SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Coreia do Sul mobilizou caças nesta terça-feira (9) para interceptar uma patrulha promovida pela Rússia e pela China perto de seu espaço aéreo. O incidente ocorre em meio à elevação das tensões no leste da Ásia, com o crescente estranhamento entre Pequim, aliada de Moscou, e Tóquio, próxima de Seul.
Também nesta terça, o Japão anunciou a abertura de uma unidade de guerra eletrônica na ilha de Yonaguni, o ponto mais próximo de Taiwan ?a ilha autônoma no centro da crise com os chineses.
A patrulha envolveu de 9 a 11 aviões, segundo relatos da mídia sul-coreana, incluindo bombardeiros para ataque nuclear russos Tu-95 e chineses H-6K, com suas respectivas escoltas. É o décimo exercício do tipo desde 2019.
O Ministério da Defesa de Seul disse que o grupo passou cerca de uma hora testando a Adiz (Zona de Identificação de Defesa Aérea, na sigla inglesa) sobre o mar do Japão, a sudeste do país. Trata-se de uma área delimitada de forma arbitrária por nações, às vezes se sobrepondo, antes do espaço aéreo propriamente dito. Nela, aeronaves desconhecidas têm de se identificar sob pena de interceptação.
A pasta não revelou quantos caças usou na operação, nem os modelos empregados. Usualmente, são enviados F-16 americanos para essas missões, ainda que o país tenha à disposição os mais modernos F-35.
O mal-estar no leste começou no mês passado, quando a nova premiê japonesa, Sanae Takaichi, insinuou que poderia intervir militarmente se a China invadisse Taiwan, cuja retomada militar não é descartada pelo líder chinês Xi Jinping.
Depois, o Ministério da Defesa japonês anunciou planos para a instalação de mísseis ofensivos de médio alcance em Yonaguni, ilha que fica a 110 km de Taiwan.
A China protestou, a Rússia anunciou seu apoio ao aliado e até Donald Trump, após uma conversa com Xi, recomendou a Tóquio para que baixasse o tom. O turismo e o comércio entre os países asiáticos já sentem os efeitos da tensão.
Até aqui, o pedido de Trump não foi atendido. No fim de semana, durante um exercício da Marinha chinesa, caças J-15 de Pequim colocaram na mira de seus radares aviões de combate F-15 japoneses que estavam monitorando as manobras.
Em termos militares, a chamada iluminação do alvo é o passo anterior a um disparo. O Japão protestou, dizendo estar à distância, e os chineses se queixaram de intervenção em um exercício de suas forças.
O incidente desta terça se insere nessa tensão. A ocasião mais recente em que houve uma interceptação do tipo foi em novembro de 2024, como desta vez sem nenhuma intercorrência mais grave. Em 2019, caças sul-coreanos chegaram a disparar contra aeronaves russas e chinesas, explicitando o risco de escaladas acidentais.
No contexto regional, os sul-coreanos, apesar de terem uma relação complexa com Tóquio devido ao passado imperialista japonês na península, estão no mesmo time que Takaichi e Trump, dentro da lógica da Guerra Fria 2.0 entre China e EUA.
Para complicar o xadrez, desde o ano passado a Rússia é uma aliada militar da Coreia do Norte, ditadura comunista com armas nucleares e rival de Seul. Diferentemente do que ocorre no pacto estratégico que tem com a China, Putin assinou uma cláusula de defesa mútua com Kim Jong-un.
O primeiro resultado foi o envio de milhares de soldados norte-coreanos para a região russa de Kursk, que a Ucrânia havia invadido em agosto de 2024, tendo permanecido em uma pequena porção até sua expulsão, em maio deste ano.
O tratado Putin-Kim prevê essa assistência apenas em caso defensivo, se os países forem atacados, mas na prática coloca Pyongyang sob o guarda-chuva militar da maior potência nuclear do mundo, o que altera o balanço na região.
Os chineses também são aliados históricos de Kim, mas nos últimos anos haviam focado seu apoio na área econômica. Xi, que convidou Putin e o ditador amigo para um megadesfile militar em Pequim neste ano, parece agoa disposto a recuperar terreno.