SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta segunda-feira (8) que ataques no Sudão contra uma creche e um hospital mataram ao menos 114 pessoas, entre elas 63 crianças, na semana passada. Outras dezenas ficaram feridas, acrescentou ele.
Os bombardeios ocorreram no último dia 4 no estado de Kordofan do Sul, disse Tedros. As informações têm como base o sistema de monitoramento da OMS para ataques contra estruturas de saúde no país.
O chefe da unidade administrativa de Kalogi, Essam al Din al Sayed, responsabilizou pelas ofensivas as Forças de Apoio Rápido (FAR), grupo paramilitar que trava guerra contra o Exército sudanês desde abril de 2023, e seus aliados do Movimento Popular de Libertação do Sudão-Norte. Segundo ele, os ataques atingiram "primeiro a creche, depois o hospital" e, em seguida, pessoas que tentavam socorrer as vítimas.
Tedros corroborou a versão das autoridades locais e lamentou o que chamou de "ataques insensatos contra civis e infraestruturas sanitárias".
A guerra no Sudão já provocou dezenas de milhares de mortes e o deslocamento de 12 milhões de pessoas, segundo estimativas da ONU. O país enfrenta o que a organização classifica como a pior crise humanitária do mundo. Desde que as FAR tomaram, no fim de outubro, a cidade de El Fasher, último bastião do Exército no oeste do Sudão, o grupo intensificou a ofensiva na região petrolífera de Kordofan.
No mês passado, o gabinete do procurador do Tribunal Penal Internacional alertou que atrocidades cometidas em Al-Fashir podem configurar crimes de guerra e contra a humanidade. Em nota, o escritório afirmou estar "profundamente preocupado" com relatos de assassinatos em massa, estupros e outras violações ocorridas após a tomada da cidade pelo grupo paramilitar FAR.
Al-Fashir, último grande reduto do Exército sudanês na região de Darfur Ocidental, caiu em 26 de outubro, depois de 18 meses de cerco, bombardeios e fome. Segundo as Nações Unidas, mais de 65 mil pessoas fugiram, mas milhares continuam presas na cidade. Antes do ataque final, viviam ali cerca de 260 mil habitantes.
A guerra no Sudão opõe o general Abdel Fatah al-Burhan, comandante do Exército e líder de fato do país desde o golpe de 2021, e o general Mohamed Hamdan Daglo, conhecido como Hemedti, chefe das FAR. A expansão do conflito amplia o colapso humanitário no país, que enfrenta escassez extrema de alimentos, deslocamentos em massa e risco crescente de fome generalizada.