SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um juiz da Bolívia determinou nesta sexta-feira (12) que o ex-presidente Luis Arce permanecerá em prisão preventiva por cinco meses enquanto o Ministério Público investiga sua suposta participação em um caso de corrupção.
O economista de 62 anos foi detido na quarta-feira (10), pouco mais de um mês após deixar o poder e encerrar uma era de 20 anos de governos de esquerda iniciados pelo líder indígena Evo Morales em 2006. Agora, ele ficará detido no presídio de San Pedro, um centro destinado a presos comuns em La Paz, pelo menos até maio de 2026.
Segundo o Ministério Público boliviano, quando era ministro da Economia de Evo, Arce autorizou transferências de dinheiro público para contas de dirigentes camponeses sob a justificativa de desenvolver iniciativas agrícolas. Os projetos, no entanto, ficaram inacabados.
Os desvios teriam ocorrido por meio do fundo estatal para o desenvolvimento dos povos originários, conhecido como Fondioc, que foi fechado em 2015 devido a irregularidades.
"O senhor Luis Alberto Arce Catacora deverá se defender com uma medida extrema de prisão preventiva (...) pelo período de cinco meses", determinou o juiz Elmer Laura durante a audiência virtual, que durou quase seis horas.
O advogado de Arce pediu ao juiz que seu cliente respondesse ao processo em liberdade, citando a idade avançada e o diagnóstico de câncer linfático do ex-presidente.
O juiz, no entanto, impôs uma medida ainda mais severa que a solicitada pelo Ministério Público, que havia pedido três meses de prisão preventiva. Arce acompanhou a audiência a partir de um escritório em uma unidade policial em La Paz, onde passou as duas últimas noites desde a sua detenção.
"Sou absolutamente inocente das acusações que estão sendo lançadas de forma leviana por motivos claramente políticos", afirmou o ex-presidente. Ele também afirmou ser vítima de "perseguição" do governo de centro-direita de Rodrigo Paz, vencedor das eleições presidenciais de outubro.
Luis Arce chegou à Presidência em 2020, apoiado pelo MAS, então partido de Evo. Nos últimos anos, porém, os dois travaram uma disputa acirrada pelo controle da legenda, o que causou desgastes e ampliou a impopularidade de Arce.
O conflito entre os dois ocupou um lugar central na política da Bolívia nos últimos anos. Por diversas vezes, Evo questionou a capacidade de liderança de Arce. Este, por sua vez, acusou o ex-padrinho político de tentar derrubá-lo, sobretudo após um levante militar que durou algumas horas em 2024 -um episódio ainda turvo que Evo chamou de "tentativa de autogolpe".
No mês passado, o MAS decidiu expulsar Arce sob a acusação de desvio de verbas. Grover García, presidente da legenda, disse na ocasião que ele desviou fundos do partido sem prestar contas. Segundo ele, que não entrou em detalhes, a expulsão também se baseou em denúncias de corrupção no governo apresentadas à Justiça e na incapacidade do político de resolver a crise econômica do país.
A economia boliviana mergulhou em sua pior crise em quatro décadas durante o mandato de Arce, devido à grave escassez de dólares e combustível. Enfraquecido, o economista desistiu de disputar novamente a Presidência.