No caminho do meio, no meio do caminho
A turma ficou animada mês passado com o sentido poético com que nosso artigo se apresentou. Era pura poesia sim e dava ênfase a uma verdade na qual acredito e difundo com muito carinho aonde minha palavra alcança. Ser feliz apesar de tudo, amar mesmo com todas as dificuldades e dores que um amor possa causar não se privar do trabalho em ser feliz arregaçando as mangas e buscando o que é bom, o que enche o peito de alegria e deixa o sorriso sempre estampado na cara, são lemas que defendo diariamente.
Ah, aquele artigo tinha que ter sido o de novembro, pensei eu então. Este é um mês especial onde eu queria gritar pro mundo que agora, na metade do caminho e com os pés tentando trilhar o caminho do meio, sou feliz e elegi a alegria para chegar até aqui.
Esta é a base do discurso em terapia, em treinamentos de Sahajolî – Pompoarismo, nas palestras, nos workshops, no site, nas rodas de amigos e, principalmente, no que eu digo para mim mesma sempre, de manhã, quando me levanto e olho para o dia que posso ter e escolho, se será alegre ou triste.
Talvez nem eu acredite, mas posso dizer, que pelo saldo hoje, entre erros e acertos, choros e risos, nervosismos, euforias, carranquices, medos, e tudo o que possa passar o ser humano e a mulher em especial, foi bom ter escolhido a alegria. Em cinquenta anos, venho escolhendo a alegria. Há quem se incomode, mas eu não posso fazer nada além de continuar sendo assim.
Há quem diga que já me viu brava, numa tremenda "deprê", chata de galocha, filósofa demais em hora errada, impulsiva, insegura, renitente, mas em uma enquete simples, com pessoas que me viram nascer ou crescer ou amadurecer, o sorriso e a disposição à felicidade, figuraram como minha marca registrada. Perdoem-me os que não tiveram esta oportunidade talvez por participarem da minha vida em fases menos felizes. Me deem outra chance, por favor.
Em casa, com os que fiz crescer, a alegria desse "feedback", vem lavando a minha alma. Positivos, lutadores, corajosos e dispostos a viverem bem a exemplo de quem deu nó em pingo d'água para plantar esta bandeira. Gracias a la vida. Se temos a missão de formar, que consigamos deixar para o mundo, pessoas felizes antes de tudo.
No trabalho, o reconhecimento, expresso em palavras lágrimas, abraços apertados, gargalhadas gostosas, lembranças, mensagens, notas de crescimento pessoal, ajustes conjugais, equilibro restabelecido. Não tem preço. Muito obrigada, venho crescendo com cada uma de vocês.
Nos desafios? Não abaixei a cabeça ou abaixei se tivesse sido o caso. Não saí correndo com medo da luta. Nunca lamentei uma gravidez e nem ter que dar o peito de meia em meia hora se o neném quisesse. Um ter que ir a pé, um dia a mais de trabalho, um ter que pedir desculpas, a falta de dinheiro. Ah, lamentei sim, ninguém é de ferro. Contudo, agradeci muito mais, por cada vírgula da minha história.
Nunca reclamei ter que amar uma noite inteira e nem de qualquer outra forma de amor, desde que o amor não faltasse. Não sou de aceitar mimos ou presentes caros se sentir que eles veem para cobrir o buraco do amor sincero e apaixonado que é o que uma mulher de verdade precisa para viver.
Se nunca fui mal amada, traída ou abandonada por alguém? Ah, claro que já, mas nunca me deixei faltar o meu amor. Por isso, não morri e estou aqui até hoje, vivinha da silva e pronta pra tantas outras tentativas se precisar. Endurecer jamais. Gente, cadê minha boina grená?
Não abra mão de amar, primeiro a você, distribuindo todos os sins e nãos que puder usar e, depois, incondicionalmente aos seus escolhidos. Dê a alma, o coração, o sangue e tudo o que puder por um amor, de que categoria for e nunca se arrependa disso. Não tema amar, não tema elogiar e fazer crescer, não meça sacrifícios, não tema a vulnerabilidade na resposta ingrata, não tema nada. Se entregue à vida, em cada momento em que eleger a felicidade para vivê-la. Não jogue com os seus sentimentos e nem tão pouco com os alheios, não busque se autoafirmar no amor do outro e se alguém fizer isso com você, reze por ele. Peça a Deus que ele aprenda a amar de verdade.
Deu tudo certo até agora. Umas rugas aqui, uns fios brancos ali... Tem umas poeirinhas pra espanar, é claro. Quem não tem? Mas já comprei o espanador.
Conto com o carinho e a oração de todos vocês neste mês em que celebro os meus cinquenta anos. Agradeço do fundo da minha alma, cada minuto que dedicaram a fazer parte da minha existência. Ah, e quando estiver comendo o meu bolo e tomando meu champanhe, me lembrarei de cada um e desejarei felicidade.
Tin, tin!
Jussara Hadadd é filósofa e terapeuta sexual feminina
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