Como nossos pais

Emilene Campos
08/08/01

H? uma cobran?a muito grande para que os pais sejam mais participantes, que auxiliem na educa??o dos filhos, que sejam mais carinhosos. Quem nunca fez ou ouviu esse tipo de queixa. Hoje em dia, isso ? cada vez mais comum. O conceito de pai-provedor a cada dia fica mais arranhado. A fun??o de sustentar os filhos n?o mais sua exclusividade, j? que a mulher, na maioria das vezes, tamb?m trabalha fora. Se no passado,o cuidado e a educa??o dos filhos ficavam em suas m?os, agora a tarefa deve ser dividida, embora muitos homens ignore esta necessidade.

Parece estranho falar disso em pleno s?culo vinte um, mas o fato ? a omiss?o e a falta de envolvimento na educa??o dos filhos ? uma queixa frequente nos consult?rios, relatam os psic?logos Eduardo Calil e Miriam Bisagio. Para Calil, isso acontece porque apesar dos conflitos de gera??o que acontece nessa rela??o, os filhos repetem de alguma forma a postura de seus pais. Uns mais, outros menos. "Quando h? espa?o para o di?logo, as gera?es evoluem. Do contr?rio, os erros v?o sendo repetidos", opina.

Mas apesar de toda a rebeldia que o filho demonstre na adolesc?ncia ou juventude, ele vai tomar como modelos as atitudes. ?s vezes repeti-las, quando acha que aquilo ? algo seguro. Ele repete uma refer?ncia antiga. Se tem uma refer?ncia pesada, vai ser igual aos pais, repetindo uma educa??o r?gida.

?s vezes pode at? transform?-las em algo positivo, estimulando assim a melhoria de sua gera??o. A inspira??o no modelo ? algo subliminar. ? necess?rio educa??o para isso. Como o pai vai expressar autenticidade e toler?ncia, se ele ainda n?o resolveu tais conceitos em si mesmo. Na correria do dia-a-dia sobra pouco tempo para resolver estas quest?es.

Miriam Bisagio explica que h? pais que at? notam o problema, mas que n?o sabem como resolver. Em outros casos, ? a m?e que ajuda a alimentar esta situa??o. "J? ouvi muitas m?es dizerem que seus maridos n?o d?o aten??o aos filhos. Mas elas n?o abrem espa?o para que ele a ajude. Apenas o critica", esclarece Calil.

Segundo Miriam acha que n?o ? a m?e que deve abrir passagem, mas o home que deve conquistar seu lugar na vida dos filhos. Nesse caso, a mulher pode ajudar o homem a ser um pai melhor e estimular o desenvolvimento da rela??o.

Por?m ela adverte que a cabe?a da crian?a n?o ? um laborat?rio. Por isso, se a m?e n?o tem confian?a de que a atitude do pai vai dar certo, ? melhor que ela assuma as r?deas. "O pai chega com uma id?ia, mas n?o sabe lidar com os resultados e as frustra?es". Se ela delegar e depois tiver que corrigir sar? pior para a crian?a. Ela explica que a mulher tem a educa??o para frustra??o, com o fazer de novo.

Rela??o pai e filho ? sustentada pelo conflito
O psicanalista Elimar Jacob explica que o pai ? temido e admirado porque ele representa a lei e o modelo para o filho. "Jacques Lacan fala do decl?nio da imago (ideal) paterna no mundo p?s-moderno, mas enfatiza tamb?m, que a imago paterna ? sempre o centro do conflito que institui o indiv?duo como sujeito". Segundo ele, a rela??o entre pai e filho ser? sempre capenga, insatisfat?ria conflitante.

? muito comum ouvir que h? conflitos de gera?es. Para Jacob n?o h? conflitos de gera?es, mas de rela?es. "Sempre foi assim, nosso mundo p?s-moderno pode alterar ou enfraquecer alguns aspectos desta rela??o fundamental, mas ela continua conflituosa. E ? bom que seja assim", argumenta o psicanalista.

Miriam Bisagio concorda com Jacob. Ela at? cita o filme o Paiz?o para explicar que pessoas com valores diferentes dos filhos podem ser bons educadores. Ele faz e observa os resultados e vai corrigindo os erros ao longo do curso.

