SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Agentes de imigração dos Estados Unidos usaram um cão de guarda contra um imigrante durante abordagem do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) na cidade de Vancouver, próxima de Portland, no estado de Washington. A denúncia foi feita pela senadora democrata Patty Murray. O Departamento de Segurança Interna, que comanda o ICE, não comentou a detenção.
A parlamentar pede a libertação de Wilmer Toledo-Martinez, que vive nos EUA desde os 15 anos de idade. Hoje, ele tem três filhos, de 2, 3 e 7 anos de idade com sua esposa, todos cidadãos americanos. Segundo a senadora, não há acusações criminais contra ele.
Martinez conta que, no dia 14 de novembro, um homem apareceu em sua porta alegando ser trabalhador da construção civil. Ele disse ter batido no carro de Martinez e pediu que ele saísse para ver o estrago.
Quando já estava do lado de fora, o oficial perguntou seu nome, momento no qual o imigrante virou-se para buscar sua carteira de identidade e cartão do seguro dentro de casa. Ao fazer este movimento, um outro agente --que estava escondido, segundo o relato-- soltou o cachorro, que mordeu Martinez várias vezes. O ataque o deixou ferido, como mostram imagens posteriores à investida publicadas senadora Murray.
Em um vídeo, também gravado depois do incidente, a vítima é mostrada algemada no chão com o cão segurado pelo oficial em pé ao seu lado.
A advogada do imigrante afirmou em um programa televisivo que o ICE negou atendimento médico imediato a seu cliente. Somente depois da detenção ele receber os primeiros socorros em um hospital. No vídeo, o agente afirma que o detido seria levado para instalações do ICE, onde receberia cuidados médicos.
Martinez permanece em um centro de processamento do ICE em Tacoma, no estado de Washington, de acordo com a senadora.
"Isso chocaria a consciência de qualquer um", disse Murray em nota na sexta-feira (5). "Eu não quero viver em uma América onde agentes federais podem incitar ataques caninos contra cidadãos pacíficos com impunidade".
O episódio soma-se a uma coleção de relatos da brutalidade de oficiais federais de imigração, multiplicados desde o início do mandato de Donald Trump à frente dos Estados Unidos. Uma das bandeiras da campanha eleitoral do republicano foi a expulsão de imigrantes do território, que frequentemente ele classifica como "bandidos" e "criminosos".
Nos últimos dias, as ações do ICE foram intensificadas por ordem da Casa Branca, em decorrência de um ataque contra dois oficiais da Guarda Nacional em Washington no final de novembro. Um deles foi morto e o outro, ferido.
O homem acusado pelo ataque é um imigrante afegão chamado Rahmanullah Lakanwal, 29, que serviu em uma unidade paramilitar apoiada pela CIA no Afeganistão.
Em 2 de dezembro, Trump suspendeu os pedidos de imigração de 19 países em uma nova política anti-imigrantes. A suspensão se aplica a pessoas do Irã, Sudão, Haiti e outros países banidos por Washington em junho. A lista inclui algumas das nações mais pobres e instáveis do mundo, chamadas pela Casa Branca de nações de 'Terceiro Mundo'. O Brasil não foi incluído, a princípio, na seleção.
"O governo Trump está realizando todos os esforços para garantir que os indivíduos que se tornam cidadãos sejam os melhores entre os melhores. A cidadania é um privilégio, não um direito", disse Matthew Tragesser, porta-voz do Serviço de Cidadania e Imigração dos EUA.
Depois do incidente em Washington, o governo americano prometeu "reexaminar todos os green cards e cidadanias concedidos a estrangeiros de todos os países".
"Devemos tomar todas as medidas necessárias para garantir a expulsão de qualquer estrangeiro de qualquer país que não pertença aqui ou que não traga benefícios para o nosso país. Se eles não conseguem amar o nosso país, não os queremos", disse o presidente republicano.
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, ordenou que diplomatas dos EUA na Europa, Canadá, Austrália e Nova Zelândia pressionem seus respectivos governos anfitriões a restringir a imigração e apresentem relatórios caso os países demonstrem "apoio excessivo aos imigrantes", segundo um documento enviado às embaixadas e consulados da nação norte-americana.
Em outro episódio recente, na sexta-feira (5), o governo Trump deteve cônjuges estrangeiros em entrevistas para obtenção do green card.
O americano Stephen Paul foi com sua esposa britânica e seu bebê de 4 meses a uma dessas entrevistas. Audrey Hestmark, também americana, foi com seu marido alemão, dias antes de seu primeiro aniversário de casamento. Jason Cordero acompanhou sua esposa mexicana.
No final do interrogatório, agentes prenderam os cônjuges estrangeiros e os levaram para centros de detenção. "Tive que tirar nosso bebê dos braços da minha esposa chorando", disse Paul, 33, relembrando o momento em que os agentes disseram que estavam prendendo sua esposa, Katie.