SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, voltou a criticar seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmando que o petista concorda com "narrativas"de Vladimir Putin e deveria ter "uma compreensão mais ampla do mundo".
Em nova entrevista a veículos de imprensa latino-americanos, Zelenski foi questionado sobre as declarações de Lula e de seu assessor internacional, Celso Amorim, sobre a necessidade de negociar uma solução diplomática para a Guerra da Ucrânia.
Na quarta (2), Lula disse a jornalistas estrangeiros que nem Zelenski, nem Putin têm declarado que querem negociar para acabar com a guerra. No mesmo evento, Amorim voltou a dizer que as preocupações de Moscou com segurança precisam ser consideradas. "Você não pode deixar de fora as preocupações de segurança da Rússia, elas são reais", disse o ex-chanceler na ocasião.
"É estranho falar sobre a segurança da Federação Russa. Só a Rússia, Putin e Lula falam sobre a segurança da Rússia, sobre as garantias que precisam ser dadas para a segurança da Rússia", disse Zelenski, em resposta a pergunta feita por um jornalista da CNN Brasil.
"Só acho que ele [Lula] tem uma opinião própria. Parece-me que não é necessário que seus pensamentos coincidam com os pensamentos do presidente Putin."
Zelenski disse ainda que Lula está concordando com "narrativas" do presidente russo sobre a guerra.
"O seu país não está em guerra com ninguém. O seu país, o Brasil, é muito mais respeitado do que a Rússia hoje no mundo. As pessoas [do Brasil] são respeitadas, sua visão, suas visões de mundo são respeitadas. O Brasil não é um país agressor, mas um país pacífico. Por que ele [Lula] precisa concordar com as narrativas do líder do Estado [Putin], que não é diferente de nenhum colonizador? Ele [Putin] mente constantemente, manipula constantemente, desinforma constantemente as pessoas. Está matando nossos filhos e estuprando nossas mulheres."
O líder ucraniano voltou a dizer que gostaria de se reunir com o presidente Lula. E admitiu, na mesma entrevista, que a contraofensiva da Ucrânia está ocorrendo em um ritmo "mais lento do que alguns desejam ou imaginam".
Em maio, em entrevista a veículos latino-americanos, entre eles a Folha, Zelenski ironizou as iniciativas de Lula para promover negociações de paz e a resistência do Brasil a apoiar a criação de um tribunal especial para julgar crimes de agressão cometidos na Guerra da Ucrânia.
"Lula quer ser original, e devemos dar essa oportunidade a ele. Agora, é preciso responder a algumas perguntas muito simples. O presidente acha que assassinos devem ser condenados e presos? Creio que, se tiver a oportunidade, ele dirá que sim. Ele encontrará tempo para responder a essa questão? Ele não achou tempo para se reunir comigo, mas, talvez, tenha tempo para responder a essa pergunta", disse Zelenski à Folha, no palácio presidencial em Kiev.
Lula e Amorim defendem negociações de paz entre Rússia e Ucrânia, intermediadas por países considerados neutros. Mas algumas declarações do presidente brasileiro foram vistas por Kiev e pelos EUA como alinhamento à Rússia.
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