Dormindo com o inimigo
O drama de mulheres que convivem com a viol?ncia

Deborah Moratori
09/07/03

Ela largou o emprego, abandonou a pr?pria casa, mudou de cidade. Tudo para fugir das agress?es do marido... Bem longe de acontecer somente na fic??o, o drama da personagem Raquel, vivida pela atriz Helena Ranaldi na novela da Rede Globo Mulheres Apaixonadas, revela o cotidiano de muitas mulheres brasileiras.

A viol?ncia dom?stica ? uma realidade, independente da idade, cor, classe social, op??o religiosa da mulher. "Esse ? um problema que atinge todas as mulheres", revela a delegada Maria Pontes Teixeira. H? tr?s anos ? frente da Delegacia de Repress?o de Crimes contra a Mulher, ela explica que o que muda ? a forma de se resolver o problema. "A mulher de poder aquisitivo mais alto pode recorrer a um advogado, mudar de casa, de cidade, recorrer ? fam?lia e aos amigos para desaparecer..."

No fundo do po?o
Embora as den?ncias tenham se tornado mais constantes - s? no ?ltimo ano elas aumentaram 30% -, a delegacia continua sendo o ?ltimo recurso a que a maioria das mulheres recorre. "Existem 'n' motivos pelos quais as mulheres n?o v?m at? a delegacia. Da depend?ncia at? o medo, quando elas chegam a denunciar ? porque a situa??o j? chegou a um extremo que n?o d? mais para ser contornado. Tem tamb?m a quest?o dos filhos...", conta a delegada.

E mesmo quando a mulher denuncia, segundo Maria Pontes Teixeira, nem sempre ela d? continuidade ao processo. "A primeira pergunta que eu fa?o quando uma mulher chega ? delegacia ? 'o que voc? quer?'. Na maioria das vezes, elas querem ficar em paz, se verem livres do problema. Ent?o a situa??o melhora por uns tempos e ela n?o volta a nos procurar".

Nesse caso, pouco se pode fazer para punir o agressor na ocorr?ncia de um nova agress?o. A delegada explica que, sem passagem pela pol?cia, n?o se pode efetuar a pris?o do agressor. "Mas se ele j? cumpriu alguma pena restritiva, no caso de numa agress?o anterior a v?tima n?o ter abandonado o processo, o agressor pode ser condenado".

Inimigo ?ntimo
Geralmente esse agressor ? o pr?prio marido ou companheiro da v?tima. Segundo dados mundiais, o risco de uma mulher ser agredida em sua pr?pria casa, pelo marido, ex-marido, namorado ou companheiro, ? nove vezes maior do que ser agredida na rua.

Os motivos da viol?ncia, de acordo com a delegada, variam. Alcoolismo, drogas, dificuldades financeiras, ci?mes e personalidade agressiva est?o entre os mais comuns. A viol?ncia ? caracterizada desde de agress?es morais como xingamentos, humilha?es e amea?as ? les?o corporal (socos, bofet?es, pontap?s ou uso de objetos que machuquem ou prejudiquem a sa?de da mulher).

A experi?ncia da delegada revela que 90% dos casos de viol?ncia acontecem quando a mulher decide sair do relacionamento. "O companheiro n?o se conforma com a separa??o e decide se vingar atrav?s de um comportamento violento".

Existe viol?ncia na rela??o com seu parceiro? Confira.

H? uma sa?da
A viol?ncia dom?stica ? uma situa??o delicada que envolve muitos sentimentos. Para lidar com esse problema, a delegada explica que h? necessidade da interven??o de v?rios profissionais como psic?logos e assistentes sociais, principalmente quando o casal tem filhos. Esses profissionais est?o na delegacia para ajudar as mulheres.

"? poss?vel conviver com maridos agressivos, evitando a viol?ncia, mas para isso a mulher precisa ir at? a delegacia para receber orienta?es, para saber como deve se comportar. Procurar a delegacia n?o quer dizer que o companheiro v? ser preso. No entanto, o que acontece ? que a delegacia acaba sendo o ?ltimo de todos os est?gios de sofrimento. Quando j? no primeiro sinal de viol?ncia a mulher procura ajuda, n?s temos a possibilidade de realizar um trabalho preventivo para que uma amea?a n?o se torne uma agress?o", finaliza.

Saiba como proceder em uma situa??o de viol?ncia

Pelas mulheres
Em Juiz de Fora, al?m da Delegacia de Repress?o de Crimes contra a Mulher, a mulher tamb?m conta com o Conselho Municipal dos Diretos da Mulher. O ?rg?o desenvolve pol?ticas p?blicas na defesa dos direitos da mulher. Entre outras iniciativas, a secret?ria executiva do conselho, Maria Isdela Rodrigues Dutra, cita as reuni?es que o ?rg?o promove nos bairros com o objetivo de orientar as moradoras sobre seus direitos.

O conselho ? formado por 40 conselheiras representantes de v?rios segmentos da sociedade e atua em diversas ?reas voltadas para a promo??o da melhoria da qualidade de vida da mulher. Outro exemplo da atua??o do ?rg?o ? a cria??o da Casa Abrigo, prevista para ser inaugurada ainda este ano. A casa vai abrigar mulheres v?timas da viol?ncia dom?stica e seus filhos, oferecendo prote??o imediata para casos extremos, at? que o ?rg?o p?blico tenha condi?es de resolver a situa??o. A casa vai funcionar em endere?o sigiloso para garantir a seguran?a das v?timas.

Veja onde voc? pode procurar ajuda:

Conselho Municipal dos
Diretos da Mulher
Delegacia de Repress?o de
Crimes contra a Mulher
Avenida Brasil 2001, 5? andar
3690-7178 e 3229-5819 cmdm@pjf.mg.gov.br
Rua Cust?dio Trist?o, s/n
3229-5822
de 8h ?s 12h e de 14h ?s 18h30

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