Internet gratuita e sem fio em Juiz de Fora Projeto da PJF est? previsto para o primeiro semestre de 2007. Especialistas alertam que h? pontos positivos, mas que ? preciso discutir as a?es para que elas n?o pare?am mais bonitas do que verdadeiramente s?o.

Fernanda Leonel
Rep?rter
22/12/2006

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Est? previsto: a partir do primeiro semestre de 2007, Juiz de Fora pode contar com sistema de internet sem fio, banda larga, transmitido por meio de rede Wirelles Mesh (WiMesh). Essa ? a proposta e a defini??o do executivo municipal para a?es que gerariam o que classificou como Inclus?o Digital para popula??o de Juiz de Fora.

De acordo com os respons?veis pelo andamento do projeto via PJF, Domingos Frias que ? assessor de governo da Prefeitura e Ot?vio Sampaio, assessor de tecnologias da informa??o da secretaria de governo, a id?ia ? que qualquer pessoa possa ter acesso gratuito a internet, inclusive quem mora Zona Rural.

Para isso, cada usu?rio deveria adaptar seu computador ou equipamento eletr?nico com uma placa wirelles, que tem custo de aproximadamente R$ 95 reais e que seria o ?nico gasto do interessado em ter acesso a infinidades de informa?es ofertada pela web. Para Ot?vio, levando-se em conta que quem opta pela internet sem fio deixa de comprar a placa de fax modem, esse investimento seria ainda menor.

Antenas e transmissores seriam colocados em pontos estrat?gicos da cidade, que ainda v?o entrar em fase de teste. A previs?o ? que se comece pelo bairro Bandeirantes e que uma antena tamb?m seja colocada nos arredores da prefeitura para que t?cnicos da administra??o possam avaliar os resultados alcan?ados. A partir dessa instala??o, e da adapta??o do computador do usu?rio, estaria garantida a transmiss?o de dados para o internauta.

Mas se a conceitua??o dos benef?cios do novo projeto est?o muito claros para quem o prop?s, h? quem questione pontos das a?es divulgadas. Procurados pelo portal ACESSA.com, dois nomes fortes do cen?rio das novas tecnologias - o engenheiro de telecomunica?es e diretor t?cnico da Wlan Brasil, Wardner Maia, e Jos? Imbroisi, do provedor MGConecta de S?o Jo?o Del Rey (MG), levantaram os pr?s e contras das a?es propostas pela prefeitura para Juiz de Fora.

Para os especialistas, h? pontos positivos no projeto no que diz respeito ? proposi??o do acesso gratuito - apesar de haver outros questionamentos do que significaria na pr?tica a palavra "gratuito" - mas ? preciso que se discuta com muito cuidado todas as a?es para que elas n?o pare?am mais bonitas do que verdadeiramente s?o.

"? um projeto que demanda um investimento e um esfor?o de engenharia monstruso. N?o h? como pensar em viabilidade sem um planejamento real", enfatizou Maia. Para o diretor t?cnico da Wlan Brasil a implanta??o de uma rede wirelles j? ? algo por si s? muito complicado para quem ? da ?rea, est? focado somente nisso e possui um planejamento muito grande. "Falamos de uma estrutura enorme para an?ncios de que isso v? estar em funcionamento j? no primeiro semestre de 2007", destacou.

Mas o tempo e a implanta??o, apesar de citados por Maia, n?o s?o para ele os maiores impedimentos para que a internet sem fio seja uma realidade bem sucedida em Juiz de Fora. Quest?es ligadas a sustentabilidade e ? manuten??o da id?ia, figuram como impossibilidades para o t?cnico. "N?o acredito que esse projeto seja sustent?vel. Se eles fossem donos de uma freq??ncia pr?pria, at? poderia ser, mas esse n?o ? caso."

Jos? Imbroisi, da MGConecta de S?o Jo?o Del Rey, tamb?m destacou a quest?o da sustentabilidade como vari?vel preocupante do processo de instala??o do projeto. Para Imbroisi, h? pontos tecnicamente vi?veis para a instala??o do sistema, em contrapartida da falta de "claridade" para as propostas de manuten??o.