Terapia de pai para filho
Quando o filho fala que vai largar a terapia, o pai interfere. E at? come?a a fazer sess?es tamb?m para incentivar o filho. "? pouco, mas j? uma vit?ria. ? sinal de que ele acha que est? acontecendo algo errado e que ele tem que ajudar o filho" comemora. O pai se d? conta que est? participando pouco da vida do filho, no momento da terapia. Ele v? no terapeuta um segundo pai. A imagem do pai est? sempre oscilando, sempre est? aqu?m ou al?m de onde o sujeito espera que ele esteja.

Pai de fam?lias
Se para alguns homens j? ? dif?cil se envolver na educa??o dos filhos que moram em sua casa. Imagine quando ele ? refer?ncia para mais de uma fam?lia. Enfim, J? passou por mais de um casamento e convive os filhos da esposa. Essa situa??o cada vez mais comum ? encarada por Calil como perigosa. Sem falar do ci?me que pode ocorrer. "Quando mais ele se divide, mais fraca fica a no??o de limite, da lei. E o filho precisa disso", enfatiza. Para que isso n?o aconte?a, ? necess?rio que pai e m?e se desdobre, no sentido de desenvolver ao m?ximo a autonomia dos filhos: o chamado pai interno. O que deve ser estimulado na inf?ncia e adolesc?ncia. Depois deste per?odo, o caso fica mais complicado.

O pai ? a lei
O pai ? uma fun??o que exerce um papel fundamental na estrutura ps?quica do sujeito, ? a instaura??o dos limites, das interdi?es. ? a lei que o sujeito tem inscrita dentro de si. ? tamb?m um modelo a ser seguido, um ideal a ser atingido, explica o psicanalista Elimar Jacob.

Psicologicamente, o pai tem um lugar duplicado: ao mesmo tempo que ? representado por um lado forte e poderoso, e por outro, assustador. A mitologia ? rica nesses exemplos de pais assustadores, como o do rei Agamemmon que imola sua filha Efig?nia para receber como recompensa o vento que levaria a armada grega at? a cidade de Tr?ia, onde se desenrolaria uma guerra de dez anos. Vemos nestas figuras que o pai ao mesmo tempo e que ? poderoso, ? tamb?m senhor da vida e da morte dos filhos.

A figura do pai atrav?s dos tempos Durante a ?poca cl?ssica, quando do teatro grego, a trag?dia apresentava o pai como causador do destino, da m? sorte dos filhos e a com?dia revelava um outro lado da figura paterna: o pai simpl?rio, o pai como objeto de derris?o. Na Roma Imperial, quando o pai havia adquirido legalmente todo o poder sobre sua fam?lia e escravos e quando podia decidir por si mesmo a vida ou morte daqueles sob sua guarda, ? onde encontramos, relatos de muitos parric?dios. A imagem poderosa do pai n?o era impedimento para que os filhos os matassem. ? claro que isso n?o era regra geral, mas tamb?m n?o temos como estabelecer uma estat?stica sobre esse fato. O parric?dio circulava na cultura romana como uma possibilidade do sujeito se colocar diante desse pai sempre al?m dele, dono de tudo, at? de sua vida.

Mas esse conflito em rela??o o pai n?o era exclusivo do muno antigo. No s?culo XIX, entre 1812 e 1815, os famosos irm?os Grimm, ap?s anos de pesquisas sobre m?sicas folcl?ricas, publicaram um livro de contos folcl?ricos. Eles transcreveram uma tradi??o oral que encontraram espalhada na Europa. O livro ser sobre hist?rias de crian?a e cotidianas. Muitas delas foram transformadas pelos est?dios Disney em contos de fadas. Mas na verdade, tais contos s?o hist?rias terr?veis, cujo tema central ? a figura paterna. S?o hist?rias de pais incestuosos, aband?nicos, omissos, perversos. Muitos destes fatos ocorriam nas fam?lias, como ocorem hoje atualmente. Tais contos falam da presen?a inquietante da figura do pai na vida das pessoas. Isso n?o se refere ao pai da realidade, refere-se a algo de muito profundo no ser humano. O pai da realidade precisa sustentar esse lugar de poderoso e amea?ador. Quando poderoso, ? um exemplo para o filho. Quando amea?ador, imp?e limites e san?es. Enquete:

