mas cuidava muito bem de todos n?s.

N?s ?amos vivendo nossa vidinha com muita alegria e companheirismo na nossa terra natal, o Congo. Sabe onde fica? L? na ?frica, um pa?s lindo e com muita natureza.

At? que um dia nossa paz foi abalada por um grupo de ca?adores com espingardas, redes e c?es enormes e furiosos. Assim que viu aquilo, a macacada toda deu no p? o mais r?pido poss?vel. Foi uma correria louca fazendo alarido floresta afora, at? que n?o fossem mais ouvidos por entre as folhagens.

Mas a mam?e Rozanita n?o conseguia fugir t?o r?pido quanto eles, porque tinha que nos carregar consigo e ela jamais nos deixaria para tr?s. Ent?o, ela nos colocou em seu peito quente e aconchegante, nos agarramos firmemente nos seus p?los, tomando o maior cuidado para n?o cair como costum?vamos fazer. O nosso medo era enorme, e o nosso pavor maior ainda. O papai estava muito furioso. Em seus olhos eu pude ver todo o seu medo e desespero por nossa causa. Ele ficava agitando seus bra?os e grunhindo de um jeito amea?ador tentando espantar os ca?adores.

Mas os ca?adores impiedosos acertaram mam?e com uma dose de tranq?ilizantes, com papai eu n?o sei o que houve. A mam?e foi ficando com muito sono, mas mesmo assim ela n?o tirava os olhos da gente, e por pouco n?o despencou com a gente daquela altura toda onde est?vamos. N?s tr?s fomos capturados com uma rede, amarrados fortemente, e chutados com muita covardia, depois injetaram tranq?ilizantes em mim e nos meus irm?os tamb?m.

Quando acordei, eu j? estava aqui, trancado nessa jaulinha escondida nos fundos de um circo. T?o logo consegui ficar de p?, apareceu um senhor de bon? com uma roupa vermelha e fedida, com um chicote na m?o. O nome dele era Sr. Fredilito o Domador. Ele era uma pessoa muito m?. Tinha olhos ruins, cru?is, e que n?o se pareciam nadinha com os da minha mam?e. Ele me mandava fazer coisas que eu n?o tinha nem id?ia que existiam como subir e descer escadas, fumar charutos, andar de bicicleta e virar cambalhota. Tamb?m me obrigou a usar umas roupas engra?adas cheias de estrelinhas, o que eu tamb?m n?o entendia, j? que n?s macaquinhos nem gostamos de usar roupas.

Depois de muitas chicotadas, gritos ensurdecedores e castigos, aprendi muitas coisas. Agora me pergunto porque ser? que nunca tentaram me ensinar com carinho? Ser? que ? porque sabiam que eu n?o aprenderia porque eu estava preso com muito medo e saudade da minha mam?e?

Hoje eu sei andar de bicicleta e sempre fa?o piruetas quando o Sr. Fredilito Domador me manda. Eu nunca ouso contrari?-lo, porque da ?ltima vez que fiz isso, ele me deu mais chicotadas do que o normal gritou mais do que o normal e me deixou dois dias inteirinhos sem ra??o, no escuro e no maior frio. Ai, que saudade do leitinho morno e adocicado da mam?e Rozanita.

Nunca mais vi o papai Antonito, a mam?e Rozanita, e todos os dias eu rezo muito para que eles estejam bem. Quando eu rezo, pe?o tamb?m a Deus que um dia os circos n?o tenham mais bichinhos como eu ou como o urso Andrezito - ele ? bab?o porque vive lembrando de como era bom comer mel direto nas colm?ias das ?rvores das florestas americanas, e ent?o ele se baba todo de vontade e saudades de l?.

O Andrezito tamb?m sabe bater palmas, dan?ar, pegar bolas, andar em duas pernas como uma pessoa e ?s vezes eu fa?o de conta que ele ? a mam?e Rozanita, mas n?o ? a mesma coisa. Porque ele tamb?m ? um animal muito triste, como todos os animais do circo onde eu vivo preso.

Eu queria muito que voc?s fizessem as mam?es e os papais de voc?s entenderem que o nosso lugar - o meu, o do Andrezito, e de todos os outros bichos, como o le?o Thiaguito, a zebra Alinita e os outros que moram com a gente no circo - ? l? no meio da selva na mata, nas savanas, e n?o num picadeiro de circo sempre amarrados, acorrentados, de focinheiras, e muito menos numa jaula pequena apertada, fria e muito desconfort?vel.

Conte para eles que o Sr. Domador Fredilito aproveita-se da gente para ganhar dinheiro, sem ligar nem um pouquinho para o que realmente precisamos. E lembre-se tamb?m que existem muitos circos que s?o bem legais. S?o circos onde s? tem gente, diferentes desse onde trabalho, e nesses circos tamb?m existem muitos palha?os, contorcionistas e malabaristas bem melhores do que eu, que sou apenas um macaquinho chimpanz?.

Sabe, eu gosto muito de fazer piruetas para as crian?as rirem porque, como eu j? disse, eu tamb?m sou um chimpanz?-crian?a. Mas da pr?xima vez que algum de voc?s for me assistir no circo ou at? na televis?o, lembrem-se que mesmo eu gostando muito de fazer voc?s rirem, s? ando de bicicleta e fa?o piruetas no picadeiro porque sen?o o Sr. Domador Fredilito que ? um homem cruel e que detesta animais, me enche de chicotadas, grita comigo e me deixa sem comida.

E expliquem para os seus pais, QUE CIRCO LEGAL N?O TEM ANIMAL. E que tudo que os animais fazem no circo foi ensinado com muita maldade, desrespeito, e uma aus?ncia total de caridade para com os mais fracos, que o que eu mais queria mesmo no mundo era um dia poder voltar para a minha casa l? na ?frica na floresta do Congo e, sob o olhar cuidadoso do meu papai, me aninhar mais uma vez nos pelos macios da mam?e e ficar catando os piolhos e pulgas na minha t?o querida fam?lia.

Autoria: M?rcia Ribeiro Pinto
Revis?o: William C. C. Almeida
* Sociedade Juizforense de Prote??o aos Animais


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