Ele acredita que os v?rios desafios da administra??o da rede, como controle de bandas, controle de e-mails e at? mesmo a ger?ncia dessa rede ? um desafio que n?o s? a Prefeitura de Juiz de Fora, como as demais administra?es e governos n?o est?o preparados para enfrentar.

Em linhas gerais, ? como se o estado estivesse construindo uma esp?cie de "estatiza??o" da internet, que j? nasce recheada de d?vidas no que diz respeito a esse tipo de controle. E a situa??o de n?o prepara??o por parte do poder p?blico, ? v?lida n?o somente para o projeto de Juiz de Fora, mas tamb?m para v?rias outras cidades do Brasil nas quais projetos de inclus?o digital come?aram a ser implantados ou podem vir a ser - j? que como j? deixou claro o Ministro H?lio Costa, em entrevistas ? imprensa nacional, a inclus?o digital ? um dos objeticos de mandato que mais v?o receber apio do governo Lula.

Para Imbroisi, por exemplo, o governo j? ? alvo de cr?ticas e resultados ca?ticos nos servi?os que oferece ? popula??o, como na oferta de educa??o nas escolas ou controle e manuten??o das estradas, por exemplo. "Ele n?o conseguiu controlar a pr?pria telefonia, e est? passando para algo mais complexo que ? o gerenciamento de informa?es", afirmou Imbroisi.

De acordo com os profissionais, a iniciativa do governo federal em trabalhar com os prefeituras de forma a "estatizar" o controle da internet ? uma forma err?nea de classificar a web, a partir de agora, como mais um servi?o oferecido ? popula??o, como ?gua ou luz por exemplo.

"O estado est? entrando em uma ?rea da iniciativa privada. Em uma ?rea complexa como a ger?ncia de rede que eu particularmente n?o acredito que possa ser feita de maneira profissional. Anda em sentidos opostos. O governo privatiza algumas coisas alegando melhoria nos servi?os e agora quer estatizar a internet.", afirmou.

A Prefeitura, atrav?s da secretaria de governo, rebateu as cr?ticas e afirmou que estudos est?o sendo feitos e que h? garantia de que o sistema funcione. Para a secretaria, o poder p?blico participa do fornecimento de internet a partir do momento que a popula??o est? envolvida diretamente com os resultados.

Como destacou o secret?rio de governo Domingos Frias, o ?nico objetivo da entrada da Prefeitura no projeto, est? ligado ao desejo do prefeito Alberto Bejani de democratizar a insforma??o e promover a inclus?o digital, que, pelo menos nesse primeiro momento, vai ser feita a partir do acesso gratuito.

Questionado sobre uma poss?vel pol?tica de distribui??o de computadores ou equipamentos eletr?nicos que possibilitem o acesso de camadas mais pobres da popula??o ao mundo digital, o assessor de tecnologias da informa??o da secretaria de governo, Ot?vio Sampaio, disse ainda n?o h? programa??o, e ressaltou que, hoje em dia, ? poss?vel dividir o pre?o da m?quina em muitas parcelas, o que torna o computador um bem acess?vel a praticamente todas as pessoas.

O lado do consumidor
Outro questionamento do projeto, est? focado no consumidor: ? ele quem vai receber em casa, os servi?os ofertados pela Prefeitura. De acordo com o projeto, e com as explica?es e certifica??o de Ot?vio Sampaio, o usu?rio interessado deve comprar uma placa wirelles e instalar no seu computador ou laptop para que seja uma das pessoas beneficiadas pelo projeto de internet sem fio.

Para Wardner Maia, por exemplo, o processo de acesso gratuito n?o pode ser extamente assim, pelo menos para a grande maioria das pessoas, por quest?es t?cnicas que s?o conhecidas. Segundo ele mesmo explicou, as "plaquinhas" especificadas pelo projeto s?o desenvolvidas para uso indoor, ou seja, n?o tem pot?ncia suficiente para pegar um sinal externo. "Existem limites de pot?ncia estabelecidos pela Ag?ncia Nacional de Telecomunica?es (ANATEL), as quais n?o podemos abusar".

