BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) - No debate que encerrou a corrida presidencial no Chile na noite desta terça-feira (9), José Antonio Kast deu uma terceira versão para sua proposta para reduzir o número de imigrantes ilegais, enquanto Jeannette Jara buscou colar nele a imagem de alguém que não irá fazer o que promete.
Os candidatos se encontraram pela última vez antes das eleições de domingo (14), quando os chilenos irão definir o sucessor do presidente Gabriel Boric.
Jara foi a mais votada no primeiro turno, mas é Kast quem aparece como favorito nas pesquisas, por aglutinar agora os votos que se dividiram entre diferentes candidatos da direita.
No evento desta noite transmitido pela TV chilena, o ultradireitista suavizou a proposta de expulsar os cerca de 330 mil imigrantes ilegais no país, parte deles da Venezuela, algo que ele defendeu no primeiro turno. Em um debate na última semana, ele disse que iria convidar os imigrantes a deixarem o país até a posse do novo presidente.
"Depois desses 92 dias, quem solicitar um recurso do Estado vai ter de sair", afirmou Kast.
"Já disse que ia expulsar, depois convidar a sair e agora negar benefícios", pontuou a candidata do Partido Comunista. "Quando perguntamos como você vai fazer o que propõe e com que dinheiro, você nunca responde", disse ela.
"Vou fazer as três coisas", rebateu o candidato do Partido Republicano. "Peça ao presidente [Boric] para criar um corredor humanitário até a fronteira. Ele poderia falar com o presidente do Peru."
Ele defendeu que menos ilegais irão ficar no Chile, sem explicar como fará para que os países fronteiriços aceitem a entrada desses estrangeiros.
O opositor, que também havia dito antes que os imigrantes ilegais com filhos chilenos teriam de decidir se deixam seus filhos, nesta noite afirmou que nunca separaria famílias. "O mais provável é que eles levem seus filhos."
A governista propõe registrar os imigrantes ilegais. "A pior coisa que pode acontecer é não sabermos quem está no Chile. Aqueles que não se registrarem serão expulsos."
Questionados se o ditador Nicolás Maduro deveria deixar o poder na Venezuela, no contexto do aumento da pressão dos Estados Unidos, inclusive com maior presença militar no mar do Caribe, ambos responderam que sim.
"É evidente que Nicolás Maduro deve deixar o poder. Não há dúvidas de que o último processo eleitoral foi uma fraude e que a Venezuela se converteu em uma ditadura", disse Jara. Segundo ela, é preciso apoiar as medidas que proponham uma transição no país, mas afirmou que uma eventual anistia a Maduro seria injusta.
"Deve deixar o poder vivo, para que seja julgado e poder pagar com a prisão. Com narcotraficantes e bandidos não se negocia, que liberem [a opositora] María Corina Machado e que ele seja preso, se quiser, em Cuba."
Newsletter Lá Fora Receba no seu email uma seleção semanal com o que de mais importante aconteceu no mundo *** Ao longo da campanha, Kast associou o fluxo de imigrantes irregulares ao aumento dos casos de homicídio e outros crimes no país.
Jara disse que, nos primeiros cem dias de governo, irá buscar criminosos procurados pela Justiça, recuperar imóveis tomados pelo crime organizado. Ela propôs a construção de cinco novas penitenciárias para tentar resolver a questão da superlotação penitenciária.
Kast, que propõe o aumento de penas para condenados por tráfico, disse que há espaço já construído para 3.000 presos de alta periculosidade e que irá endurecer a gestão dos presídios para dar sinais de que o combate ao crime será duro.
Jara afirmou que um eventual governo do adversário poderia indultar condenados por crimes durante a ditadura pinochetista (1973-1990). "Querem tirar das prisões violadores de direitos humanos e indultar ou reduzir a pena de abusadores de crianças", respondeu Jara, ao mencionar uma proposta de um deputado da direita que apoia Kast.
"Não vamos liberar nenhum preso por delitos de narcotráfico, estrangeiros vão cumprir a pena no Chile. A sugestão de reduzir penas veio durante uma discussão no Parlamento, ninguém vai fazer isso", respondeu o ultradireitista.
Em busca dos votos da direita tradicional, Kast recuou de críticas que tinha feito ao governo de Sebastián Piñera (2010-2014 e 2018-2022). "Isso está no passado, tivemos diferenças pontuais e nos unimos a eles contra essa esquerda que queria reformar tudo", afirmou, pontuando que as críticas eram contra a reforma constitucional do Chile.
"A política requer capacidade de diálogo, meu futuro governo vai ter amplo apoio político e também social. Se pensamos que governar é fácil e se faz com frases, sem capacidade de avançar, estamos enganados", disse Jara, ao responder sobre a falta de consenso dentro do Partido Comunista em torno do seu nome.
"Minha representação política é a centro-esquerda chilena", disse a candidata, reforçando que irá renunciar à sua militância no Partido Comunista, caso seja eleita.
Kast também afirmou que iria renunciar de sua militância no Partido Republicano e provocou sua adversária, ao afirmar que ela tenta se afastar do governo de Gabriel Boric, por sua baixa popularidade.