Fonte: Elimar Jacob

Como nossos pais

Emilene Campos
08/08/01

H? uma cobran?a muito grande para que os pais sejam mais participantes, que auxiliem na educa??o dos filhos, que sejam mais carinhosos. Quem nunca fez ou ouviu esse tipo de queixa. Hoje em dia, isso ? cada vez mais comum. O conceito de pai-provedor a cada dia fica mais arranhado. A fun??o de sustentar os filhos n?o mais sua exclusividade, j? que a mulher, na maioria das vezes, tamb?m trabalha fora. Se no passado,o cuidado e a educa??o dos filhos ficavam em suas m?os, agora a tarefa deve ser dividida, embora muitos homens ignore esta necessidade.

Parece estranho falar disso em pleno s?culo vinte um, mas o fato ? a omiss?o e a falta de envolvimento na educa??o dos filhos ? uma queixa frequente nos consult?rios, relatam os psic?logos Eduardo Calil e Miriam Bisagio. Para Calil, isso acontece porque apesar dos conflitos de gera??o que acontece nessa rela??o, os filhos repetem de alguma forma a postura de seus pais. Uns mais, outros menos. "Quando h? espa?o para o di?logo, as gera?es evoluem. Do contr?rio, os erros v?o sendo repetidos", opina.

Mas apesar de toda a rebeldia que o filho demonstre na adolesc?ncia ou juventude, ele vai tomar como modelos as atitudes. ?s vezes repeti-las, quando acha que aquilo ? algo seguro. Ele repete uma refer?ncia antiga. Se tem uma refer?ncia pesada, vai ser igual aos pais, repetindo uma educa??o r?gida.

?s vezes pode at? transform?-las em algo positivo, estimulando assim a melhoria de sua gera??o. A inspira??o no modelo ? algo subliminar. ? necess?rio educa??o para isso. Como o pai vai expressar autenticidade e toler?ncia, se ele ainda n?o resolveu tais conceitos em si mesmo. Na correria do dia-a-dia sobra pouco tempo para resolver estas quest?es.

Miriam Bisagio explica que h? pais que at? notam o problema, mas que n?o sabem como resolver. Em outros casos, ? a m?e que ajuda a alimentar esta situa??o. "J? ouvi muitas m?es dizerem que seus maridos n?o d?o aten??o aos filhos. Mas elas n?o abrem espa?o para que ele a ajude. Apenas o critica", esclarece Calil.

Segundo Miriam acha que n?o ? a m?e que deve abrir passagem, mas o home que deve conquistar seu lugar na vida dos filhos. Nesse caso, a mulher pode ajudar o homem a ser um pai melhor e estimular o desenvolvimento da rela??o.

Por?m ela adverte que a cabe?a da crian?a n?o ? um laborat?rio. Por isso, se a m?e n?o tem confian?a de que a atitude do pai vai dar certo, ? melhor que ela assuma as r?deas. "O pai chega com uma id?ia, mas n?o sabe lidar com os resultados e as frustra?es". Se ela delegar e depois tiver que corrigir sar? pior para a crian?a. Ela explica que a mulher tem a educa??o para frustra??o, com o fazer de novo.

Rela??o pai e filho ? sustentada pelo conflito
O psicanalista Elimar Jacob explica que o pai ? temido e admirado porque ele representa a lei e o modelo para o filho. "Jacques Lacan fala do decl?nio da imago (ideal) paterna no mundo p?s-moderno, mas enfatiza tamb?m, que a imago paterna ? sempre o centro do conflito que institui o indiv?duo como sujeito". Segundo ele, a rela??o entre pai e filho ser? sempre capenga, insatisfat?ria conflitante.

? muito comum ouvir que h? conflitos de gera?es. Para Jacob n?o h? conflitos de gera?es, mas de rela?es. "Sempre foi assim, nosso mundo p?s-moderno pode alterar ou enfraquecer alguns aspectos desta rela??o fundamental, mas ela continua conflituosa. E ? bom que seja assim", argumenta o psicanalista.

Miriam Bisagio concorda com Jacob. Ela at? cita o filme o Paiz?o para explicar que pessoas com valores diferentes dos filhos podem ser bons educadores. Ele faz e observa os resultados e vai corrigindo os erros ao longo do curso.