Ou seja, pelo menos ao custo de R$ 95 reais (estimativa de pre?o da placa wirelles), h? grandes chances do ponto de vista t?cnico que a internet gratuita n?o funcione. Para que a internet "pegasse" bem, segundo Maia, no m?nimo, uma grande parcela da popula??o teria que instalar em sua casa uma antena de maior ganho, que acarretaria ainda alguns custos de constru??o civil, j? que essa antena demanda cabos que n?o s?o t?o f?ceis de serem instalados, em raz?o da sua espessura.

Outro detalhe: esse n?o completo funcionamento n?o prejudica apenas quem est? com dificuldades de recep??o do sinal. Para entender esse processo, vale a pena pensar que a informa??o, a banda, ? como se fosse uma pizza, cujo direito de comer pertende a todo mundo: cada um come seu peda?o de pizza, mas se um demorar mais a com?-la, vai demorar mais tempo para essa pizza "sumir da mesa". A quantidade de bytes circula de acordo com a qualidade da recep??o de todos.

A possibilidade de oferta de internet gratuita em Juiz de Fora est? prevista para funcionar com o sistema WiMesh, que ? uma rede de banda larga em que cada ponto de acesso pode comunicar entre si, sem a necessidade de encaminhar o tr?fego para algum ponto central. Dessa forma, a transmiss?o de dados ? feita por malha.

Qual a vantagem? Quem explica ? Ot?vio Sampaio. Caso haja algum problema com alguma antena, o transmissor busca outro, por perto, e rapidamente o problema ? solucionado. Essa seria a principal vantagem sob o sistema Wi Max, por exemplo, que tem o fluxo interrompido em situa?es como essa.

Mas o sistema Wi Mesh, realidade em cidades como Campos do Jord?o e Tiradentes, por caracter?sticas topogr?ficas, de relevo e pelo pr?prio tamanho da cidade, deve ganhar uma esp?cie de "mescla" para funcionamento em Juiz de Fora. A informa??o foi confirmada pelo assessor de tecnologias da informa??o da secretaria de governo, que explicou que os equipamentos que devem ser utilizados em JF herdam caracter?st?cas do sistema WiMax.

Essa informa??o, remete mais uma vez ao prazo levantado pela prefeitura para que a internet gratuita seja uma realidade em Juiz de Fora. A tecnologia WiMax ainda n?o est? liberada, j? que a Anatel ainda vai realizar o leil?o de radiofreq??ncias nas faixas de 3,5Ghz. Ou seja, da necessidade da fus?o Mesh/Max, necess?ria para o bom funcionamento da internet sem fio na cidade, fica ainda pendente a realiza??o do leil?o.

Para Jos? Imbroisi, ? poss?vel que em Juiz de Fora a internet possa ser operada apenas em sistema Wi Mesh, por?m isso deve acontecer com alguma dificuldade. "O resultado, pode ser usu?rios insatisfeitos e sem acesso em algum momento. Algo que prejudica quem est? contando com aquele servi?o.".

A pr?pria cidade de Tiradentes, na qual o projeto de internet gratuita conhecido como Tiradentes Digital foi implementado em mar?o deste ano, teve problemas no acesso. A cidade hist?rica mineira possui dimens?es geogr?ficas e de topografia muito diferentes de Juiz de Fora (diferen?as essas que chegam a potencializar o sucesso do sitema WiMesh) e chegou a ficar mais de 10 dias sem dar a chance dos usu?rios de mandar um e-mail, por exemplo.

A experi?ncia chegou a em um primeiro momento, a causar uma migra??o de aproximadamente 80% dos internautas dos provedores locais e regionais para o "acesso" da prefeitura. O que acabou n?o durando muito depois dos constantes problemas encontrados pelos usu?rios na hora de acessar a web. Depois disso, a pr?pria Prefeitura da cidade, passou a contratar os servi?so de outros provedores, sendo ela mesma um deles.

