SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Praticamente ausente do debate público da Argentina desde o início da corrida eleitoral, o presidente do país, Alberto Fernández, voltou à arena nesta quarta-feira (4) para comentar o mais recente escândalo a atingir o peronismo.
No centro da polêmica está o chefe de gabinete da província de Buenos Aires, Martín Insaurralde. Ele viralizou ao aparecer ao lado de uma modelo em um luxuoso iate em Marbella, na Espanha, em imagens publicadas nas redes sociais dela no sábado -um dia antes do primeiro debate entre os candidatos à Presidência.
As instalações do barco, assim como as bebidas caras e pratos de mariscos extravagantes registrados nas imagens, contrapõem-se à precariedade enfrentada por boa parte da população do país sob o governo Fernández.
Dados divulgados na semana passada mostraram que, em um ano, 1,2 milhões de argentinos foram empurrados para baixo da linha da pobreza. Hoje, 4 em cada 10 deles não conseguem pagar despesas básicas.
Insaurralde renunciou ao cargo de chefe de gabinete no próprio sábado, alegando não desejar que sua imagem fosse usada para prejudicar a coalizão pela qual o ministro da Economia peronista, Sergio Massa, disputa a Presidência. Na segunda-feira, também desistiu de concorrer a um posto no conselho municipal de sua Lomas de Zamora natal, localizada no sul da província de Buenos Aires.
Em entrevista à Rádio 10, Alberto Fernández descreveu o episódio como "uma verdadeira lástima". Também saiu em defesa do governador de Buenos Aires, Alex Kicillof, a quem Insaurralde estava subordinado. "Axel é um homem honesto, que tem uma vida austera", afirmou o presidente argentino, acrescentando que o escândalo tinha respingado "em muitas pessoas corretas, que não pensam em iates no Mediterrâneo".
A imprensa argentina havia previsto que a controvérsia seria um dos principais temas do debate no domingo. Mas ele foi citado apenas pontualmente -talvez porque Sergio Massa interveio e pediu a renúncia imediata de Insaurralde.
Fernández também comentou na entrevista a declaração mais controversa do debate, do líder nas pesquisas eleitorais Javier Milei. Na ocasião, ele afirmou que não houve 30 mil desaparecidos durante a ditadura argentina, e sim 8.753.
O número oficial de mortos e desaparecidos segundo o RUVTE (Registro Unificado de Vítimas do Terrorismo de Estado) é na verdade de 8.631, mas organizações de direitos humanos alegam que a cifra é altamente subestimada.
Em seguida, Milei afirmou que os guerrilheiros que lutaram contra o regime militar que vigorou entre 1976 e 1983 eram terroristas, e deu a entender que o Exército no poder travava uma guerra legítima contra eles ao combatê-los utilizando-se de métodos como execuções extrajudiciais e tortura --ainda que, o ultradireitista tenha ressaltado, "as forças do Estado tenham cometido excessos".
Fernández chamou as declarações de Milei de "um retrocesso tremendo" e urgiu a sociedade a reagir a elas. "Negar uma tragédia tão grande e dizer que foi uma guerra onde alguém se excedeu são coisas que ouvimos [o militar condenado por crimes na ditadura Emilio] Massera e [o ex-comandante Alfredo] Astiz dizerem. Como pode alguém que quer ser presidente da Argentina dizer algo assim?"
"Não se pode igualar uma organização guerrilheira a um Estado, porque o Estado possui uma ética a obedecer. E isso não justifica nem a tortura, nem o roubo de bebês, nem o assassinato, nem o desaparecimento forçado de pessoas", acrescentou o presidente argentino.
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