SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A ditadura da Nicarágua removeu do posto a embaixadora do país no Brasil, Lorena del Cármen Martínez, de acordo com decisão publicada no Diário Oficial nicaraguense nesta quinta-feira (16).

Ainda que os motivos não estejam claros, o movimento chama a atenção por ocorrer dias após Brasília manifestar, na ONU, preocupação com a repressão crescente do regime de Daniel Ortega.

Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela reportagem, a remoção configura uma rotação de praxe, e Martínez, no cargo desde 2013, deve ser substituída em breve. Um nome já teria sido ventilado, mas ainda depende da aprovação do Brasil, por meio do processo conhecido como agrément --documento diplomático que indica concordância do governo anfitrião com a nomeação para uma embaixada.

Manágua também designou Gabriel Osmani Ace Zepeda como ministro de funções consulares no Brasil. Na hierarquia diplomática, ele será uma espécie de encarregado de negócios e assumirá o comando da representação de forma temporária até a indicação de um novo titular.

A mudança faria parte de uma série de trocas conduzidas pela diplomacia do regime de Ortega. O embaixador nicaraguense na Coreia do Sul também foi retirado do seu cargo, assim como o representante do país no Panamá. Este último teve a saída divulgada nesta quarta (15) --Panamá está entre os países que ofereceram nacionalidade aos nicaraguenses expatriados pela ditadura.

O Brasil acenou na mesma direção no início do mês no Conselho de Direitos Humanos da ONU. O embaixador Tovar da Silva Nunes disse que vê com "extrema preocupação" a decisão de expatriar os dissidentes e as notícias de violações de direitos humanos do país. O representante afirmou também estar disponível para receber expatriados, embora não esteja claro o procedimento que será adotado.

No início de fevereiro, a ditadura Ortega-Murillo inaugurou a política de expatriação com 222 presos políticos que foram expulsos do país e enviados aos EUA. Na ocasião, a Assembleia Nacional, dominada por aliados de Ortega, aprovou em um só dia uma reforma constitucional para permitir a retirada da nacionalidade de cidadãos. A medida foi repetida com outros 94 opositores dias depois.

O Brasil vinha sendo criticado por não se manifestar de forma enfática sobre as arbitrariedades de Ortega, líder que, após combater a ditadura dos Somoza nos anos 1970, organizou seu próprio regime autoritário.

Ainda assim, o chanceler Mauro Vieira reconheceu, em recente entrevista à Folha de S. Paulo, que Manágua já não é uma democracia. Algumas alas do PT são próximas à Frente Sandinista de Libertação Nacional, embora parte delas tenha se distanciado do partido de Ortega.

A política de expatriação aprofundou o isolamento do regime. No último domingo, Ortega ordenou o fechamento da embaixada do Vaticano em Manágua e da embaixada nicaraguense na sede da Igreja Católica --com quem o regime trava uma queda de braço.

A decisão foi tomada dois dias depois da divulgação de uma entrevista em que o papa Francisco afirma que o líder sofre de um "desequilíbrio" e compara seu regime à ditadura comunista na União Soviética e ao regime nazista de Adolf Hitler.


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