SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O político italiano Giorgio Napolitano, símbolo de estabilidade por sua moderação e o primeiro a ser eleito duas vezes para a Presidência do país, morreu nesta sexta-feira (22), aos 98 anos.
Na Itália, país com um sistema parlamentarista, o presidente geralmente cumpre um papel simbólico. Napolitano, porém, teve uma postura ativo no cargo ao lidar com um período particularmente agitado na política local, marcado pela renúncia do primeiro-ministro Romano Prodi em 2008, a chegada de Matteo Renzi em fevereiro de 2014 e as renúncias de Silvio Berlusconi, Mario Monti e Enrico Letta.
Definido pelo jornal local Corriere della Sera como "um anglo-saxão num país de sangue quente", devido ao seu pragmatismo, Napolitano foi leito em 2006 e durante seu primeiro mandato de sete anos, precisou lidar com a grave crise da dívida de 2011, quando a Itália era a terceira maior economia da zona do euro.
No final daquele ano, o político usou seu cargo para evitar um aprofundamento da recessão ao nomear o ex-tecnocrata da Comissão Europeia Mario Monti para liderar o governo, após a renúncia de Berlusconi. Dois anos depois, ele superou outro impasse ao instalar uma grande coalizão sob o político de centro-esquerda Enrico Letta após uma eleição parlamentar inconclusiva.
Por conta do resultado disputado, ele foi obrigado a ficar no cargo e fez um discurso de posse especialmente duro com a classe política, que ele considerou indiferente às exigências do país. Napolitano anunciou que não permaneceria no cargo por mais sete anos e renunciou em janeiro de 2015, citando sua idade.
Políticos de diferentes colorações lamentaram a morte de Napolitano, que recebeu uma homenagem também do Vaticano.
Giorgia Meloni, líder do partido ultradireitista Irmãos de Itália e primeira-ministra desde outubro de 2022, manifestou as "mais profundas condolências" à família do ex-presidente.
Já o atual presidente da República, Sergio Mattarella, lembrou o compromisso de Napolitano com a União Europeia. O ex-presidente foi deputado no Parlamento Europeu, onde travou "importantes batalhas pelo desenvolvimento social, paz e progresso na Itália e na Europa", segundo Mattarella.
Em uma mensagem de condolências a esposa de Napolitano, Clio Bittoni, o papa Francisco afirmou que Napolitano "manifestou grandes dons intelectuais e uma paixão sincera pela vida política italiana". "Lembro com gratidão das reuniões pessoais que tive com ele, durante as quais apreciei sua humanidade e visão ao tomar escolhas importantes com retidão, especialmente em momentos delicados para a vida do país", afirmou o líder católico.
Napolitano estabeleceu uma relação próxima com o falecido papa Bento 16, antecessor de Francisco, e foi uma das poucas pessoas avisadas antecipadamente de sua inesperada renúncia, em fevereiro de 2013.
Nascido durante a ditadura de Benito Mussolini, em 29 de junho de 1925, o político fez parte dos Grupos Universitários Fascistas, assim como a maioria dos estudantes na época de Mussolini. Na mesma época, porém, se envolveu em um grupo de resistentes comunistas e entrou para o partido em 1945. Em 1953 ele era eleito pela primeira vez, como deputado.
O começo de sua carreira política foi marcado pelas tentativas de encaixar o comunismo na social-democracia europeia. Anos depois, porém, foi para o partido Democratas de Esquerda e deslanchou como a figura reformista pela qual seria reconhecido. Durante a sua vida ele seria também presidente da Câmara de Deputados e ministro do Interior.
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