Terapia de pai para filho
Quando o filho fala que vai largar a terapia, o pai interfere. E at? come?a a fazer sess?es tamb?m para incentivar o filho. "? pouco, mas j? uma vit?ria. ? sinal de que ele acha que est? acontecendo algo errado e que ele tem que ajudar o filho" comemora. O pai se d? conta que est? participando pouco da vida do filho, no momento da terapia. Ele v? no terapeuta um segundo pai. A imagem do pai est? sempre oscilando, sempre est? aqu?m ou al?m de onde o sujeito espera que ele esteja.

Pai de fam?lias
Se para alguns homens j? ? dif?cil se envolver na educa??o dos filhos que moram em sua casa. Imagine quando ele ? refer?ncia para mais de uma fam?lia. Enfim, J? passou por mais de um casamento e convive os filhos da esposa. Essa situa??o cada vez mais comum ? encarada por Calil como perigosa. Sem falar do ci?me que pode ocorrer. "Quando mais ele se divide, mais fraca fica a no??o de limite, da lei. E o filho precisa disso", enfatiza. Para que isso n?o aconte?a, ? necess?rio que pai e m?e se desdobre, no sentido de desenvolver ao m?ximo a autonomia dos filhos: o chamado pai interno. O que deve ser estimulado na inf?ncia e adolesc?ncia. Depois deste per?odo, o caso fica mais complicado.

O pai ? a lei
O pai ? uma fun??o que exerce um papel fundamental na estrutura ps?quica do sujeito, ? a instaura??o dos limites, das interdi?es. ? a lei que o sujeito tem inscrita dentro de si. ? tamb?m um modelo a ser seguido, um ideal a ser atingido, explica o psicanalista Elimar Jacob.

Psicologicamente, o pai tem um lugar duplicado: ao mesmo tempo que ? representado por um lado forte e poderoso, e por outro, assustador. A mitologia ? rica nesses exemplos de pais assustadores, como o do rei Agamemmon que imola sua filha Efig?nia para receber como recompensa o vento que levaria a armada grega at? a cidade de Tr?ia, onde se desenrolaria uma guerra de dez anos. Vemos nestas figuras que o pai ao mesmo tempo e que ? poderoso, ? tamb?m senhor da vida e da morte dos filhos.

A figura do pai atrav?s dos tempos Durante a ?poca cl?ssica, quando do teatro grego, a trag?dia apresentava o pai como causador do destino, da m? sorte dos filhos e a com?dia revelava um outro lado da figura paterna: o pai simpl?rio, o pai como objeto de derris?o. Na Roma Imperial, quando o pai havia adquirido legalmente todo o poder sobre sua fam?lia e escravos e quando podia decidir por si mesmo a vida ou morte daqueles sob sua guarda, ? onde encontramos, relatos de muitos parric?dios. A imagem poderosa do pai n?o era impedimento para que os filhos os matassem. ? claro que isso n?o era regra geral, mas tamb?m n?o temos como estabelecer uma estat?stica sobre esse fato. O parric?dio circulava na cultura romana como uma possibilidade do sujeito se colocar diante desse pai sempre al?m dele, dono de tudo, at? de sua vida.

Mas esse conflito em rela??o o pai n?o era exclusivo do muno antigo. No s?culo XIX, entre 1812 e 1815, os famosos irm?os Grimm, ap?s anos de pesquisas sobre m?sicas folcl?ricas, publicaram um livro de contos folcl?ricos. Eles transcreveram uma tradi??o oral que encontraram espalhada na Europa. O livro ser sobre hist?rias de crian?a e cotidianas. Muitas delas foram transformadas pelos est?dios Disney em contos de fadas. Mas na verdade, tais contos s?o hist?rias terr?veis, cujo tema central ? a figura paterna. S?o hist?rias de pais incestuosos, aband?nicos, omissos, perversos. Muitos destes fatos ocorriam nas fam?lias, como ocorem hoje atualmente. Tais contos falam da presen?a inquietante da figura do pai na vida das pessoas. Isso n?o se refere ao pai da realidade, refere-se a algo de muito profundo no ser humano. O pai da realidade precisa sustentar esse lugar de poderoso e amea?ador. Quando poderoso, ? um exemplo para o filho. Quando amea?ador, imp?e limites e san?es. Enquete:

