SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em escalada mais grave da crise militar entre os Estados Unidos e a Venezuela até aqui, as Forças Armadas americanas interceptaram um petroleiro em águas próximas à costa do país sul-americano, informou nesta quarta-feira (10) o presidente Donald Trump.

Ainda não se sabe a bandeira do navio cargueiro nem se a interceptação ocorreu em águas territoriais venezuelanas ou internacionais. O país possui as maiores reservas de petróleo do mundo e tem uma economia altamente dependente de exportações dessa commodity.

"Acabamos de tomar um petroleiro na costa da Venezuela -um navio muito grande, o maior já interceptado. Outras coisas também estão acontecendo, vocês verão mais tarde", disse Trump à imprensa, sem entrar em detalhes. A ação amplia o cerco militar de Washington contra o regime de Nicolás Maduro, considerado ilegítimo pelos EUA

Segundo a agência de notícias Reuters, a interceptação teria sido realizada pela Guarda Costeira americana. Apesar da intensa pressão militar contra a Venezuela, essa é a primeira vez que o governo Trump interfere diretamente com a principal fonte de arrecadação do regime de Maduro -suas exportações de petróleo, que têm como destino principalmente a China.

A indústria petrolífera venezuelana está sob sanções econômicas dos EUA há anos, embora algumas companhias americanas tenham permissão para operar no país ao lado da PDVSA, a empresa estatal de petróleo de Caracas. Funcionários do governo Trump disseram ao site Bloomberg que o petroleiro interceptado era alvo de sanções relacionadas a comércio com o Irã, e que o navio havia saído de um porto venezuelano sem se identificar com a bandeira de nenhum país.

Segundo especialistas, um bloqueio dos EUA contra exportações da Venezuela -o que seria um ato de guerra- asfixiaria a economia venezuelana, aumentando ainda mais a pressão pela saída de Maduro. Por outro lado, uma ação como essa poderia aumentar críticas de países latino-americanos, como o Brasil.

O presidente Lula (PT) disse no último dia 3 que pediu a realização de ações conjuntas de combate ao crime organizado com o emprego de inteligência, sem a necessidade do uso de armas, em referência implícita aos ataques americanos no Caribe.

Desde setembro deste ano, as Forças Armadas dos EUA já mataram mais de 80 pessoas em pequenas embarcações que, segundo a Casa Branca, pertenciam a organização criminosas e transportavam drogas destinadas aos EUA. O governo Trump não apresentou provas robustas para sustentar a afirmação.

Ao mesmo tempo, Washington aumentou consideravelmente sua presença militar no Caribe, deslocando para a região caças, milhares de soldados e o maior navio de guerra do mundo, o porta-aviões nuclear USS Gerald Ford. Embora o governo fale em operação contra o tráfico de drogas, a pressão para que Maduro deixe o poder é clara.

Membros da linha dura da Casa Branca, como o secretário de Estado, Marco Rubio, defendem uma intervenção direta com o objetivo de derrubar Maduro no poder. Já outras alas incentivam que Trump aceite a suposta proposta feita por Maduro de dar aos EUA participação significativa na indústria petrolífera da Venezuela.

No último dia 30, Trump confirmou ter conversado por telefone com o venezuelano. O ditador disse mais tarde que a ligação foi cordial e em tom de respeito, mas o cerco militar contra seu regime só cresceu desde então.