SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ao realizar a maior mobilização militar dos Estados Unidos na América Latina em décadas com o objetivo implícito de derrubar a ditadura da Venezuela, o presidente Donald Trump mantém vivo o longo histórico de Washington de intervenções e apoio a golpes nos países do continente.
As interferências são constantes desde que a Guerra Mexicana-Americana, em 1846, provou que a capacidade industrial dos EUA tornara o país mais poderoso que todas as nações recém-independentes da América Latina.
Inicialmente buscando se projetar como poder imperialista aos moldes das potências europeias da época, a natureza das intervenções americanas mudou na Guerra Fria, assumindo roupagem anticomunista. Ela se transformou novamente no fim do século 20, quando justificativas contra o tráfico de drogas começaram a aparecer.
Veja abaixo os principais momentos em que Washington realizou intervenções militares nas Américas.
1846-1848: MÉXICO
Colonos americanos começaram a ocupar o Texas, então território mexicano no início do século, buscando estabelecer ali um novo estado dos EUA. Quando Washington anexou a região, os países entraram em guerra, que foi rapidamente vencida pelo Exército americano. Com o fim do conflito, os EUA forçaram o México a ceder o território que hoje compreende Califórnia, Texas, Novo México, Utah, Nevada e Arizona, além de partes de outros.
1898: CUBA
Durante a guerra Hispano-Americana, Washington buscou conquistar as colônias do Império Espanhol com o objetivo de rivalizar em poder e influência com as grandes potências europeias, que na época expandiam seu domínio na África e na Ásia. Com a vitória dos EUA, Madri cedeu Porto Rico e as Filipinas diretamente a Washington e concedeu independência a Cuba. A ilha foi ocupada por soldados americanos até 1902, e depois entre 1906 e 1909.
1903: COLÔMBIA
Após intervenção dos EUA, a Colômbia é obrigada a ceder o Panamá, que se torna um país independente e permite que o governo americano inicie a construção do Canal do Panamá. A zona portuária ficaria sob controle direto de Washington até 1999.
1912-1933: NICARÁGUA
Com o objetivo de proteger os interesses de empresas americanas que cultivavam frutas no país, em especial a United Fruit Company, os EUA ocuparam a Nicarágua de 1912 a 1933, reprimindo movimentos de resistência de nicaraguenses.
1913-1915: MÉXICO
Durante a Revolução Mexicana, setores liberais e de esquerda da sociedade derrubaram a ditadura de Porfirio Díaz, colocando no poder Francisco Madero. Temendo que o governo nacionalizasse ferrovias e minas de investidores americanos, os EUA organizaram um violento golpe para derrubar Madero do poder que tornou a Cidade do México um campo de batalha por dez dias e inaugurou o regime repressivo do general Victoriano Huerta.
Com o aumento na perseguição de opositores e na violência, Washington se voltou contra Huerta, apoiando os rebeldes liderados por Pancho Villa e ocupando o porto de Veracruz. Quando a coalizão de Villa foi vitoriosa, os EUA mudaram de ideia novamente, perseguindo o líder rebelde por anos no norte do México, sem sucesso.
1915-1934: HAITI
A economia do Haiti passou boa parte do século 19 e início do século 20 devastada pelos pesados pagamentos à França como indenização por sua independência e fim da escravatura. Quando Porto Príncipe se voltou aos Estados Unidos para conseguir investimento e financiamento, Washington decidiu tomar controle do sistema financeiro haitiano, levando a uma ocupação que durou décadas.
Durante o período, soldados americanos reprimiram resistência à ocupação, declararam lei marcial, criaram campos de concentração, instituíram um sistema de trabalho forçado e utilizaram a população haitiana para testar novas armas de guerra, como aviões.
1917-1922: CUBA
Para proteger interesses de americanos que investiram em plantações de açúcar em Cuba, os EUA voltaram a ocupar a ilha caribenha.
1954: GUATEMALA
Já no contexto da Guerra Fria, os EUA apoiaram e a CIA instrumentalizou o golpe que derrubou o presidente democraticamente eleito Jacobo Árenz, inaugurando uma ditadura militar.
1960-1963: EQUADOR
A CIA agiu para derrubar o governo democraticamente eleito do Equador depois que o presidente José Ibarra se recusou a romper com Cuba.
1961: CUBA
EUA tentam derrubar Fidel Castro por meio da famosa e malsucedida invasão da Baía dos Porcos.
1961-1964: GUIANA
A CIA frauda as primeiras eleições da Guiana independente a fim de evitar a chegada ao poder de um presidente de esquerda.
1964: BRASIL
Por meio da operação Brother Sam, EUA deslocam porta-aviões para apoiar o golpe militar no Brasil.
1965: REPÚBLICA DOMINICANA
EUA ocupam a República Dominicana para pôr fim a uma guerra civil que poderia colocar um partido socialista no poder.
1973: CHILE
Com apoio de Washington, o general Augusto Pinochet dá um golpe militar, matando o presidente Salvador Allende.
1976: ARGENTINA
EUA apoiam o golpe que deu início à ditadura na Argentina, uma das mais violentas da América do Sul.
1981-1990: NICARÁGUA
O governo Ronald Reagan financia os Contras, grupos paramilitares que combatiam a Revolução Sandinista na Nicarágua.
1983: GRANADA
EUA invadem a pequena ilha de Granada, no Caribe, para evitar a construção de um aeroporto que poderia ser usado pela União Soviética.
1989: PANAMÁ
Após apoiar o ditador Manuel Noriega, os EUA se voltam contra ele depois de revelações na imprensa americana de sua ligação com o tráfico de drogas. Soldados americanos ocupam o país e destituem Noriega.
2025: VENEZUELA
Donald Trump lidera uma campanha militar a fim de pressionar Maduro a deixar o poder.