Necessidade de casamento Se estudo relata que casamento é bom para depressão,
psicoterapeuta alerta que esta não é a melhor saída
Repórter
22/09/06
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Pesquisadores da Universidade de Ohio chegaram a conclusão de que o casamento - oficializado no papel ou juntado com fé, casado é - faz bem para pessoas com dificuldades para dormir, que têm tristeza prolongada ou depressão. Mais de três mil pessoas participaram do estudo e a conclusão é de que pessoas com esses perfis precisam de alguém para o amparo emocional e social, que o casamento proporciona.
A podóloga Márcia Camilo Barreto Silva (foto ao lado) não tem problemas com depressão, mas sente uma grande necessidade de morar com alguém. Ela já foi casada por duas vezes - o primeiro relacionamento durou 12 anos e o segundo, cinco. "Percebi que sentia falta de uma relação a dois, embaixo do mesmo teto, depois do fim do segundo casamento"
, diz.
Há a algum tempo, Márcia ficava sem jeito de falar deste seu gosto para as pessoas, mas hoje em dia, não tem mais problemas com isso. "A sociedade acha que todo mundo tem que ser livre, que deve ter um relacionamento aberto. Eu não concordo"
, enfatiza.
A sensação de algo faltando quando chega em casa é notória, quando Márcia quer conversar, dividir experiências, contar e escutar as agruras e as vitórias do dia-a-dia. "É fazer alguma coisa por alguém, uma necessidade de ser útil ao outro"
, completa. Conhecer melhor a pessoa com quem se relaciona antes de mais nada é importante para Márcia. "Não vai ser num primeiro momento que eu penso em morar junto. Mas se eu vejo que temos pontos em comum, não vejo problemas de fazer isso mais tarde. Não sei que história é essa que inventaram que as pessoas para viverem felizes devem morar em lugares separados"
.
Algumas pessoas conhecidas de Márcia não concordam com o ponto de vista dela. "As pessoas tendem a querer que os outros pensem como elas. A sociedade e a mídia impõem este modernismo e as pessoas são levadas"
. E fecha seu raciocício citando uma frase que ouviu do escritor Paulo Coelho: "Casamento deve ser igual a Beirute, capital do Líbano. Ele pode ser destruído e reconstruído várias vezes"
. Atualmente, Márcia está namorando e diz, com brilho nos olhos, ter encontrado um homem que tem o mesmo pensamento com o seu.
Ter a necessidade de alguém ao lado como companheiro é até positivo, como no caso de Márcia, que gosta de dividir, compartilhar momentos. "Eu não vivo em função da relação, mas tenho como base principal a construção da família"
, relata. Porém, existem pessoas que canalizam sua vida na outra pessoa, como explica a psicoterapeuta Maria Cristina Brandão Heidenreich. É neste sentido que ela não acredita que o casamento seja uma saída para pessoas depressivas, como apontou a pesquisa na Universidade de Ohio.
Jogar todas as cartas no casamento como a solução dos problemas pode ser uma grande roubada. "A pessoa se desilude, porque as coisas não saem da forma como ela planejou e, em vez de melhorar, a depressão piora. Ela não se completa, porque acha que o outro precisa fazê-la feliz e culpa o outro pela falta de realização dela"
, comenta Maria Cristina.
A questão do prazer é importante em uma relação e "faz com que a pessoa se sinta bem com ela mesma, se sinta completa. Mas ainda existe muito tabu em relação ao sexo, principalmente entre as mulheres"
, diz a psicoterapeuta. Algumas pensam em satisfazer o outro e esquecem do próprio prazer.
Viver em função do companheiro, em todos os sentidos, pode sufocá-lo e estragar a relação. "A mulher não se percebe, não se vê e enxerga o outro como o ar que ela respira e se anula"
. Este ciclo de dependência tem grande influência da criação desta mulher. No caso da depressão, esta pode ser hereditária ou desenvolvida no âmbito familiar - há outros fatores também. O importante é que a mulher - ou o homem - procure a ajuda de especialistas e faça uma análise. A depressão é uma doença e precisa ser tratada. "Às vezes, os problemas causados pela depressão se tornam orgânicos e pode levar até a morte"
, alerta Maria Cristina.
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