SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Instituto Nobel anunciou nesta terça (9) o cancelamento da entrevista coletiva que seria concedida por María Corina Machado, líder da oposição da Venezuela, esta semana. A decisão aumenta as dúvidas sobre se a vencedora do Nobel da Paz deste ano conseguirá viajar ao país europeu para participar da cerimônia em que receberia o prêmio.
María Corina, 58, foi proibida de viajar pelo regime de Nicolás Maduro. Em novembro, o procurador-geral venezuelano disse à agência de notícias AFP que a líder opositora seria considerada foragida caso deixasse o país para receber o prêmio. O paradeiro atual dela não foi revelado pelo instituto.
A entrevista coletiva, inicialmente marcada para as 13h (horário local) desta quarta (10), chegou a ser adiada para um horário indefinido antes de ser oficialmente cancelada. Em comunicado, o Instituto Nobel escreveu que María Corina tem lidado com desafios para conseguir chegar à Noruega. Por isso, a organização disse não poder fornecer informações sobre quando ou como ela participaria da cerimônia.
A entrega do prêmio está marcada para esta quarta no prédio da prefeitura de Oslo com a presença do rei Harald, da rainha Sonja e de pelo menos quatro presidentes latino-americanos, entre os quais o argentino, Javier Milei, e o equatoriano, Daniel Noboa.
María Corina recebeu o Nobel da Paz em 10 de outubro "por seu incansável trabalho em favor dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta por uma transição justa e pacífica da ditadura à democracia" no país, segundo a organização.
A opositora mantém proximidade com setores alinhados ao presidente dos EUA, Donald Trump, que acusam Maduro de envolvimento com organizações criminosas que representariam ameaça direta à segurança nacional americana ?posição questionada por setores da inteligência de Washington.
Ao receber o anúncio da premiação, em outubro, Machado dedicou parte do reconhecimento a Trump. O próprio presidente americano afirmou posteriormente acreditar que ela merecia o prêmio.
María Corina venceu com ampla margem as primárias da oposição para a eleição presidencial de 2024, mas foi impedida de concorrer. Após o pleito contestado, que resultou na declaração oficial da vitória de Maduro, ela entrou na clandestinidade em agosto, quando o regime intensificou as prisões de opositores.
A entrega do Nobel coincide com a mobilização militar dos EUA no Caribe e no Pacífico, onde já morreram mais de 80 pessoas em ataques feitos pelas forças americanas contra embarcações usadas supostamente para o transporte de drogas.
Os EUA dizem que as ofensivas, iniciadas em agosto, fazem parte de operações contra o narcotráfico, mas especialistas questionam a legalidade desses ataques, e Maduro insiste que o objetivo é derrubá-lo e se apoderar das riquezas da Venezuela, rica em petróleo.