WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O ex-presidente Donald Trump voltou a Washington nesta quinta (3), mas não como gostaria. Ele se apresentou à Justiça às XXh para ser acusado formalmente por atentar contra pilares da democracia.
A audiência ocorre no tribunal E. Barrett Prettyman, nas proximidades do Capitólio, palco da invasão orquestrada por apoiadores do ex-presidente em 6 de janeiro de 2021, na tentativa de impedir a confirmação da vitória de Joe Biden à Presidência, em 2020. Na ocasião, cinco pessoas morreram.
O episódio, junto às tentativas de Trump de reverter sua derrota na eleição, é o pano de fundo do processo na Justiça Federal ao qual ele responde agora e que pode resultar em penas de até 20 anos de prisão.
Em preparação para a audiência, um grande esquema de segurança foi montado na capital. Em frente à corte, dezenas de manifestantes, entre apoiadores e opositores de Trump, tentavam atrair a atenção dos jornalistas. Caixas de som, megafones, bandeiras e fantasias foram alguns dos métodos empregados.
Desta vez, o ex-presidente é alvo de quatro acusações, de conspiração para defraudar os EUA à obstrução de procedimento formal, assinadas pelo conselheiro especial do Departamento de Justiça Jack Smith.
Elas foram divulgadas na última terça e se somam a outros dois processos: um na Justiça de Nova York, envolvendo a compra do silêncio de uma atriz pornô na campanha de 2016, e outro, na Justiça Federal, relacionada à posse ilegal de documentos secretos da Casa Branca após Trump ter deixado a Presidência.
Assim, trata-se da terceira vez que o republicano comparece perante um juiz neste ano. A audiência desta quinta, chamada em inglês de "arraignment", equivale à audiência de instrução no Brasil, etapa inicial de um processo criminal. Nela, o réu ouve as acusações e é questionado se declara-se culpado ou não.
Poucos manifestantes estão na frente do tribunal nesta terça. Um deles é o brasileiro-americano Daniel de Moura, 32. Ele afirma morar nos EUA há cerca de seis anos e se define como ativista político. Com uma bandeira em apoio a Trump, ele diz que o republicano "defende a população de toda a corrupção" e que a eleição foi roubada de Trump, assim como teria ocorrido com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele afirma ainda que pessoas que participaram da invasão do Capitólio foram presas sem terem feito nada.
Já Domenic Santana, 61, veio protestar contra o ex-presidente. Apesar de se identificar como republicano, ele afirma que Trump é um "rato", um "artista da mentira", e que os republicanos que ainda o apoiam são "zumbis". Nas primárias republicanas, ele diz apoiar o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie.
O restante dos manifestantes está concentrado numa mesma área, o que gerou alguns embates verbais. Uma mulher com um megafone fez críticas ao republicano para se sobrepor às falas de trumpistas, e outra levou uma caixa de som, circulando com a placa "turnê de celebração da acusação contra Trump".
Nas duas audiências anteriores, Trump afirmou não ser culpado. Ele também teve apenas as digitais coletadas -não tiraram a fotografia, conhecida como "mugshot", que costuma ser registrada pela Justiça.
O próximo passo é a definição da data do julgamento. Até agora, já há um marcado, no caso que corre na Justiça de Nova York, para março do ano que vem. Nenhuma dessas ações pode tirá-lo da corrida pela Casa Branca, mesmo no caso de ele ser condenado, uma vez que a legislação americana não prevê nenhum impedimento para que uma pessoa acusada ou presa dispute um cargo público.
Em sua defesa, o ex-presidente afirma sofrer perseguição política -o Departamento de Justiça, lado acusador nos processos dos documentos sigilosos e do questionamento da eleição, está sob o guarda-chuva do governo Biden. Em resposta à acusação mais recente, seus advogados têm afirmado ainda que o republicano exercia seu direito à liberdade de expressão ao questionar o resultado do pleito e que ele genuinamente acreditava que uma fraude ocorreu -os procuradores dizem que ele sabia estar mentindo.
Por fim, Trump também afirma que as acusações são uma estratégia para desviar a atenção das investigações contra Hunter Biden, filho de Joe Biden, por possíveis violações de leis relacionadas a impostos e por lavagem de dinheiro em transações comerciais estrangeiras.
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