BUENOS AIRES, PE (FOLHAPRESS) - Alberto Fernández, ex-presidente da Argentina, foi acusado nesta quinta-feira (29) por suspeita de desvio de verbas devido a uma suposta contratação irregular de seguros para funcionários públicos. Agora, o Ministério Público Federal do país iniciará uma investigação para determinar se há elementos para levar o caso a julgamento.

Em dezembro de 2021, ele assinou um decreto que obrigava todos os entes do Estado a contratar serviços de seguro exclusivamente com a estatal Nación Seguros. A denúncia pede que se apure se esses contratos foram intermediados por corretores amigos e empresas privadas que ganhavam uma comissão.

Fernández afirma que a acusação é falsa e que seu decreto foi justamente para acabar com os intermediários dos seguros. "Peço a todos que entrem e vejam minhas declarações juramentadas, se algo mudou. Procurem se minha família se enriqueceu ou se há algum testa de ferro que se beneficiou", disse à rádio La Red.

Também estão sendo investigados o ex-titular da Nación Seguros, Alberto Pagliano, e Héctor Martínez Sosa, corretor e seu amigo. Sosa é casado com uma conhecida secretária privada do ex-presidente, María Cantero, da qual o líder peronista buscou se desvincular em entrevista ao jornal La Nacion.

"Duvido que ela faça algo assim. Se o fez, não apoio. [...] Eu duvido, mas não posso garantir que ela não tenha feito algo assim. Se foi assim, ela se excedeu", afirmou ele, que também se referiu a "mentiras" do jornal Clarín. Foi uma reportagem publicada pelo veículo no último sábado (24) que deu origem à denúncia.

A publicação diz que a Nación Seguros subcontratou um intermediário para o caso da Anses (Administração Nacional de Seguridade Social), o INSS argentino. Ele teria sido beneficiado com uma comissão de 17%, o equivalente a três vezes o valor do mercado e a lucros de 300 milhões de pesos mensais (R$ 1,5 milhão na cotação paralela atual).

Segundo o jornal, os beneficiários teriam sido os corretores ou "brokers" Sosa (o marido da secretária) e Pablo Torres García. A reportagem gerou uma denúncia na quarta (28) pela advogada Silvina Martínez, integrante da equipe de campanha de Patricia Bullrich, hoje ministra da Segurança do governo de Javier Milei.

Ela pediu que se investiguem supostas irregularidades em torno do decreto assinado por Fernández em 2021. Além de desvio de fundos, o ex-presidente é acusado de violação de deveres de funcionário público e abuso de poder.

A denúncia da advogada, por sua vez, gerou agora a abertura da investigação pelo promotor Ramiro González. No documento ele afirma "que esse mesmo esquema havia sido replicado no Ministério da Segurança, enquanto os convênios ali firmados permitiram a intervenção de um intermediário".

Cita ainda que o diretor da Nación Seguros, Alberto Pagliano, era amigo de juventude do ex-presidente e que eles trabalharam juntos na década de 1990.

Ao se defender, Fernández afirmou que se trata de "uma operação política", evitando dizer quem seriam os responsáveis. "Tenho muita vontade de esclarecer isso porque não sou corrupto. Se algum funcionário fez algo que não devia, que responda, mas o caso da Anses é um absurdo", declarou.

Ao impulsionar a investigação, o promotor pediu à Justiça que solicite ao governo os "antecedentes, atuações e/ou pareceres jurídicos relacionados à emissão do decreto" de Fernández. Também solicitou todos os convênios ou contratações realizadas a partir da normativa.


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