SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Diante de uma plateia esvaziada na Assembleia-Geral da ONU, Serguei Lavrov, veterano ministro das Relações Exteriores da Rússia, afirmou que o Ocidente é um "império de mentiras" e criticou a União Europeia e os Estados Unidos, que impuseram sanções contra o país por conta da Guerra da Ucrânia.

"Americanos e Europeus desprezam o resto do mundo, fazem todo tipo de promessas e não cumprem", disse, mencionando o compromisso de não expandir para o leste a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental fundada em 1949), movimento frequentemente usado como justificativa para o conflito no Leste Europeu.

Entre outras promessas não cumpridas pelo Ocidente, segundo Lavrov, está a de direcionar US$ 100 bilhões por ano a nações emergentes para mitigar os efeitos da crise climática ?esses países gastam muito mais armando a Ucrânia, afirmou o chanceler.

O apoio do Ocidente tem sido crucial para Kiev enfrentar a invasão russa. Do início da guerra até fevereiro de 2022, a ajuda militar à Ucrânia liderada pelos EUA chegou a US$ 100 bilhões (R$ 500 bilhões), segundo a chancelaria ucraniana.

Lavrov também acusou Washington de tentar transformar sua doutrina Monroe em uma ordem global para manter sua influência em várias regiões do mundo, não só nas Américas ?um eco da ideia, apoiada pela China, de que os EUA se nega a aceitar a multipolaridade.

Segundo Lavrov, países liderados por Washington e pelo Bloco Europeu, que ele chamou de "minoria global", tentam a todo custo impedir a "maioria global", os países em desenvolvimento, de lutar pela reforma das instituições multilaterais, para que reflitam melhor a nova realidade mundial ?bem diferente do cenário pós-Segunda Guerra Mundial, quando essas instituições foram criadas.

"Uma revisão da ordem mundial está em curso", disse. "É inexorável a tendência de países da maioria global de fortalecerem sua soberania e se organizarem, porque não querem mais ficar sob o jugo da minoria global. Essas nações [em desenvolvimento] querem ser amigas entre elas."

Ele citou comentários críticos do presidente da França Emmanuel Macron, à expansão do Brics, que aumentou seu número de membros em agosto, durante reunião em Joanesburgo, na África do Sul.

"Se alguém quer se reunir sem eles, eles já encaram como uma ameaça", disse, referindo-se ao Ocidente. Lavrorv afirmou que, pela primeira vez desde 1945 existe uma chance real de democratizar os assuntos globais.

Nas últimas cinco décadas como diplomata, primeiro pela União Soviética e depois pela Rússia, Lavrov conquistou respeito e poder ?ele está há quase duas décadas no cargo de chanceler. Para comparação, os EUA tiveram sete secretários de Estado dos EUA nesse período, de Colin Powell a Antony Blinken, passando por Hillary Clinton e Mike Pompeo.

Nos últimos meses, o diplomata se tornou o defensor público da invasão da Ucrânia, já que seu chefe, o presidente Vladimir Putin, reduziu as viagens internacionais após o Tribunal Penal Internacional (TPI) decretar sua prisão, em março. Assim como o líder russo, Lavrov tem retomado uma certa retórica de Guerra Fria e parece saudoso dos tempos em que a Rússia dava as cartas.


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