SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Justiça dos Estados Unidos condenou, na quarta-feira (9), um engenheiro nuclear e sua esposa por tentarem vender segredos militares dos americanos ao Brasil há dois anos. O plano não chegou a ser consolidado, já que à época o governo brasileiro comunicou o FBI, polícia federal americana, sobre o caso.

Segundo o jornal The Washington Post, Jonathan Toebbe, 44, um profissional com autorização de segurança ultra-secreta na Marinha dos EUA, admitiu ter tentado vender dados sigilosos sobre a tecnologia por trás dos reatores nucleares que movimentam a frota de submarinos de ataque do país. O artefato custa cerca de US$ 3 bilhões (R$ 16 bilhões).

Para isso, ele contou com a ajuda de sua esposa, Diana Toebbe, professora de uma escola particular em Annapolis (Maryland).

A identidade do país abordado pelos Toebbes não foi revelada, mas segundo um membro do governo brasileiro e pessoas informadas sobre a investigação, Jonathan Toebbe abordou o Brasil há mais dois anos, oferecendo milhares de páginas de documentos confidenciais sobre reatores nucleares que ele havia roubado do centro da Marinha dos EUA em Washington ao longo de vários anos.

Após Jonathan enviar uma carta oferecendo os segredos à agência de inteligência militar do Brasil, em abril de 2020, as autoridades do país entregaram a carta ao adido legal do FBI no país. Então, a partir de dezembro daquele ano, um agente disfarçado da polícia americana se fez passar por uma autoridade brasileira para conquistar a confiança de Toebbe e convencê-lo a depositar os documentos num local escolhido pelos investigadores.

O engenheiro afinal concordou em fornecer o material e ofereceu assistência técnica ao programa de submarinos nucleares do Brasil, usando informações confidenciais que havia obtido durante anos de trabalho para a Marinha. Jonathan e Diana foram presos em outubro de 2021 e se declararam culpados das acusações de espionagem ainda no ano passado.

No julgamento de quarta, a juíza distrital Gina Groh chamou os Toebbes de "traidores confessos" que cometeram "atos horríveis contra esta nação". A magistrada disse ainda que o crime do casal foi um dos mais graves que ela já viu em sua carreira e poderia causar "danos a soldados americanos, militares e civis". A tecnologia vendida por Jonathan permite que os submarinos permaneçam submersos por períodos mais longos e se movam mais furtivamente, de acordo com documentos judiciais.

Os promotores acusam Jonathan de ter oferecido 51 pacotes de informações sigilosas ao agente disfarçado do FBI em troca de US$ 5 milhões pagos em criptomoeda.

Diana, por sua vez, atuou na entrega do material sigiloso. Em junho de 2021, seu marido combinou com o agente disfarçado de deixar um cartão SD envolto em plástico e colocado no meio de um sanduíche de pasta de amendoim. Na ocasião, sua esposa foi a responsável por vigiar o material até que o agente o colhesse.

Em algum momento, diz a acusação, Jonathan Toebbe deixou uma mensagem de que ele e sua esposa estavam preparados para fugir dos Estados Unidos: "Temos dinheiro e passaportes reservados", escreveu.

Os advogados de defesa defendem que os Toebbes tentavam deixar os EUA porque se opunham ao então presidente do país, Donald Trump. Uma busca do FBI na casa deles em Annapolis encontrou passaportes, milhares de dólares em dinheiro, documentos triturados e uma bolsa com um um pendrive e luvas de látex dentro. O casal tem dois filhos, de 12 e 16 anos.

"Eu acreditava que minha família estava em terrível ameaça, que a própria democracia estava à beira do colapso. E esse tipo de pensamento catastrófico me dominou", disse Jonathan na audiência. Ele se descreveu como um homem de família sobrecarregado de trabalho que "se automedicava com álcool" durante uma depressão.

O crime prevê prisão perpétua, mas ao fim Jonathan foi condenado a 19 anos de prisão e sua esposa a quase 22 anos. A diferença se justifica porque investigadores descobriram que Diana tentou se comunicar com o marido por meio de cartas que escreveu da prisão. Nos documentos, ela pedia para que ele se declarasse culpado e dissesse às autoridades que ela não tinha nada a ver com o plano.

No fim, tudo deu errado. "O réu abusou de sua posição de confiança de uma maneira que parece um romance policial ou um roteiro de filme", concluiu a juíza em sua sentença.


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