A preocupa??o de se casar antes dos 30 ainda atormenta algumas pessoas. Outras preferem dar prioridade ? vida profissional do que ao casamento
S?lvia Zoche
07/07/04
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"Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresist?veis para um
rapaz... A mulher de trinta anos pode se fazer jovem, desempenhar todos os pap?is, ser
pudica e at? embelezar-se com a desgra?a".
A Mulher de Trinta Anos
Honor? de Balzac
O livro A Mulher de Trinta Anos, de Honor? de Balzac, fugiu ? regra de escrever sobre jovens ing?nuas, no auge dos vinte anos. A hist?ria conta sobre a descoberta da beleza na mulher mais madura e vivida. Antigamente, casar-se era algo inevit?vel e deveria ser ainda jovenzinha, sen?o a mulher correria o risco de "ficar para titia".
A psicanalista, Ada Bittar Carneiro de Oliveira (foto ao lado), diz que ainda existem pessoas preocupadas em chegar aos 30 anos sem estar casada. "S?o pessoas que pensam como h? 50 anos. Antigamente, ter 30 anos era ser velho. Hoje, uma pessoa de 30 anos ? considerada algu?m que est? atingindo a maturidade", analisa.
Mais de duzentos anos depois do romance, alguns homens e mulheres sentem a cobran?a da sociedade, mas nada que n?o possa ser superado quando se tem prioridades na vida.
Ficar para "titio"
Ficar para titio ? uma express?o que n?o preocupa o fil?sofo Carlos
Augusto Pinheiro Bellotti (foto ao lado), de 36 anos. Ele considera at? carinhoso quando falam
isso. "Sou tio de seis sobrinhos. Eu n?o vou ficar para titio, eu sou
titio".
Foi no acesso ? informa??o, conhecimento do comportamento ?tico e psicol?gico das pessoas que Bellotti diz ter mudado seu jeito de pensar. E por isso, n?o pensa em se casar oficialmente, mesmo namorando h? dois anos e meio.
Bellotti exemplifica sua decis?o com o relacionamento de um casal de amigos. "Conhe?o um casal que conviveu harmonicamente, durante 12 anos, debaixo do mesmo teto. Quem via, pareciam que eram somente namorados. Resolveram se casar. Em dois anos se separaram. Penso que, a partir do momento em que assina um contrato, voc? passa a ser do outro e n?o a estar com o outro". E conclui dizendo que pode estar sendo radical, mas que, infelizmente, o casamento traz sentimento de posse.
"Como fui seminarista, tive que conviver em um mesmo espa?o com outros, embaixo de um mesmo teto. ? uma primeira experi?ncia fora de casa e de compartilhar. Voc? come?a a analisar os pr?prios valores, o pr?prio comportamento e come?a a descobrir um novo sentido para a vida", analisa.
Para o fil?sofo, o comportamento padr?o estabelecido pela sociedade n?o permite a individualidade. ? preciso buscar informa?es para construir uma personalidade diferente, ? o que diz Bellotti e completa explicando que "? necess?rio viver dentro da sociedade e n?o viver como a sociedade quer".
A filosofia trouxe, ao mesmo tempo, novos espa?os, novos conhecimentos, posturas, decis?es e questionamentos na vida de Bellotti. "A filosofia, mesmo na certeza dos fatos, motiva o questionamento social", explica.
Temores de mulher
Por mais que os tempos tenham mudado, casamento ainda ? uma tradi??o exigida por algumas fam?lias. Apesar do novo c?digo civil dizer que o casamento ? apenas uma das formas de se constituir fam?lia, algumas mulheres se sentem pressionadas a se casar oficialmente.
Esse ? o caso de Ta?sa Aparecida Pinheiro Bellotti (foto ao lado). Ela tem 24 anos e, apesar de ser irm? de Carlos Bellotti, pensa diferente dele. Ta?sa diz que vai ficar desesperada se n?o tiver, pelo menos, namorando aos 30 anos. "? ruim chegar aos 30 anos sem namorado. Se voc? n?o tiver cuidado com o corpo, por exemplo, fica mais dif?cil conseguir algu?m", diz Ta?sa.
Ela entrega que foi a educa??o dos pais que a faz pensar assim. Mas s? vai se casar quando tiver uma vida est?vel financeiramente, sem depender do marido. E diz que sua vida depois de casada vai mudar. "Vai depender muito do lugar, mas n?o vou sair sozinha, porque fui criada pensando assim. E n?o admito marido ou esposa que sai e o outro fica em casa.", diz.
Sociologicamente, a mulher ? um tanto deficit?ria nos valores da sociedade, diz Carlos Bellotti. "A personalidade ? indefesa e fr?gil. Quando a mulher pensa que deve achar um noivo de qualquer jeito, ? porque n?o busca outros par?metros fora do tradicionalismo", conclui.
Para a psicanilista Ada Bittar, a busca por casamento de forma incessante ? uma implica??o social e cultural.
O neg?cio ? relaxar
Lutar contra o tradicionalismo da fam?lia foi complicado para a publicit?ria, Ana Loureiro, de 32 anos. "Tive que ser muito rebelde,
principalmente com minha m?e. Sempre falava que n?o iria noivar e casar.
Atualmente, ela aceita minhas id?ias de uma forma melhor", diz Ana.
Segundo a psicanalsita Ada Bittar, as pessoas est?o se mantendo sozinhas, porque o contexto familiar est? se perdendo. "Um exemplo ? a rela??o faltosa da m?e ou do pai, no per?odo prim?rio da vida, que pode implicar em dificuldades em se relacionar amorosamente, no futuro", diz.
No caso da publicit?ria Ana, n?o se casar e n?o ter filhos ? uma decis?o. O que ela deseja ? investir ainda mais na carreira. Propriet?ria e s?cia de uma ag?ncia de publicidade, Ana diz que ainda n?o ? hora de constituir uma fam?lia.
"Estou organizando minha vida e tenho muita responsabilidade no trabalho. Quero investir em mim, na minha casa, no meu carro, em viagens... Filho ? sin?nimo de noite mal dormida, cabelos brancos. Estou satisfeita com meu sobrinho. Quando ele chora, devolvo para m?e dele", fala rindo.
A ?nica coisa que falta para Ana ? voltar a morar sozinha. "Morei oito anos com um namorado. Quando minha carreira decolou, decidi terminar. N?o dava mais. S? que voltei a morar com meus pais. Quando morar sozinha novamente, n?o sei se vou querer dividir meu teto com namorado", diz.
Para terminar, Ana d? uma dica: "O neg?cio ? n?o pirar. O ideal ? reverter toda sua energia em sucesso pr?prio. Se voc? entrar no jogo, v?o te chamar de solteirona e voc? vai concordar", conclui.
Casar-se ou n?o depende da percep??o que cada um tem do mundo, na an?lise de Ada. O importante ? que a decis?o n?o se torne uma ang?stia na vida.
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