SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cidadãos chineses acessaram bases militares e outros locais sensíveis nos Estados Unidos mais de cem vezes nos últimos anos, segundo o jornal americano The Wall Street Journal. Os incidentes despertaram preocupação de autoridades americanas, que os descrevem como potenciais ameaças de espionagem.

O FBI, a polícia federal dos EUA, o Departamento de Defesa e outras agências de inteligência iniciaram em 2022 uma revisão nos sistemas de segurança para reforçar o bloqueio a locais com acesso restrito. Antes, os agentes chegaram a deter cidadãos chineses, a maior parte com visto de turista, em áreas estratégicas próximas a bases militares no Novo México e a plataformas de lançamento de foguetes na Flórida.

Alguns dos incidentes ocorreram em regiões rurais com pouca movimentação de turistas. Segundo o Wall Street Journal, as autoridades relatam que as invasões aos locais restritos parecem concebidas para testar as práticas de segurança americanas. Os investigadores ainda suspeitam que os cidadãos são pressionados a apresentar relatórios ao regime chinês sobre os locais considerados estratégicos.

Num caso recente, um grupo de cidadãos da China tentou passar por guardas que controlavam o acesso à base de Fort Wainwright, no Alasca. Os chineses alegaram que eram turistas e tinham reservas num hotel próximo à instalação, sede da 11ª Divisão Aerotransportada do Exército, focada na região do Ártico.

As suspeitas de espionagem aumentaram nos últimos meses, diante das tensões crescentes entre EUA e China, rivais na Guerra Fria 2.0. O estopim da crise ocorreu em fevereiro passado, quando o Pentágono anunciou a descoberta de um balão chinês sobrevoando o território americano. O objeto foi derrubado por um caça, em ação considerada exagerada por Pequim. Washington diz que o artefato abatido era um instrumento de espionagem, enquanto o regime chinês diz que era um equipamento de pesquisas.

Segundo o Wall Street Journal, o incidente com o balão gerou alertas para atividades de espionagem também em solo, seja com o acesso de cidadãos a locais restritos ou com o uso de tecnologias.

Funcionários da Casa Branca, do FBI e do Departamento de Segurança americano não responderam a pedidos de comentários feitos pelo Wall Street Journal. Já a embaixada da China em Washington disse que as alegações de espionagem são "invenções puramente mal-intencionadas".

"Pedimos às autoridades dos EUA que abandonem a mentalidade da Guerra Fria, parem com as acusações infundadas e façam mais coisas que conduzam ao aumento da confiança mútua entre os dois países e da amizade entre os dois povos", disse Liu Pengyu, porta-voz da embaixada.

Parlamentares americanos repercutiram a divulgação do relatório. O deputado democrata Jason Crow disse que as informações são preocupantes e pediu que o Congresso debata o assunto.

Em meio aos atritos diplomáticos com os EUA, o líder da China, Xi Jinping, não deve ir à cúpula de líderes do G20, que acontece nos dias 9 e 10 de setembro em Nova Déli, na Índia. O encontro era considerado uma oportunidade para diálogos entre o dirigente e o presidente dos EUA, Joe Biden. Eles se encontraram pela última vez à margem da reunião do bloco em Bali, na Indonésia, em novembro de 2022.

As rusgas entre as superpotências têm acelerado ainda a saída de cientistas de ascendência chinesa que atuam nos EUA. Levantamento realizado por acadêmicos das universidades americanas de Princeton, Harvard e do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em 2021 e 2022 constatou que 35% do total de 1.400 acadêmicos sino-americanos entrevistados não se sentem bem-vindos nas universidades dos EUA em que trabalhavam. Mais que o dobro, 72%, disseram não se sentir seguros nos locais. Perto de dois terços relacionaram seus temores à sinofobia em alta nos EUA.

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