SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Pentágono divulgou nesta quinta (2) a detecção de um balão de alta altitude chinês, visto como espião pelos Estados Unidos e avistado pela primeira vez nas ilhas Aleutas, no Alasca, antes de passar pelo Canadá e entrar outra vez no espaço aéreo americano.
Na quarta, o objeto sobrevoou Billings, no estado de Montana, onde fica uma base militar com silos de mísseis balísticos intercontinentais. Washington decidiu não derrubar o balão, sob o argumento de que o item tem capacidade limitada de coleta de informações e seus destroços poderiam cair sobre áreas civis.
O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou em comunicado que o instrumento tem origem civil, é usado para pesquisas sobretudo meteorológicas e desviou de sua rota devido a correntes de vento.
Segundo a imprensa americana, o chefe da diplomacia do país, Antony Blinken, resolveu adiar visita a China que faria neste fim de semana.
O que é exatamente o balão e como ele é operado?
Um balão de alta altitude usa correntes de vento para se locomover e pode conter radares e câmeras para monitoramento de 24 km a 37 km de altitude. Um avião comercial chega a no máximo 12 km de altitude. Não se sabe, ainda, o tamanho do balão usado pelos chineses. A altitude do objeto é controlada a distância para aproveitar correntes de ar. Ele pode funcionar com energia solar.
Por que um balão em vez de imagens de satélite?
Os balões de alta altitude que são usados para espionagem são uma alternativa barata aos satélites, cujo lançamento custa dezenas de milhões de dólares. Além disso, o aprimoramento recente de lasers pode cegar temporariamente os satélites, impedindo fotografias e eventualmente danificando os objetos.
Outra alternativa para bloquear os satélites artificiais, ainda que perigosa, é sua destruição. Em 2021, por exemplo, a Rússia lançou um míssil, partindo da Terra, que destruiu um de seus próprios maquinários espaciais em uma demonstração de força -movimento que já havia sido feito pela China, em 2007, e pela Índia, em 2019, além dos EUA. Outros satélites carregados de explosivos também podem fazer o ataque. As ações violentas, no entanto, podem causar acidentes com outros instrumentos espaciais civis.
O que os EUA estão fazendo a respeito?
Inicialmente, jatos F-22 da Força Aérea americana foram acionados para acompanhar o objeto, que não foi derrubado devido ao risco de que seus destroços pudessem cair sobre áreas civis, de acordo com uma autoridade de defesa que falou sob condição de anonimato.
O governo Biden diz ter buscado imediatamente Pequim para esclarecimentos, mas a China a princípio não se manifestou publicamente. Mais tarde, a chancelaria chinesa afirmou em nota que o objeto tem origem civil, é usado sobretudo para pesquisas meteorológicas e desviou de sua rota devido a correntes de vento.
A resposta de Pequim foge do que tem sido a regra em relação às rusgas recentes entre os países, em geral em tom mais quente e acusatório. Desta vez, o país asiático tenta amenizar o incidente.
John Culver, um ex-oficial da CIA, a agência de inteligência americana, publicou em seu perfil no Twitter que qualquer alternativa para derrubar o balão custaria milhões de dólares devido à altitude, o que dificulta o alcance e a precisão de mísseis, mesmo se lançados de aeronaves de combate.
Isso já aconteceu outras vezes no espaço aéreo americano?
Autoridades de defesa dos EUA afirmam que não é a primeira vez balões deste tipo são avistado no país, mas que dessa vez o tempo de permanência do objeto é mais longo do que em outras oportunidades. Outro funcionário, também sob anonimato, disse ao New York Times que o balão não apresentava riscos militares ou ameaça de danos físicos, além de ter capacidade limitada para coletar informações.
Esse tipo de instrumento foi bastante utilizado durante a Guerra Fria pela União Soviética e pelos próprios americanos, que tentavam monitorar testes nucleares dos soviéticos principalmente na década de 1950.
Qual o contexto em que o incidente atual acontece?
O balão chinês no espaço aéreo americano é mais um capítulo do aumento recente de tensões entre China e Estados Unidos, que vêm trocando farpas e fazendo movimentos diplomáticos e militares.
Nesta quarta (2), Washington estendeu um acordo com as Filipinas para aumentar sua presença em bases militares do país asiático. A aliança permite maior monitoramento e capacidade de resposta a eventuais incursões chinesas em Taiwan, ilha ao norte das Filipinas que Pequim considera uma província rebelde.
Antes, um documento havia sido estrategicamente vazado com a previsão de uma guerra entre as duas potências, feita pelo general Mike Minihan, chefe do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA e secundado pelo deputado republicano Michael McCaul, presidente do Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara.
O incidente com o balão também acontece pouco antes da visita do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, chefe da diplomacia americana, a Pequim, onde ele iria se encontrar com Xi Jinping, mas a visita foi adiada, segundo a imprensa dos Estados Unidos. Seria a primeira vez em quase seis anos que um secretário de Estado dos EUA se reúne com o líder chinês.
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