SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dos 67 jornalistas assassinados no mundo neste ano no exercício de suas funções ou em decorrência delas, quase metade (43%) foi morta na Faixa de Gaza por ações das Forças Armadas de Israel, aponta o Balanço de 2025 da organização Repórteres sem Fronteiras (RSF).
A América Latina também aparece como foco de preocupação da entidade de defesa da liberdade de imprensa ?26% (18) dos profissionais de imprensa assassinados estavam em países da região.
O perfil é bastante diferente do de jornalistas mortos no Oriente Médio, afirma Artur Romeu, diretor do escritório da América Latina da RSF. Em vez de vítimas em bombardeios, trata-se de mortes encomendadas. Na maior parte das vezes, são jornalistas locais que investigavam ligações do crime organizado com políticos de cidades no interior e são mortos por assassinos de aluguel, frequentemente quando estão a caminho de casa ou do trabalho. Muitos vinham recebendo ameaças de morte explícitas.
No México, o segundo local mais letal para jornalistas no mundo, foram nove profissionais assassinados pelo crime organizado, o maior número de mortes dos últimos três anos. Houve ainda dois jornalistas assassinados no Peru, dois no Equador, dois no Haiti, um na Colômbia, um em Honduras e um na Guatemala.
No Brasil, 33 profissionais de imprensa foram mortos entre 2010 e 2022. Nos últimos três anos, não houve registro de jornalistas assassinados no exercício de suas funções no país.
De todos os jornalistas assassinados em 2025, apenas dois eram estrangeiros trabalhando em outros países. "Existe essa imagem romantizada de que são os correspondentes de guerra que morrem em conflitos, mas a grande maioria das vítimas é de jornalistas locais investigando corrupção e crime organizado", diz Romeu.
O número de jornalistas mortos no mundo subiu em 2025 pelo terceiro ano consecutivo. Os três locais mais perigosos para jornalistas em 2025 foram a Palestina, com 43% das mortes, México (13%) e Sudão (6%). Os principais autores dos crimes foram o Exército israelense (43% das mortes), cartéis e crime organizado (24%) e o Exército russo (4%).
Desde 7 de outubro de 2023, quando o grupo terrorista Hamas matou mais de 1.200 pessoas e sequestrou 251 em Israel, mais de 70 mil pessoas morreram em Gaza em ataques israelenses, segundo o Ministério da Saúde do território, controlado pela facção. Nesse período, 220 dos mortos eram jornalistas no exercício de sua profissão, segundo a RSF.
Em um episódio condenado pela comunidade internacional, um ataque israelense contra um prédio no complexo médico Al-Nasser ?conhecido por abrigar um espaço de trabalho para jornalistas? matou o fotógrafo Hossam al-Masri, da agência Reuters, em agosto de 2025. A jornalista Mariam Abu Dagga, que colaborava com diversos veículos, entre eles a Associated Press, foi ao local para cobrir as operações de resgate. Oito minutos após o primeiro bombardeio, ela foi morta em um segundo ataque, juntamente com outros dois jornalistas: o freelancer Moaz Abu Taha e Mohamad Salama, fotojornalista da Al Jazeera.
Em 2025, ao menos 503 jornalistas estavam presos em todo o mundo. O país que mais prende profissionais da imprensa é a China, com 121 encarcerados. A jornalista Zhang Zhan é uma delas ?foi condenada a quatro anos de prisão. Foi sua segunda prisão, já tendo cumprido pena em 2020 por cobrir o início da epidemia de Covid-19 em Wuhan. Em seguida vêm a Rússia (49) e Mianmar (47).
Depois de mais de duas décadas da ditadura de Bashar al-Assad, que caiu em dezembro de 2024, a Síria é o país com o maior número de jornalistas desaparecidos (37). Vários repórteres presos ou capturados durante o regime continuam em paradeiro desconhecido.
Além disso, entre 2012 e 2018, dezenas de jornalistas foram sequestrados por grupos jihadistas na Síria e no Iraque. Oito deles ainda estão nas mãos dessas facções na Síria, incluindo o grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que faz parte do novo governo do país.
No México, 28 profissionais da imprensa seguem desaparecidos, e no Iraque, 12 ?o total no mundo é de 135.
No mundo, 20 jornalistas são mantidos como reféns, sendo nove deles no Iêmen, oito na Síria e dois no Mali. Os rebeldes houthis do Iêmen são os principais sequestradores de jornalistas do mundo. Neste ano, eles sequestraram sete jornalistas perto da capital do país, Sanaa ?os profissionais foram retirados de suas casas e levados para centros de detenção.
O exílio forçado de jornalistas é outra consequência da perseguição à imprensa. Eles fogem tanto de países como Afeganistão, Rússia e Belarus, que tradicionalmente reprimem a mídia, quanto de locais que se tornaram particularmente hostis à imprensa em 2025, como El Salvador. O presidente salvadorenho, Nayib Bukele, tem empreendido uma campanha de perseguição judicial, vigilância policial e assédio digital que forçou ao menos 53 jornalistas salvadorenhos a se exilarem em 2025.
"A crítica aos meios de comunicação é legítima e deve ser uma força para garantir a sobrevivência dessa função social, mas sem jamais resvalar para o ódio aos jornalistas", diz Thibaut Bruttin, diretor-geral da RSF. "De testemunhas privilegiadas da história, os jornalistas tornaram-se gradualmente vítimas colaterais, testemunhas inconvenientes, moeda de troca, peões em jogos diplomáticos, homens e mulheres a serem eliminados."