SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O governo da Rússia acusou a Ucrânia e integrantes do grupo fundado pelo opositor Alexei Navalni de terem cometido o ataque a bomba que matou o blogueiro militar Vladen Tatarski em um bar no centro de São Petersburgo no domingo (2).
Uma mulher, Daria Trepova, foi presa pela polícia nesta segunda (3) e acusada de ser integrante do Fundo Anticorrupção, a ONG de Navalni. Até aqui, nunca houve casos de violência política associadas ao ativista. O complô pode envolver uma rivalidade entre militares russos e o grupo mercenário Wagner.
A acusação mais controversa, contudo, é contra Navalni. Ela foi feita pelo Comitê Antiterrorismo do governo, segundo o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov. Segundo o órgão, serviços de inteligência ucranianos tiveram "ajuda de agentes da Fundo Anticorrupção", a opaca ONG fundada pelo ativista.
Ele foi preso em 2021, quando voltava da Alemanha após meses de tratamento por ter sido envenenado na Sibéria. Acusado de violar sua liberdade condicional, acabou condenado novamente a mais nove anos de prisão. Navalni comandou, a partir de 2017, os maiores atos contra o governo de Vladimir Putin.
Enquanto o dedo acusador contra Kiev seja lógico, dada a guerra iniciada por Putin em fevereiro de 2022, há nuances no caso de Tatarski -cujo verdadeiro nome era Maxim Fomin.
O blogueiro fazia parte de um grupo privilegiado, com acesso às frentes russas na Ucrânia, e que o Kremlin permite até fazer o papel de crítico dos rumos da guerra, desde que Putin fique de fora diretamente.
Alguns deles são próximos do Ministério da Defesa e outros, como Tatarski, do Grupo Wagner, liderado pelo empresário Ievguêni Prigojin, conhecido como o "chefe de Putin" por ter comandado os serviços de alimentação do Kremlin no passado.
O café em que Tatarski recebeu a bomba escondida em um busto de si mesmo, dado de presente minutos antes da explosão enquanto o blogueiro falava a seguidores, pertenceu a Prigojin. Segundo a agência Associated Press, a estátua foi dada por Trepova, que disse à polícia que "foi usada", mas não por quem, no episódio.
Com efeito, o chefe do Wagner divulgou um áudio dizendo que "não se deve culpar o regime de Kiev". "Eu acho que isso foi o trabalho de um grupo de radicais não ligados a um governo". Prigojin vive às turras com o ministro da Defesa, Serguei Choigu, e outros generais, acusando-os de sabotar o trabalho de seus mercenários. Eles são a ponta de lança da sangrenta ofensiva russa no "moedor de carne" de Bakhmut, no leste da Ucrânia, que se arrasta há meses.
Tatarski, por sua vez, já havia dito em seu canal no Telegram que a cúpula militar russa mereceria um tribunal exclusivo, sendo composta por "idiotas sem treinamento" --Choigu é um general sem carreira no Exército, tendo ganhado seu título pelo trabalho como chefe do Ministério das Situações de Emergência russo.
O blogueiro tinha 560 mil seguidores, e era influente. Estava presente no Kremlin em 30 de setembro do ano passado, quando Putin anexou ilegalmente quatro regiões ucranianas. Segundo a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, "ele ganhou o ódio do regime de Kiev".
Ela afirmou que outros blogueiros estão sob risco. O assassinato de Tatarski é o segundo de uma figura pró-guerra associada ao Kremlin desde a invasão da Ucrânia. Em agosto, Dari Dugina, a filha do ideólogo nacionalista Aleskandr Dugin, morreu na explosão de uma bomba em seu carro.
A Rússia acusou Kiev pelo atentado, algo que os serviços de inteligência dos EUA corroboram, mas o governo de Volodimir Zelenski negou participação. Nesta segunda, o assessor presidencial Mikhailo Podoliak escreveu no Twitter que "as aranhas estão se comendo", descartando responsabilidade no caso.
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