SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O funeral de Alexei Navalni, principal opositor de Vladimir Putin, transcorre nesta sexta-feira (1º) em Moscou sob forte presença policial e alegações da Rússia de que qualquer reunião não autorizada em homenagem a ele será considerada uma violação da lei.

Relatos de aliados de Navalni que não puderam ser verificados de maneira independente falam em mais de mil pessoas presentes nos arredores de uma igreja no distrito de Marino onde uma cerimônia religiosa é celebrada em homenagem ao opositor russo.

Imagens do momento feitas por agências internacionais, como a Reuters, mostram ao menos centenas de pessoas nos arredores.

Quando seu corpo chegou ao espaço, a multidão aplaudiu e falou palavras de ordem. "Você não teve medo, e nós também não teremos medo", diziam, segundo relato da rede britânica BBC no local.

Preso desde 2021, Navalni foi declarado morto no último dia 16, aos 47 anos, em uma prisão de alta segurança na remota região de Iamalo-Nenets, no Ártico. Segundo alguns de seus aliados compartilharam, seu laudo de morte afirma que ele morreu de causas naturais.

A família do opositor, em especial sua esposa, Iulia Navalnaia, acusam Putin e seu governo de tê-lo assassinado, ainda que não apresentem provas. Eles argumentam que o líder russo temia o poder de influência de Navalni caso fosse libertado em alguma troca de prisioneiros.

O Kremlin, por sua vez, nega envolvimento do Estado na morte do opositor e diz não ter conhecimento de nenhum acordo que buscasse libertá-lo. Ainda nesta sexta-feira, o porta-voz Dmitri Peskov afirmou que o governo russo não tinha nada a dizer à família de Navalni.

Após o serviço religioso em uma igreja que Navalni costumava frequentar em seus tempos vivendo em Moscou, seu corpo será enterrado no cemitério Borisovskoie, também na capital russa.

Seus aliados, que em sua maioria hoje vivem exilados, estão transmitindo informações ao vivo sobre o funeral após alegarem baixa cobertura da mídia ?que, afinal, também é cerceada na Rússia.

Eles também pediram à população que deseja honrar a memória de Navalni mas não pode ir ao funeral que vá até pontos turísticos na noite desta sexta no horário local, tarde no Brasil.

Em ocasiões anteriores, com o ativista ainda vivo, protestos em sua defesa foram marcados por forte presença de agentes de segurança. Autoridades reiteraram que considerariam qualquer ato do tipo como uma manifestação política barrada sob as restritas leis de protesto.

Além da forte presença policial, barreiras de metal foram colocadas nas proximidades da igreja onde a missa por Navalni era realizada. Sua esposa, a economista Iulia, e seus dois filhos estão fora da Rússia. Sua mãe, Liudmila, 69, compareceu ao funeral.

Também estiveram presentes diplomatas internacionais. Entre eles, o embaixador francês na Rússia, Pierre Levy, e a embaixadora americana no país, Lynne Tracy. Eles carregavam buquês de rosas vermelhas.

Grupos de direitos humanos aconselharam aqueles que desejavam comparecer a levar seus passaportes e pequenas garrafas de água e lhes disseram para anotar os contatos de advogados que possam ajudá-los caso sejam detidos ou tenham o sinal de celular cortado.

Navalni condenou a decisão de Putin de enviar dezenas de milhares de tropas para a vizinha Ucrânia, descrevendo a guerra que recém-completou dois anos como uma loucura baseada em mentiras.

Ele era cristão, mas a igreja que sediou seu funeral doou para o Exército russo e anunciou entusiasticamente seu apoio à guerra ?no mais, a postura comum que vem sendo adotada pela Igreja Ortodoxa russa e por seu líder, o patriarca Cirilo.

Ex-advogado, Navalni foi a figura que mais desafiou Putin desde que o líder russo chegou ao poder no final de 1999, organizando protestos de rua e publicando investigações sobre a alegada corrupção de alguns na elite governante.

Mas uma série de acusações criminais por fraude e extremismo, que Navalni disse serem politicamente motivadas, levaram-no a penas de prisão de mais de 30 anos. Ele decidiu retornar à Rússia vindo da Alemanha em 2021, após ser tratado pelo que médicos disseram ser envenenamento, e foi imediatamente detido, ainda no aeroporto.


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