Fonte: Elimar Jacob

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Como nossos pais

Emilene Campos
08/08/01

H? uma cobran?a muito grande para que os pais sejam mais participantes, que auxiliem na educa??o dos filhos, que sejam mais carinhosos. Quem nunca fez ou ouviu esse tipo de queixa. Hoje em dia, isso ? cada vez mais comum. O conceito de pai-provedor a cada dia fica mais arranhado. A fun??o de sustentar os filhos n?o mais sua exclusividade, j? que a mulher, na maioria das vezes, tamb?m trabalha fora. Se no passado,o cuidado e a educa??o dos filhos ficavam em suas m?os, agora a tarefa deve ser dividida, embora muitos homens ignore esta necessidade.

Parece estranho falar disso em pleno s?culo vinte um, mas o fato ? a omiss?o e a falta de envolvimento na educa??o dos filhos ? uma queixa frequente nos consult?rios, relatam os psic?logos Eduardo Calil e Miriam Bisagio. Para Calil, isso acontece porque apesar dos conflitos de gera??o que acontece nessa rela??o, os filhos repetem de alguma forma a postura de seus pais. Uns mais, outros menos. "Quando h? espa?o para o di?logo, as gera?es evoluem. Do contr?rio, os erros v?o sendo repetidos", opina.

Mas apesar de toda a rebeldia que o filho demonstre na adolesc?ncia ou juventude, ele vai tomar como modelos as atitudes. ?s vezes repeti-las, quando acha que aquilo ? algo seguro. Ele repete uma refer?ncia antiga. Se tem uma refer?ncia pesada, vai ser igual aos pais, repetindo uma educa??o r?gida.

?s vezes pode at? transform?-las em algo positivo, estimulando assim a melhoria de sua gera??o. A inspira??o no modelo ? algo subliminar. ? necess?rio educa??o para isso. Como o pai vai expressar autenticidade e toler?ncia, se ele ainda n?o resolveu tais conceitos em si mesmo. Na correria do dia-a-dia sobra pouco tempo para resolver estas quest?es.

Miriam Bisagio explica que h? pais que at? notam o problema, mas que n?o sabem como resolver. Em outros casos, ? a m?e que ajuda a alimentar esta situa??o. "J? ouvi muitas m?es dizerem que seus maridos n?o d?o aten??o aos filhos. Mas elas n?o abrem espa?o para que ele a ajude. Apenas o critica", esclarece Calil.

Segundo Miriam acha que n?o ? a m?e que deve abrir passagem, mas o home que deve conquistar seu lugar na vida dos filhos. Nesse caso, a mulher pode ajudar o homem a ser um pai melhor e estimular o desenvolvimento da rela??o.

Por?m ela adverte que a cabe?a da crian?a n?o ? um laborat?rio. Por isso, se a m?e n?o tem confian?a de que a atitude do pai vai dar certo, ? melhor que ela assuma as r?deas. "O pai chega com uma id?ia, mas n?o sabe lidar com os resultados e as frustra?es". Se ela delegar e depois tiver que corrigir sar? pior para a crian?a. Ela explica que a mulher tem a educa??o para frustra??o, com o fazer de novo.

Rela??o pai e filho ? sustentada pelo conflito
O psicanalista Elimar Jacob explica que o pai ? temido e admirado porque ele representa a lei e o modelo para o filho. "Jacques Lacan fala do decl?nio da imago (ideal) paterna no mundo p?s-moderno, mas enfatiza tamb?m, que a imago paterna ? sempre o centro do conflito que institui o indiv?duo como sujeito". Segundo ele, a rela??o entre pai e filho ser? sempre capenga, insatisfat?ria conflitante.

? muito comum ouvir que h? conflitos de gera?es. Para Jacob n?o h? conflitos de gera?es, mas de rela?es. "Sempre foi assim, nosso mundo p?s-moderno pode alterar ou enfraquecer alguns aspectos desta rela??o fundamental, mas ela continua conflituosa. E ? bom que seja assim", argumenta o psicanalista.

Miriam Bisagio concorda com Jacob. Ela at? cita o filme o Paiz?o para explicar que pessoas com valores diferentes dos filhos podem ser bons educadores. Ele faz e observa os resultados e vai corrigindo os erros ao longo do curso.

