Mercado de trabalho feminino em JF supera média nacional  Com índice de crescimento de 11,07%, contra 4,18% do mercado masculino, as mulheres reafirmam o “poder da bolsa”

Pablo Cordeiro
*Colaboração
26/8/2009

A presença das mulheres no mercado de trabalho de Juiz de Fora se tornou mais forte em 2008. Dados da Subsecretaria do Trabalho, Emprego e Renda, da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese), mostram que o crescimento no número de mulheres empregadas superou o de homens. No ano passado, o índice de mulheres no mercado aumentou 11,07% contra 4,18% de homens. 

A proporção juizforana superou o crescimento estadual e nacional no mesmo período. Conforme os números da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), em Minas Gerais, o número de vagas ocupadas por mulheres cresceu 4,49% e por homens 3,11%. No Brasil, o aumento foi de 5,5% e 4,4%, respectivamente.

De acordo com o doutor em Recursos Humanos e professor de Marketing da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), José Humberto Viana, trata-se de uma conquista e de uma tendência que vem desde a década de 80. "A mulher oferece ao mercado de trabalho qualidades novas e indispensáveis, como a criatividade, a visão emocional e a disciplina. Como os homens são mais objetivos e pragmáticos, as empresas buscam conjugar o racional ao emocional."

José Humberto classifica o crescimento, em Juiz de Fora, como atípico e destaca que uma das possíveis explicações para o índice ser o dobro da média nacional é a vocação para o setor de serviço que o município apresenta. "Tradicionalmente, o mercado local é baseado na prestação de serviço, como o comércio, a hotelaria e a educação. Nessas áreas a contratação de mulheres é maior", explica.

A emissão de carteiras profissionais também confirma o aumento da participação do público feminino no mercado juizforano. Segundo divulgado no Anuário Estatístico 2009, o número de carteiras de trabalho emitidas para mulheres, em 2008, superou em 815 as emissões para homens, resultando em cerca de 9% do total de 8.963 documentos de primeira via.

Número de trabalhadores por gênero
Minas Gerais Juiz de Fora
2007 2008 2007 2008
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
2.487.612 1.696.571 2.412.546 1.623.657 68.397 46.102 71.261 51.206

Relação Anual de Informações Sociais - RAIS

Capacitação

De acordo com os dados referenciados pela Sedese, o número de mulheres com ensino médio, graduação superior e mestrado supera o índice masculino (confira tabela abaixo). Em Juiz de Fora, a proporção de mulheres com nível superior completo é o dobro do número de homens. Na UFJF, por exemplo, existem 8.478 alunas na graduação e na pós-graduação (latu sensu, MBA, especialização) contra 6.855 homens registrados pela administração, no segundo semestre de 2009.

Para a professora de Gestão de Recursos Humanos e Estratégia Empresarial da instituição, Márcia Cristina Machado, desde a última década é visível o crescimento da presença feminina nas universidades. "Essa é uma perspectiva que deve aumentar até se equilibrar. A tendência é o mercado não fazer diferenciação por gênero e, sim, pela capacitação. Existe o receio de algumas empresas pela licença maternidade. Porém, esse é um medo desnecessário, já que elas compensam o tempo perdido, ou abrem mão deste direito."

Márcia Cristina ressalta a ascensão das mulheres a cargos de destaque em empresas e a posições naturalmente preenchidas por homens. "Há uma mudança de visão daquilo que uma mulher pode fazer. A cultura antiga de ver a mulher como uma figura problemática, por causa da gravidez, da criação dos filhos e do casamento, está sendo superada. Elas apresentam uma capacidade notável de relacionamento humano."

Nível de escolaridade por gênero em Minas Gerais - 2008
Escolaridade Minas Gerais Juiz de Fora
Homens Mulheres Homens Mulheres
Ensino Médio Completo 31,28% 39,16% 34,06% 40,74%
Educação Superior Incompleta 2,50% 4,07% 3,09% 4,76%
Educação Superior Completa 8,72% 22,88% 9,98% 20,54%
Mestrado Completo 0,20% 0,45% 0,50% 0,88%
Doutorado Completo 0,06% 0,06% 0,20% 0,16%

Relação Anual de Informações Sociais - RAIS

Poder da bolsa

Outro aspecto levantado pelo doutor de RH é o aumento do poder aquisitivo das mulheres. "Vivemos o 'poder da bolsa'. Elas estão assumindo as famílias e adquirindo produtos tradicionalmente masculinos, como carros e computadores. Elas sabem gastar melhor do que os homens." José Humberto ressalta que esse crescimento vem em proporção geométrica e que, ao contrário do que ocorria há anos, as mulheres não apenas influenciam o poder de compra de uma família, mas decidem o que os filhos e o marido consomem. "Sejam solteiras, viúvas, separadas ou casadas, as mulheres estão cada vez mais ocupando os cargos de chefe de família."

Rompendo barreiras

Outro assunto levantado por Maria Cristina é a diferença na remuneração entre os gêneros (confira tabela abaixo). Ela ressalta que, mesmo tendo superado barreiras machistas, os salários ainda são diferentes. "No passado, os salários eram definidos por gênero, portanto as mulheres recebiam remunerações menores até mesmo em postos equiparados com os homens. Atualmente, essa prática diminuiu, mas ainda existe."

Segundo a professora, a equiparação dos salários está próxima. "É a superação de um preconceito, pois as mulheres estão demonstrando dedicação, capacitação e flexibilidade. Os afazeres da casa, a capacidade de lidar com a família e com a criação dos filhos desenvolveram, na mulher, a experiência, a força de vontade e a persistência que o mercado pede."

 

Relação de salários por gênero
Salários Minas Gerais Juiz de Fora
Homens Mulheres Homens Mulheres
até 5 salários mínimos 88,15% 90,85% 88,69% 90,08%
5 a 10 salários mínimos 7,84% 6,42% 8,04% 7,29%
mais de 10 salários mínimos 4,01% 2,73% 3,26% 2,63%

Relação Anual de Informações Sociais - RAIS

*Pablo Cordeiro é estudante do 9º período de Comunicação Social da UFJF

Os textos são revisados por Madalena Fernandes.

 

Relação de salários por gênero
Salários Minas Gerais Juiz de Fora
Homens Mulheres Homens Mulheres
até 5 salários mínimos 88,15% 90,85% 88,69% 90,08%
5 a 10 salários mínimos 7,84% 6,42% 8,04% 7,29%
mais de 10 salários mínimos 4,01% 2,73% 3,26% 2,63%

Relação Anual de Informações Sociais - RAIS


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