SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A maior projeção internacional sobre a Guiana nos últimos dias vem levantando dúvidas sobre a pronúncia correta de seu nome. No Brasil, a recomendação é falar "Gu-i-ana", com o som da letra "U".
A professora de português Thaís Nicoleti de Camargo afirma que "Guiana" tem um ditongo decrescente em "gui". O ditongo ocorre quando há encontro de vogal e semivogal na mesma sílaba, ambas pronunciadas. No caso em questão, o "u" é a vogal, de som mais "forte", e o "i" é a semivogal, de pronúncia mais fraca, como em "fui" ou "Rui".
Nicoleti afirma que a palavra Guiana era um exemplo clássico nas aulas de língua portuguesa mesmo antes do Acordo Ortográfico, vigente desde 2009, pois havia dúvidas quanto à sua acentuação. Antes das mudanças, diz, era possível distinguir pela grafia as diferentes pronúncias dos grupos "gui", "gue" e "que" e "qui", que podiam ser lidos de três formas. Mas Guiana, de certa forma, desafiava essa regra.
Quando o "u" é mudo, temos o chamado dígrafo, em que duas letras, ao serem pronunciadas, emitem apenas um som, caso de "guitarra". No caso do "u" pronunciado, mas átono (fraco), usava-se o trema, como em "sagüi". Já no caso das palavras em que o "u" é pronunciado e tônico (forte), usava-se o acento agudo no "u", mas as apenas quando os grupos "gui", "gue", "que", "qui" apareciam na sílaba tônica da palavra ("averigúe", por exemplo).
"Guiana", como se vê, por não ter trema nem acento, às vezes aparecia lida como dígrafo, porque as regras de acentuação gráfica induziam a escolher uma entre as três pronúncias. Essa era uma confusão que ocorria, porque "Guiana" não se encaixava em nenhuma das três. O motivo é que, nesse caso, o "u" é tônico (é a vogal do ditongo decrescente), mas não está na sílaba tônica (que é o "a" - Gui-a-na), esse o motivo de nunca ter tido acento. Depois veio a mudança na ortografia, que suprimiu trema e acento em todos os casos, devendo a pronúncia ser lembrada pelo falante.
A explicação da pronúncia, segundo Nicoleti, está, provavelmente, na origem da palavra (em espanhol, diz-se "Guayana"; em inglês, "'Guyana'"), sendo o '"y'" a representação da semivogal 'i'. A pronúncia, assim, é semelhante à de "intuito", "circuito" ou "gratuito".
De acordo com o dicionário Oxford, a palavra vem de uma língua indígena dos povos ameríndios e significa "terra de muitas águas".
A Guiana ganhou projeção internacional nos últimos dias após o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, radicalizar a campanha pela anexação e exploração de Essequibo, área equivalente a dois terços do território guianense.
Maduro e o presidente da Guiana (com a pronúncia do U), Irfaan Ali, vão se encontrar nesta quinta-feira (14) em São Vicente e Granadinas para discutir a crise. O encontro bilateral foi anunciado no sábado (9) em um comunicado da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), divulgado horas depois de uma conversa telefônica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com o venezuelano.
A disputa entre os vizinhos preocupa também o Brasil. Após Maduro fazer um plebiscito para consultar a população sobre a anexação da região, o Exército brasileiro antecipou o envio de 16 blindados para Boa Vista (RR). Na votação, segundo dados do regime, 96% foram favoráveis à criação do estado Guiana Essequibo.
O Itamaraty, no entanto, diz acreditar que o risco de um potencial conflito entre os dois países seja baixo. A movimentação militar é vista apenas como uma estratégia de dissuasão diante das iniciativas de Maduro.
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