Terapia de pai para filho
Quando o filho fala que vai largar a terapia, o pai interfere. E at? come?a a fazer sess?es tamb?m para incentivar o filho. "? pouco, mas j? uma vit?ria. ? sinal de que ele acha que est? acontecendo algo errado e que ele tem que ajudar o filho" comemora. O pai se d? conta que est? participando pouco da vida do filho, no momento da terapia. Ele v? no terapeuta um segundo pai. A imagem do pai est? sempre oscilando, sempre est? aqu?m ou al?m de onde o sujeito espera que ele esteja.

Pai de fam?lias
Se para alguns homens j? ? dif?cil se envolver na educa??o dos filhos que moram em sua casa. Imagine quando ele ? refer?ncia para mais de uma fam?lia. Enfim, J? passou por mais de um casamento e convive os filhos da esposa. Essa situa??o cada vez mais comum ? encarada por Calil como perigosa. Sem falar do ci?me que pode ocorrer. "Quando mais ele se divide, mais fraca fica a no??o de limite, da lei. E o filho precisa disso", enfatiza. Para que isso n?o aconte?a, ? necess?rio que pai e m?e se desdobre, no sentido de desenvolver ao m?ximo a autonomia dos filhos: o chamado pai interno. O que deve ser estimulado na inf?ncia e adolesc?ncia. Depois deste per?odo, o caso fica mais complicado.

O pai ? a lei
O pai ? uma fun??o que exerce um papel fundamental na estrutura ps?quica do sujeito, ? a instaura??o dos limites, das interdi?es. ? a lei que o sujeito tem inscrita dentro de si. ? tamb?m um modelo a ser seguido, um ideal a ser atingido, explica o psicanalista Elimar Jacob.

Psicologicamente, o pai tem um lugar duplicado: ao mesmo tempo que ? representado por um lado forte e poderoso, e por outro, assustador. A mitologia ? rica nesses exemplos de pais assustadores, como o do rei Agamemmon que imola sua filha Efig?nia para receber como recompensa o vento que levaria a armada grega at? a cidade de Tr?ia, onde se desenrolaria uma guerra de dez anos. Vemos nestas figuras que o pai ao mesmo tempo e que ? poderoso, ? tamb?m senhor da vida e da morte dos filhos.

A figura do pai atrav?s dos tempos Durante a ?poca cl?ssica, quando do teatro grego, a trag?dia apresentava o pai como causador do destino, da m? sorte dos filhos e a com?dia revelava um outro lado da figura paterna: o pai simpl?rio, o pai como objeto de derris?o. Na Roma Imperial, quando o pai havia adquirido legalmente todo o poder sobre sua fam?lia e escravos e quando podia decidir por si mesmo a vida ou morte daqueles sob sua guarda, ? onde encontramos, relatos de muitos parric?dios. A imagem poderosa do pai n?o era impedimento para que os filhos os matassem. ? claro que isso n?o era regra geral, mas tamb?m n?o temos como estabelecer uma estat?stica sobre esse fato. O parric?dio circulava na cultura romana como uma possibilidade do sujeito se colocar diante desse pai sempre al?m dele, dono de tudo, at? de sua vida.

Mas esse conflito em rela??o o pai n?o era exclusivo do muno antigo. No s?culo XIX, entre 1812 e 1815, os famosos irm?os Grimm, ap?s anos de pesquisas sobre m?sicas folcl?ricas, publicaram um livro de contos folcl?ricos. Eles transcreveram uma tradi??o oral que encontraram espalhada na Europa. O livro ser sobre hist?rias de crian?a e cotidianas. Muitas delas foram transformadas pelos est?dios Disney em contos de fadas. Mas na verdade, tais contos s?o hist?rias terr?veis, cujo tema central ? a figura paterna. S?o hist?rias de pais incestuosos, aband?nicos, omissos, perversos. Muitos destes fatos ocorriam nas fam?lias, como ocorem hoje atualmente. Tais contos falam da presen?a inquietante da figura do pai na vida das pessoas. Isso n?o se refere ao pai da realidade, refere-se a algo de muito profundo no ser humano. O pai da realidade precisa sustentar esse lugar de poderoso e amea?ador. Quando poderoso, ? um exemplo para o filho. Quando amea?ador, imp?e limites e san?es. Enquete:

Fonte: Elimar Jacob


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