A Prefeitura de Tiradentes foi procurada pelo Portal ACESSA.com ao longo da semana para informar mais detalhes sobre a experi?ncia Wi Mesh na cidade, assim como para esclarecer os motivos da contrata??o de outos provedores. De acordo com a assessoria de prefeitura, o respons?vel por estas quest?es n?o estava na cidade e n?o poderia dar essa informa??o.

Financiamento e Licita??o

O envolvimento de setores do poder p?blico com quest?es ligadas ? inclus?o digital levanta outra "bola": quem esses projetos realmente beneficiam, qual a transpar?ncia de cada um deles e tamb?m at? que ponto quest?es relacionadas ? monetiza??o do sistema n?o caminham lado a lado com a divulga??o do acesso gratuito.

O projeto de Juiz de Fora prev? que acesso gratuito e de qualidade. Ao mesmo tempo que deixa claro que usu?rios e empresas que precisem de maior velocidade de conex?o devem pagar pelo servi?o. A vari?vel que determina essa velocidade classificada como de qualidade, que promete ser oferecida, n?o foi revelada pela prefeitura. Mas segundo Ot?vio Sampaio, deve representar algo que possibilite ao internauta ter acesso ? conte?dos em texto e vers?es mais leves de v?deos.

Quem queria mais que isso vai ter que pagar. Situa??o que foi comparada por Jos? Imbroisi ao caso do projeto Tiradentes Digital. Na cidade hist?rica mineira, o ministro das comunica?es H?lio Costa j? deixou claro o projeto de inclus?o digital j? est? entrado em sua segunda fase de implanta??o: fase que est? diretamente ligada a monetiza??o da oferta de acesso.

Para a prefeitura de Juiz de Fora, quem vai ter que pagar n?o vai ser necessariamente quem ? alvo do programa de inclus?o. E esse pagamento de alguns usu?rios seria a justificativa do poder p?blico para que um grupo de empres?rios tivesse se interessado em oferecer o servi?o para ser implantado em Juiz de Fora.

Wardner Maia, que ? engenheiro de telecomunica?es, lembrou que o investimento nesse tipo de projeto ? muito alto, e afirmou que n?o acredita que qualquer ganho com servi?o ou com visibilidade possa "pagar" pelo investimento. Para se ter uma id?ia, para se falar somente de transmissores, a estimativa de custo de cada um que deve ser instalado em v?rios pontos da cidade ? de 12 mil d?lares.

A prefeitura, atrav?s do secret?rio de governo Domingos Frias, disse que os empres?rios que participam do projeto de internet sem fio est?o interessados, independente dos investimentos (que ele confirmou serem de total onera??o desse grupo) e que ele n?o sabe responder por eles essa quest?o. Mas disse tamb?m que ainda estar em fase de testes, os nomes desses "parceiros" no projeto n?o podem ser revelados.

Questionados sobre o processo de licita??o que n?o foi realizado para a institui??o dessa parceria - j? que trata de empresas que v?o prestar servi?os para o poder p?blico - a justificativa da prefeitura ? que de essas empresas teriam oferecido o servi?o ? atual administra??o que est? testanto as benesses oferecidas. Para Domingos Frias o prefeito objetiva a inclus?o digital da popula??o de Juiz de Fora e est? descobrindo como isso pode acontecer.

Ou seja: a prefeitura, segundo a assessor, n?o estaria requerendo servi?os, n?o teria "pedido nada", por isso estaria isenta de qualquer processo licitat?rio.

No entanto, Maur?cio Williamson, brasileiro naturalizado que ? um dos repons?veis pela implanta??o de sistema similar ao proposto em Juiz de Fora na cidade de Filad?lfia (EUA) e que deve prestar consultoria para a PJF, assim como o empres?rio Dante Barbosa afirmaram que foi depois de um curso no qual eles foram os palestrantes que a prefeitura tomou conhecimento de suas propostas e a "conversa" come?ou.

At? o fechamento dessa mat?ria, a situa??o de testes e datas para o lan?amento do projeto de internet sem fio em Juiz de Fora continuam mantidos.


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