SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O FSB (Serviço Federal de Segurança) da Rússia anunciou nesta quinta (30) a prisão de um repórter do jornal americano The Wall Street Journal sob a acusação de espionar segredos militares para Washington.

Evan Gerchkovitch, um cidadão americano de origem russa de 31 anos, foi detido pelo FSB em Iekaterinburgo, cidade na divisa entre as porções europeia e asiática do país. O órgão disse que ele estava "colhendo informações classificadas como segredo de Estado sobre uma fábrica militar".

Não foram apresentadas provas. O WSJ "nega veementemente as alegações do FSB e busca a imediata libertação de nosso confiável e dedicado repórter", disse o jornal em nota.

É o mais grave caso do gênero envolvendo um jornalista estrangeiro desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Houve assédio a alguns repórteres e um grande contingente deixou o país, com suas funções sendo assumidas por russos, que já conviviam com uma crescente repressão interna à liberdade de imprensa.

O governo de Vladimir Putin fez pouco do caso. "É um assunto do FSB", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, ressaltando que tudo indicava que o jornalista havia sido "pego em flagrante". Já Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que a apuração de Gerchkovitch "não era relacionada a jornalismo" e que é usual o emprego de disfarce de repórter para espionagem.

Para o Kremlin, o repórter preso se torna um ativo valioso para eventual libertação de russos detidos no exterior. Pouco antes da guerra, por exemplo, a jogadora de basquete americana Brittney Griner foi presa sob acusação de posse de drogas em um aeroporto moscovita. Ela só foi solta em dezembro, trocada pelo notório traficante de armas Viktor Bout, que cumpria 25 anos de cadeia nos EUA.

"Ele é jornalista muito bom e corajoso, não um espião. É um ataque frontal a todos os correspondentes estrangeiros que ainda trabalham na Rússia. E significa que o FSB está fora da coleira", escreveu no Twitter Andrei Soldatov, especialista em serviços de segurança que deixou a Rússia.

O FSB é o mais temido serviço de segurança russo, sendo o principal herdeiro da estrutura da antiga KGB, dissolvida após o fim da União Soviética.

Gerchkovitch trabalha na Rússia desde 2017, tendo sido empregado pelo jornal virtual The Moscow Times e pela agência de notícias francesa France Presse. Foi contratado pelo WSJ em janeiro do ano passado.

O problema para o repórter é a legislação russa, que foi endurecida brutalmente após o início do conflito. Qualquer reportagem que lide com Forças Armadas ou assuntos militares cai imediatamente no radar das autoridades, que ganharam mandato para processar qualquer um que considerem difamar o esforço de guerra.

Nesses casos, a pena pode chegar a 15 anos de cadeia. No caso de acusação de espionagem, caso do repórter, até 20 anos. Com a repressão, praticamente toda a mídia independente foi fechada na Rússia, com alguns órgãos passando a operar no exterior, como o jornal Novaia Gazeta, editado pelo prêmio Nobel da Paz Dmitri Muratov.

Internet - Jornalista do Wall Street Journal é preso por autoridades russas

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