SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ex-presidente da Bolívia Luis Arce, 62, que deixou o cargo no mês passado, foi detido e tem paradeiro desconhecido, disse nesta quarta-feira (10) uma ex-integrante de seu governo. A informação reacende tensões políticas no país, que vive cenário de instabilidade e disputas internas desde que Arce rompeu com Evo Morales, seu antigo padrinho político, ainda durante sua gestão à frente do país.
Maria Nela Prada, ex-ministra da Presidência durante o governo Arce, afirmou que o ex-chefe do Executivo pode ter sido levado para uma prisão fora de La Paz. Em vídeo publicado na plataforma X, ela diz que recebeu relatos sobre o "sequestro totalmente ilegal" do ex-mandatário, embora não tenha detalhado as circunstâncias da detenção.
A imprensa local noticiou que a prisão estaria relacionada a uma investigação sobre o suposto desvio de recursos públicos. As suspeitas dizem respeito ao período em que Arce atuou como ministro da Economia no governo de Evo Morales, cargo que ocupou antes de chegar à Presidência. As autoridades não tinham confirmado a detenção até a tarde desta quarta.
A investigação envolve supostos repasses estatais de um fundo destinado a financiar projetos para comunidades indígenas. Investigadores citados pela imprensa boliviana afirmaram que as provas apresentadas no caso apontam o envolvimento de Arce em irregularidades.
"É claro que ele é inocente", disse a ex-ministra Maria Prada. "Isso foi um total abuso de poder. Esperamos que este caso não esteja sendo usado como pretexto para promover perseguição política."
Arce chegou à Presidência em 2020, apoiado pelo MAS, então partido do ex-presidente Evo Morales (2006-2019). Nos últimos anos, porém, ele travou uma disputa acirrada pelo controle do partido com o ex-padrinho político, o que causou desgastes e ampliou sua impopularidade.
No mês passado, o MAS decidiu expulsar Arce sob a acusação de desvio de verbas. Grover García, presidente da legenda, disse na ocasião que ele desviou fundos do partido sem prestar contas. Segundo ele, que não entrou em detalhes, a expulsão também se baseou em denúncias de corrupção no governo apresentadas à Justiça, e na incapacidade do político de resolver a crise econômica.
A economia boliviana mergulhou em sua pior crise em quatro décadas durante o mandato de Arce, devido à grave escassez de dólares e combustível. Enfraquecido, o economista desistiu de disputar novamente a Presidência.
A impopularidade de Arce foi um dos fatores que levaram o MAS a sofrer uma derrota retumbante nas últimas eleições, e a esquerda a perder o poder depois de 20 anos. Rodrigo Paz, de centro-direita, foi eleito presidente.
Evo Morales, por sua vez, é acusado de corrupção e de estupro de uma adolescente e está foragido da Justiça.