SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma juíza dos Estados Unidos ordenou, nesta quinta-feira (11), a libertação do salvadorenho Kilmar Abrego Garcia enquanto ele aguarda uma segunda deportação -a primeira, feita por engano pelo governo de Donald Trump, virou um símbolo da repressão à imigração do presidente republicano.
O salvadorenho foi detido em março de 2025 por agentes do ICE, o serviço de imigração americano, enquanto dirigia com seu filho no estado de Maryland. Três dias depois, sem aviso prévio, processo legal ou audiência, ele foi deportado para El Salvador -país de onde havia fugido ainda adolescente em decorrência da violência de gangues. A deportação ocorreu apesar de uma ordem judicial vigente que proibia sua remoção do território americano.
O governo posteriormente admitiu que o episódio foi resultado de um erro administrativo, e Garcia foi devolvido aos EUA em junho e ficou preso enquanto aguardava julgamento do caso. Em agosto, chegou a ser libertado apenas para ser detido novamente três dias depois.
Nascido em 1995 em San Salvador, Garcia cresceu em um bairro controlado pela facção Barrio 18, e fugiu para os EUA em 2011, então com 16 anos de idade, após ser ameaçado pelo grupo criminoso. No estado de Maryland, passou a trabalhar com construção civil e iniciou uma nova vida.
Em 2016, conheceu Jennifer Stefania Vasquez Sura, uma cidadã americana com quem se casaria três anos depois. O casal teve um filho, nascido nos EUA, e juntos também criam dois filhos de Jennifer de um relacionamento anterior, ambos com deficiência.
Em 2019, ele foi detido em um estacionamento enquanto buscava trabalho como diarista. Um homem o acusou de ser membro da gangue salvadorenha MS-13, mas a acusação não foi comprovada e ele não chegou a ser indiciado por nenhum crime.
Apesar disso, o governo seguiu com o processo de deportação, baseando-se em argumentos frágeis, como as informações de um policial posteriormente suspenso por má conduta.
Um juiz, no entanto, reconheceu que ele corria risco de vida se retornasse a El Salvador e concedeu a ele o status de "retenção de remoção" --proteção legal que o autorizava a viver e trabalhar nos EUA, ainda que sem direito à residência permanente.
Apesar dessa proteção, a deportação de 2025 ocorreu de forma sumária e sem respaldo jurídico. A defesa de García afirma que ele nunca teve problemas com a Justiça após a concessão do status legal, mantendo apenas os contatos obrigatórios com o ICE.