SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Centenas de aposentados chineses tomaram as ruas de Wuhan e Dalian para marchar contra cortes nos valores que recebem do governo para gastos com saúde nesta quarta-feira (15). Embora manifestações relacionadas a reivindicações locais não sejam incomuns na ditadura, os atos acontecem pouco depois de uma das maiores ondas de contestação ao regime, no final do ano passado, contra a política de Covid zero.
Em Wuhan ?considerada a cidade de origem da Covid, no centro do país?, uma multidão se concentrou na entrada do parque Zhongshan, área de lazer popular entre os 11 milhões de habitantes locais. Um vídeo que circulou nas redes sociais mostra seguranças uniformizados formando uma corrente humana na entrada do parque para impedir a entrada dos manifestantes, que empurram e são empurrados pelos agentes.
Outros registros de protestos na mesma cidade e em Dalian, no sul, viralizaram nas redes sociais, mas não tiveram sua autenticidade verificada. Nos vídeos, manifestantes cantam hinos como a Internacional comunista, frequentemente entoada em protestos no país, e erguem seus smartphones para filmar os companheiros em marcha. Em Dalian, um vídeo mostra um idoso gritando "devolvam o dinheiro do nosso seguro de saúde!" na Praça do Povo.
A reforma do seguro de saúde é um projeto de grande envergadura para a China, e vem sendo implementada progressivamente, desde 2021. Entre novas medidas que entraram em vigor em 1º de fevereiro, está um corte de quase dois terços em uma espécie de mesada para gastos médicos repassada a aposentados ?seu valor passou de 260 yuans (R$ 198) para 83 yuans (R$ 63).
A mudança ocorre em um momento em que os governos locais, que tiveram seus caixas esvaziados pelos três anos da custosa política de Covid zero, têm suas finanças postas à prova. E antecede o encontro anual do Parlamento do Partido Comunista Chinês, marcado para o início de março.
Zhang Hai, morador de Wuhan, não participou das manifestações. Ainda assim, ele afirmou compreender as reivindicações dos participantes em entrevista à agência de notícias Reuters. "São valores muito baixos, mas para idosos, eles podem salvar vidas. As pessoas não são prósperas, então qualquer quantia vale muito."
Autoridades locais em ambas as cidades não responderam a pedidos de comentários. Residentes de Wuhan observaram que a polícia sabia das manifestações com antecedência, uma vez que postagens aconselhando a população a não participar delas circularam pelas redes sociais.
Zhang conta que vários de seus amigos que planejavam comparecer aos atos foram abordados por autoridades e tiveram que assinar um documento em que se comprometiam a "não realizar protestos ilegais, reuniões ou demonstrações em espaços públicos" ou fazer postagens sobre os atos. Eles depois foram impedidos de sair de suas casas pela polícia.
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