SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O primeiro-ministro da Bulgária, Rosen Zheliazkov, apresentou nesta quinta-feira (11) a renúncia de seu governo após semanas de protestos que tomaram as ruas do país contra suas políticas econômicas e a percepção de que ele falhou em enfrentar a corrupção. A medida foi anunciada em cadeia nacional de televisão, minutos antes de o Parlamento votar um pedido de moção de desconfiança.
As manifestações se intensificaram na noite de quarta (10), quando milhares de pessoas foram às ruas da capital, Sófia, e de dezenas de outras cidades. Segundo analistas, os atos refletem um descontentamento crescente com a corrupção e incapacidade de governos consecutivos de enfrentá-la de forma efetiva.
Zheliazkov afirmou que a coalizão governista avaliou "a situação atual e os desafios" antes de optar pela saída. "Nosso desejo é estar à altura do que a sociedade espera", disse. "O poder emana da voz do povo."
A queda ocorre ainda a poucos dias de a Bulgária se juntar à zona do euro, em 1º de janeiro, num dos maiores marcos econômicos da história recente do país. Na semana passada, o governo já havia recuado ao retirar o plano orçamentário para 2026 ?o primeiro elaborado em euros? após críticas.
Partidos de oposição e organizações civis disseram que o projeto buscava aumentar contribuições previdenciárias e impostos sobre dividendos para financiar um gasto estatal maior. O recuo do governo, contudo, não conteve a mobilização popular.
A renúncia amplia a turbulência política em um país que fez sete eleições nacionais nos últimos quatro anos, a mais recente em outubro de 2024, sem conseguir estabilizar a crise diante de divisões.
O presidente Rumen Radev, que já havia pedido a saída do governo, voltou a pressionar nesta quinta. Em mensagem publicada aos parlamentares, afirmou: "Entre a voz do povo e o medo da máfia. Ouçam as praças públicas!"
Com poderes limitados pela Constituição, Radev deverá agora consultar os partidos representados no Parlamento para tentar formar um novo governo. Caso não haja acordo ?cenário considerado o mais provável?, o presidente montará uma administração interina até que novas eleições sejam convocadas.
Zheliazkov é integrante do Gerb (Cidadãos para o Desenvolvimento Europeu), partido pró-europeu de centro-direita, e tomou posse em janeiro. Durante a campanha, disse que as prioridades do seu governo incluiriam a proteção do Estado de Direito e a garantia da adesão da Bulgária à zona euro.
Embora a Bulgária tenha mantido a inflação em níveis baixos por muitos anos, ela disparou em 2021 quando a Rússia cortou os vínculos de gás com o país, e depois em 2022 quando Moscou invadiu a Ucrânia. O país conseguiu reduzir a inflação para próximo da meta da UE de 3% apenas no início do ano passado.