SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma sinalização nada sutil sobre seus objetivos navais na Guerra Fria 2.0 com os Estados Unidos, o China construiu uma maquete do tamanho do maior navio de guerra do mundo em um deserto remoto no nordeste do país como alvo para seus mísseis.

Foi o que revelou imagem de satélite colhida no dia 1º pela empresa americana Planet Labs, divulgada pelo site especializado The War Zone. Ela mostra uma maquete no formato e com as dimensões do USS Gerald R. Ford, o primeiro super porta-aviões de nova geração americano, que batiza a sua classe de navio.

O Gerald Ford ganhou destaque no fim do ano passado, quando foi deslocado pelo governo de Joe Biden ao lado do USS Dwight Eisenhower para o Oriente Médio, visando apoiar a guerra de Israel contra o Hamas ao dissuadir os aliados do grupo terrorista palestino, notadamente o Irã e o Hezbollah libanês, de entrar no conflito.

O Ford, que entrou em operação em 2019, deixou o Mediterrâneo no fim da semana passada, enquanto o Eisenhower, que é de uma geração anterior de porta-aviões, segue no mar Vermelho.

Imagens anteriores do campo de teste de mísseis de Taklamakan, na província de Xinjiang, mostram que o novo alvo foi construído a partir de novembro do ano passado. Ele tem os 330 metros do Ford, mas não seu volume: para simular sua assinatura de radar, o alvo está cercado de mastros especiais com defletores para esse fim.

Assim, não é necessário construir uma maquete inteira do navio para que mísseis lançados contra o alvo o visualizem em seu sistema de busca.

Não é a primeira vez que maquetes do tipo são flagradas naquele deserto. Em 2021, a empresa de imagens de satélite Maxar revelou alvos semelhantes na forma de porta-aviões menores e destróieres americanos, um deles construído sobre trilhos para simular movimento.

A prioridade estratégica da China, do ponto de vista militar, é garantir a segurança de suas rotas marítimas e projetar poder sobre elas, seja no Pacífico, seja no Índico ?por onde entram e saem quase todos os produtos negociados pela segunda maior economia do mundo.

A militarização do mar do Sul da China, área que Pequim diz ser 85% sua, é uma das primeiras etapas concretas deste plano. Os EUA e seus aliados regionais, como as Filipinas, rejeitam esse controle e fazem as chamadas operações de liberdade de navegação na região. Embates e encontros não amigáveis entre embarcações são uma constante.

Se quiser ter sucesso em qualquer engajamento militar no futuro, os chineses sabem que têm de ter capacidades para negar a navegação de forças hostis bem longe de sua costa. O desenvolvimento de mísseis antinavio, inclusive modelos hipersônicos, é central para esse objetivo, e é aí que entram os treinos com maquetes.

Em sua avaliação anual do potencial militar chinês, divulgada em novembro, o Pentágono alertou para a crescente capacidade de Pequim não só no campo dos mísseis, mas nos sistemas de vigilância via satélite e drones que possibilita monitorar o deslocamento de forças americanas a milhares de quilômetros de seus portos.

Em números brutos, a Marinha chinesa já supera a americana, mas não tem a mesma capacidade de projeção de poder que Washington tem, particularmente sua frota de 14 submarinos estratégicos para o lançamento de mísseis nucleares e 11 grupos de porta-aviões.

A China tem 6 submarinos do tipo e 2 porta-aviões ativos. Um terceiro, modelo de nova geração que incorpora novidades da classe Gerald Ford, já está em testes, enquanto um quarto está em produção.


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